NÓS FAZEMOS A DIFERENÇA NO MUNDO...

Nós fazemos a diferença no mundo
"Eu sou a minha cidade, e só eu posso mudá-la. Mesmo com o coração sem esperança, mesmo sem saber exatamente como dar o primeiro passo, mesmo achando que um esforço individual não serve para nada, preciso colocar mãos à obra. O caminho irá se mostrar por si mesmo, se eu vencer meus medos e aceitar um fato muito simples: cada um de nós faz uma grande diferença no mundo." (Paulo Coelho)

Na qualidade de Cidadão, afirmamos que deveríamos combater o analfabetismo político, com a mesma veemência que deveria ser combatido o analfabetismo oficioso no Brasil. Pois a politicagem ganha força por colocarmos poder de importantes decisões nas mãos de quem não se importa com o que irá decidir.
Concordo com Bertolt Brecht, quando afirma que: "O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos”. Ele não sabe o custo de vida, nem que o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato, saneamento, mobilidade urbana, e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. “Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce à prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Matérias de CAPA das principais Revistas nacional e respectivos link para outras noticias em 14/02/2011

MAIS LONGE DO PRATO
Os brasileiros já sentiram no bolso o aumento nos preços, fruto da tolerância do governo com a inflação no ano eleitoral. Chegou a hora de pagar essa conta amarga
Veja - 14/02/2011

Sinal amarelo na economia brasileira. O ritmo de reajuste nos preços se acelera desde meados do ano passado. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE, acumula uma alta de 6% nos doze meses encerrados em janeiro, acima do centro da meta oficial do Brasil, de 4,5%. Mas esse indicador é apenas uma média. Como as donas de casa já haviam notado bem antes de muitos economistas, em especial aqueles que batem o ponto no governo, há mercadorias que encareceram muito mais rapidamente. No último ano, o feijão-fradinho foi o produto cujo preço mais subiu, segundo o IBGE: alta de 63%. Os aumentos mais sentidos no bolso dos consumidores, no entanto, foram aqueles nos preços da carne, principalmente nos cortes nobres. O quilo do filé-mignon teve um reajuste de 52%, e o da picanha, de 42%. Os bifes de carne de primeira ficaram mais distantes dos pratos dos brasileiros, sobretudo para aqueles que apenas agora começaram a sentir esse gostinho. Há supermercados e açougues nos quais o quilo desses cortes chegou a 70 reais, o dobro do que se paga pelo bacalhau do Porto.

Para justificar a alta e tranquilizar a população, o governo se ampara na explicação de que esses aumentos de preços são motivados por fatores externos e transitórios. A realidade é um pouco mais complexa e desafiadora. Como o quadro ao lado revela, não são poucos os itens cuja remarcação superou 10% no último ano - alguns deles, indispensáveis na maior parte dos lares. De fato, os preços dos alimentos estão em alta no mundo inteiro. Passada a crise financeira mundial, os países em desenvolvimento voltaram a crescer de maneira acelerada. Os milhares de chineses e indianos que saem da miséria, a cada ano, passam a se alimentar melhor, consomem mais grãos e carne, elevando os preços. No caso especifico da carne, houve ainda a contribuição de fatores como a seca na Austrália e a queda na produção argentina. Mas, segundo os especialistas, o aumento no poder de compra levou o brasileiro a consumir mais carne, principalmente a carne de primeira. Em 1994, quando o real foi lançado, a elevação nas vendas do frango e do iogurte simbolizou a melhora no poder aquisitivo daqueles mais pobres com o fim da inflação.

Agora a emergência social é representada pela picanha, o corte bovino tido como o mais nobre nos churrascos. O aumento da procura bateu no preço. Diz Antonio Comune, economista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe): “A picanha e o filé-mignon são as carnes mais apreciadas pelo brasileiro. Por isso subiram mais nesse cenário econômico favorável e com renda em alta”. Há dois anos, uma nota de 20 reais bastava para comprar uma peça de picanha. Com a mesma cédula, hoje não se compra nem 0,5 quilo. O aumento na demanda está por trás também do aumento de 11% nos restaurantes, da alta de 12% nas tarifas de hotéis, 14% nos bilhetes aéreos e 31 % no ingresso para as partidas de futebol. É uma situação que o brasileiro comum, que vai diariamente ao supermercado e às lojas, já percebeu há alguns meses, mas da qual o governo parece só agora ter se dado conta.

No mercado doméstico, poucas vezes se viu cenário tão propício para o consumo. O desemprego está no menor patamar da história recente, os reajustes salariais obtidos por diferentes categorias profissionais superam a inflação, o que impulsionou a massa de renda disponível. Seriam apenas boas notícias caso a economia brasileira já tivesse capacidade de suportar um ritmo de crescimento tão acelerado - que beirou 8% no último ano. Mas ainda não é o caso, e isso se reflete nos preços. Quando a demanda sobe num ritmo mais acelerado do que a oferta, os produtos saem mais rápido das prateleiras. O corolário desse processo, se não contido, é a remarcação de preços e, por fim, a perda do poder de compra. Historicamente, a alta nos preços é sentida especialmente pelos mais nobres. É o que já começou a ocorrer no Brasil. Em janeiro de 2010, um trabalhador que ganhasse um salário mínimo teria de cumprir uma jornada de 86 horas e 48 minutos para comprar os alimentos que formam a cesta básica. No mês passado, deveria trabalhar quase nove horas a mais. Os oportunistas poderiam ver nesse fenômeno uma justificativa adicional para defender um reajuste ainda maior para o salário mínimo. Estariam embaralhando causas e efeitos. Forçar o reajuste maior dos salários apenas reacenderia a armadilha da indexação, contribuindo para perpetuar a alta nos preços. Explica André Braz, economista da FGV: “O salário mínimo é um custo importante para vários serviços, principalmente os mais básicos, como lavagem de carro e salão de beleza, que pagam esse valor para os seus funcionários. Na medida em que ele cresce acima da inflação, aumentam os custos desse segmento, com repasse para o preço final. Isso vai realimentando todo o processo inflacionário”.

Existem dois instrumentos clássicos, conhecidos e comprovadamente eficientes para quebrar essa espiral ascendente antes que ela saia do controle: aumento na taxa de juros e corte nos gastos públicos. São remédios amargos, que já começam a ser sentidos pelos consumidores. Os juros médios para o crédito pessoal, por exemplo, saltaram de 40%, em dezembro, para 49%, depois que o Banco Central aplicou medidas restritivas ao financiamento. A taxa básica de juros, a Selic, foi elevada para 11,25% e deverá seguir em alta nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária do BC (Copom). Essa elevação encarecerá ainda mais o crédito, esfriando a economia. O governo, depois de ter ampliado os seus gastos em 15% acima da inflação no ano passado, promete retomar a política de austeridade.

Na semana passada, os ministros Guido Mantega, da Fazenda, e Miriam Belchior, do Planejamento, anunciaram um cone de 50 bilhões de reais nas despesas governamentais previstas no orçamento aprovado pelo Congresso. Porém as autoridades não deram detalhes a respeito de como serão feitos esses ajustes.

A dose desses remédios terá de ser ainda mais amarga agora porque o governo demorou a agir. No ano eleitoral, liberou verbas num ritmo nunca visto, comprometendo as metas fiscais e contribuindo para superaquecer a economia. O BC, por sua vez, retardou a alta nos juros, a despeito das evidências de que os preços começam a subir num ritmo ameaçador. “