Para reprimir a má conduta de PMs, a Associação dos Ativos, Inativos e Pensionistas das Polícias Militares (Assinap) lançou recentemente campanha que está gerando polêmica na corporação. Cartazes com imagens ilustrativas de policias algemados diante de suas famílias, ao lado de frases como: “Você quer ser o herói ou a vergonha da sua família?”, estão sendo afixados nos corredores dos quartéis da corporação de todo o estado. Para muitos policiais a campanha parece fazer um pré-julgamento.
“Um longo processo ao longo de décadas levou nossa categoria à miséria e desvalorização tão grande, que muitos profissionais chegaram a situações vulneráveis de corrupção. Achei essa campanha infeliz e incorreta, além de autodestruir nossa imagem”, afirma o presidente da Associação de Praças da Polícia Militar, Vanderlei Ribeiro, acrescentando que antes de qualquer campanha, o PM deveria ser mais valorizado.
Um policial do 12º BPM (Niterói), que pediu para não ser identificado, alerta que a campanha pode ter resultado inverso. Ele teme que ela prejudique também a imagem dos PMs honestos.
“Sou policial há 30 anos e nunca me envolvi em nenhum caso de corrupção. Já conversei com diversos colegas de farda e todos pensam da mesma forma: essa campanha só irá nos afastar ainda mais da sociedade”.
O comandante geral da PM, coronel Erir Ribeiro Costa Filho, discorda que a campanha manche a imagem da corporação. Segundo ele, o fato dela envolver a família do policial é que faz com que se torne ainda mais eficaz. “O cartaz procura sensibilizar, através do seu bem maior que é a família, sobre a importância de se ter uma postura correta nesta e em qualquer outra profissão”, frisa.
O comandante do 12° BPM (Niterói), Wolney Dias, também acredita na eficácia da campanha. Ele lembra que “na década de 1980 o policial corrupto tinha sua farda rasgada por outros PMs, que em seguida viravam-se de costas, enquanto ele saía detido”. “A nova campanha foi bem-vinda e não é tão forte quanto esse episódio da nossa história”, compara.
O comandante interino do 7° BPM (São Gonçalo), Gilberto Tenreiro, ainda ressalta: “Mais fortes do que as imagens dos cartazes são as consequências do desvio de conduta de alguns PMs. Essa é uma campanha preventiva que deve ser apoiada por toda a corporação”.
Recentemente, casos de PMs envolvidos em escândalos de corrupção têm tomado os noticiários. Em setembro do ano passado, o procurador-geral de Justiça do Rio, Cláudio Lopes, anunciou os pedidos de afastamento cautelar de 34 PMs investigados pelos crimes de homicídio e formação de quadrilha na 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, onde atuava a juíza Patrícia Acioli. Ela foi morta a tiros em agosto de 2011 e o crime foi atribuído a policiais.
Em dezembro de 2011, o então comandante do 7º BPM (São Gonçalo), tenente-coronel Djalma Beltrami, foi preso durante uma operação da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG), batizada de Dezembro Negro.
De acordo com a polícia, ele é acusado de corrupção passiva, sendo suspeito de receber dinheiro de traficantes do Morro da Coruja, em São Gonçalo. Na ação, foram presos 11 PMs e sete traficantes. Posto em liberdade por outra decisão judicial, Beltrami voltou a ser preso esta semana, e solto de novo 30 horas depois.
Outdoors pelo estado
De acordo com o presidente da Assinap, Miguel Cordeiro, a campanha para reprimir a má conduta dos policiais militares, que recebeu o apoio do Governo do Estado e da própria Polícia Militar, será prolongada nos próximos meses, através de outras iniciativas.
“A ideia surgiu no final do ano passado após inúmeras notícias de policiais corruptos. No dia três de janeiro o primeiro cartaz foi colocado no Quartel General da Polícia Militar, no centro do Rio de Janeiro. De lá para cá, todos os quartéis estão recebendo os cartazes”, informou.
Segundo ele, o próximo passo será colocar essas imagens em outdoors espalhados pelo estado. “Já no mês que vem; uma propaganda, também falando sobre corrupção policial, será exibida em canais abertos, que ainda não definimos. Palestras sobre boa conduta nos quartéis também estão em nossos planos. Nossa intenção é atingir o policial para que futuramente sua imagem passe mais confiança à população”, adianta, argumentando que “a imagem do cartaz é forte, porém incomoda apenas os profissionais que apresentam desvio de conduta”.
Fonte O FLUMINENSE
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