NÓS FAZEMOS A DIFERENÇA NO MUNDO...

Nós fazemos a diferença no mundo
"Eu sou a minha cidade, e só eu posso mudá-la. Mesmo com o coração sem esperança, mesmo sem saber exatamente como dar o primeiro passo, mesmo achando que um esforço individual não serve para nada, preciso colocar mãos à obra. O caminho irá se mostrar por si mesmo, se eu vencer meus medos e aceitar um fato muito simples: cada um de nós faz uma grande diferença no mundo." (Paulo Coelho)

Na qualidade de Cidadão, afirmamos que deveríamos combater o analfabetismo político, com a mesma veemência que deveria ser combatido o analfabetismo oficioso no Brasil. Pois a politicagem ganha força por colocarmos poder de importantes decisões nas mãos de quem não se importa com o que irá decidir.
Concordo com Bertolt Brecht, quando afirma que: "O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos”. Ele não sabe o custo de vida, nem que o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato, saneamento, mobilidade urbana, e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. “Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce à prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”

domingo, 28 de março de 2010

O Mundo Pós-Americano

Ameaça à superpotência
Em O Mundo Pós-Americano, Fareed Zakaria, editor da revista Newsweek International e observador arguto do panorama contemporâneo, analisa o novo cenário global – em que países como a Índia e a China ganham espaço e ameaçam o monopólio americano. Na obra, o autor mantém-se distante tanto da americano fobia como da americanolatria. .
O mundo sem dono... O modelo americano triunfou, mas os Estados Unidos perdem espaço para países como China e Índia. Fareed Zakaria analisa o novo cenário global
Fareed Zakaria, editor da revista Newsweek International e responsável por uma coluna semanal sobre política estrangeira é, como demonstra seu novo livro, O Mundo Pós-Americano (tradução de Pedro Maia Soares; Companhia das Letras; 312 páginas; 49 reais), um observador arguto do panorama contemporâneo. Ele conta, para tanto, com duas vantagens: a de escrever desde o epicentro do mundo em vias de globalização, os Estados Unidos; e a de ter crescido no que era ainda há pouco uma de suas periferias mais atrasadas, a Índia. A sinergia proporcionada por tal combinação lhe permite acompanhar o presente momento do país seja como um insider seja como um estrangeiro. Mantendo-se equidistante tanto da americano fobia como da americanolatria, seu enraizamento prévio no antigo Terceiro Mundo também o impede de superestimar os demais países. E, se o título do volume sugere uma preferência pelos prognósticos, Zakaria de fato se concentra mais em descrever minuciosamente o cenário de hoje – as linhas de força que prevalecem agora –, esboçando os traços gerais da história que o precede e explica.
Ele começa pelo paradoxo característico dos tempos que correm: como é que, num mundo marcado por guerras, terrorismo e ameaças diversas, o que se tem visto durante as duas últimas décadas é não o colapso da ordem ou um mergulho da maioria das nações na pauperização, mas, sim, populações em número crescente emergindo de miséria ancestral? Afinal, como a China e a própria Índia provam em grande escala, nunca antes a vida material de tantos melhorou de forma tão decisiva em tão pouco tempo. (E, apesar da atual crise, cujos piores efeitos só se revelaram após a publicação de O Mundo Pós-Americano, tais sucessos não parecem reversíveis.) Como isso pôde acontecer? O autor atribui o resultado a dois fatores principais: o abandono, depois da queda da União Soviética, de sistemas inviáveis, seguido da adesão ao livre mercado; e uma relativa (e talvez temporária) independência da economia em relação à política. Seja como for, é à entrada de novos agentes, de bilhões de novos produtores-consumidores, na economia global que, segundo Zakaria, estaria ameaçando o monopólio americano de poder e influência e apontando para uma era pós-americana, na qual a margem de manobra da única superpotência diminuiria diante de rivais encabeçados pela China ou de aliados potenciais, como a Índia. Não se trata, ele nos assegura de triunfo do antiamericanismo, uma das formas assumidas pela antimodernidade. É mais o caso, aliás, de uma adesão às virtudes da civilização americana que vários países vêm imitando, aperfeiçoando e variando com o intuito preciso de competir com sua matriz.
Logo antes de observar que "a proporção de pessoas que vivem com 1 dólar ou menos por dia despencou de 40% em 1981 para 18% em 2004", que "só o crescimento da China tirou mais de 400 milhões de pessoas da pobreza", Zakaria ilustra essa mescla de emulação e competição com o modelo americano através dos seguintes exemplos: "O edifício mais alto do mundo está agora em Taipei e será superado, em breve, por um em construção em Dubai. A maior empresa de capital aberto do mundo é chinesa. O maior avião do mundo está sendo fabricado na Rússia e na Ucrânia, e as maiores fábricas estão todas na China. Londres está se tornando o principal centro financeiro e os Emirados Árabes Unidos abrigam o fundo de investimentos mais bem-dotado. Ícones outrora essencialmente americanos", ele arremata, "foram apropriados por estrangeiros".
Embora o autor abrace perspectivas até certo ponto otimistas, seu enfoque não deixa de ser nuançado e realista. Convém, no entanto, lembrar que, se o livro de Zakaria se beneficia dos conhecimentos de alguém que vem de fora dos Estados Unidos, seu público-alvo, o leitor que ele tem, sobretudo em mente é, ainda assim, o americano. Mais para o bem que para o mal, a obra é menos um estudo desinteressadamente acadêmico do que uma intervenção que ambiciona pesar na política exterior dos Estados Unidos. Vale a pena, assim, situar o autor no amplo espectro do debate de lá. Crítico da administração prestes a deixar o poder, em particular do que, subjazendo à Guerra do Iraque, se convencionou chamar de sua arrogância e unilateralismo, Zakaria tampouco se associa a seus críticos mais radicais. Nem isolacionista nem aliada aos que culpam o país por todos os achaques do planeta, a dele pode ser ouvida como uma voz que, moderada, prega menos a alteração completa de curso do que sua sintonização mais fina e sutil.

Trecho de O Mundo Pós-Americano, de Fareed Zakaria.
Este livro não é sobre o declínio dos Estados Unidos da América, mas sobre a ascensão de todos os outros países. Trata da grande transformação que está ocorrendo em todo o mundo, uma transformação que, embora discutida com muita frequência, continua mal compreendida. Isso é natural. As mudanças, até mesmo a dos mares, acontecem gradualmente. Embora falemos de uma nova era, o mundo parece ser aquele com que estamos familiarizados. Mas, na verdade, está muito diferente.
Houve três mudanças de poder tectônicas nos últimos quinhentos anos, alterações fundamentais na distribuição de poder que reformularam a vida internacional - sua política, sua economia e sua cultura. A primeira foi à ascensão do mundo ocidental, um processo que começou no século XV e se acelerou imensamente no final do século XVIII. Ela produziu a modernidade, tal como a conhecemos: ciência e tecnologia, comércio e capitalismo, as revoluções agrícola e industrial. Produziu também o prolongado domínio político das nações do Ocidente.
A segunda mudança, que aconteceu nos últimos anos do século XIX, foi à ascensão dos Estados Unidos. Logo depois de se industrializar, os Estados Unidos se tornaram a nação mais poderosa desde a Roma imperial, e a única mais forte do que qualquer combinação provável de outras nações. Durante boa parte do último século, os Estados Unidos dominaram a economia, a política, a ciência e a cultura mundiais. Nos últimos vinte anos, esse domínio foi sem rival, um fenômeno inédito na história moderna.
Estamos agora passando pela terceira grande mudança da era moderna. Ela poderia ser chamada de "a ascensão do resto". Ao longo das últimas décadas, países de todo o mundo vêm experimentando taxas de crescimento econômico que eram outrora impensáveis. Embora tenham passado por elevações e quedas, a tendência geral tem sido indiscutivelmente para cima. Esse crescimento tem sido mais visível na Ásia, mas não está mais restrito a ela. Por isso, chamar essa mudança de "ascensão da Ásia" não a descreve corretamente. Em 2006 e 2007, 124 países cresceram a uma taxa de 4% ou mais. Esse número inclui mais de trinta países da África, dois terços do continente. Antoine van Agtmael, o administrador de fundos que cunhou o termo "mercados emergentes", identificou as 25 empresas que serão provavelmente as próximas grandes multinacionais. Sua lista contém quatro companhias do Brasil, México, Coréia do Sul e Taiwan; três da Índia; duas da China e uma de Argentina, Chile, Malásia e África do Sul.
Olhemos em volta. O edifício mais alto do mundo está agora em Taipei e será superado, em breve, por um em construção em Dubai. O homem mais rico do mundo é mexicano e a maior empresa de capital aberto é chinesa. O maior avião do mundo está sendo fabricado na Rússia e na Ucrânia, a maior refinaria está em construção na Índia, e as maiores fábricas estão todas na China. Sob qualquer critério, Londres está se tornando o principal centro financeiro e os Emirados Árabes Unidos abrigam o fundo de investimentos mais bem dotado. Ícones outrora essencialmente americanos foram apropriados por estrangeiros. A maior roda- gigante está em Cingapura. O maior cassino não está em Las Vegas, mas em Macau, que já superou a cidade americana em receita anual de jogo. A maior indústria cinematográfica, em termos de filmes produzidos e ingressos vendidos, é Bollywood, na Índia. Até a maior atividade esportiva americana - comprar em shopping - tornou-se global. Dos dez maiores shoppings do mundo, apenas um está nos Estados Unidos; o maior de todos está em Pequim. Listas como essas são arbitrárias, mas chama a atenção que há somente dez anos os Estados Unidos estavam no topo de muitas dessas categorias, se não da maioria.
Pode parecer estranho centrar-se na prosperidade crescente quando ainda existem centenas de milhões de pessoas vivendo na mais profunda miséria. Mas, na verdade, a proporção de pessoas que vivem com 1 dólar ou menos por dia despencou de 40% em 1981 para 18% em 2004, e estima-se que cairá para 15% em 2015. Só o crescimento da China tirou mais de 400 milhões de pessoas da pobreza. A miséria está diminuindo em países que abrigam 80% da população mundial. Os cinquenta países em que vivem as pessoas mais pobres do mundo são casos gravíssimos que precisam de atenção urgente. Nos outros 142 - que incluem China, Índia, Brasil, Rússia, Indonésia, Turquia, Quênia e África do Sul -, os pobres estão sendo lentamente absorvidos por economias produtivas e crescentes. Pela primeira vez na história, estamos testemunhando um genuíno crescimento global. Isso está criando um sistema internacional em que países de todos os cantos do mundo não são mais objetos ou observadores, mas atores por seus próprios méritos. É o nascimento de uma ordem realmente global.
Um aspecto relacionado dessa nova era é a difusão do poder dos Estados para outros atores. O "resto" que está em ascensão inclui muitos atores que não são nações. Grupos e indivíduos ganharam poder e a hierarquia, a centralização e o controle estão sendo minados. Funções que outrora eram controladas pelos governos são agora compartilhadas com organismos internacionais como a Organização Mundial do Comércio e a União Europeia. Grupos não governamentais proliferam todos os dias ocupando-se de todas as questões em todos os países. Corporações e capitais mudam de lugar em lugar, em busca da melhor localização para fazer negócios, recompensando alguns governos e punindo outros. Terroristas como os da Al Qaeda, cartéis das drogas, insurgentes e milícias de todos os tipos encontram espaço para atuar nos escaninhos do sistema internacional. O poder se afasta dos Estados-nações, para cima, para baixo e para os lados. Nessa atmosfera, as aplicações tradicionais do poder nacional, tanto econômicas quanto militares, tornaram-se menos eficazes.
É provável que o sistema internacional que está surgindo seja bem diferente daqueles que o precederam. Há cem anos, havia uma ordem multipolar comandada por uma coleção de governos europeus, com alianças que mudavam constantemente, rivalidades, erros de cálculo e guerras. Depois veio o duopólio bipolar da Guerra Fria, mais estável em muitos sentidos, mas no qual as superpotências reagiam e exageravam nessa reação a cada movimento da outra. A partir de 1991, vivemos sob um império americano, um mundo unipolar ímpar em que a economia global aberta se expandiu e se acelerou excepcionalmente. Essa expansão está agora impelindo a próxima mudança na natureza da ordem internacional.
Na esfera político-militar, continuamos no mundo de uma única superpotência. Mas, em todas as outras dimensões - industrial, financeira, educacional, social, cultural -, a distribuição do poder está mudando, afastando-se do domínio americano. Isso não significa que estejamos entrando num mundo antiamericano. Mas estamos nos dirigindo para um mundo pós- americano, definido e dirigido a partir de muitos lugares e por muita gente.
Que tipos de oportunidades e desafios representam essas mudanças? O que elas pressagiam para os Estados Unidos e sua posição dominante? Como será essa nova era em termos de guerra e paz, economia e negócios, ideias e cultura?
Em suma, o que significará viver num mundo pós-americano?

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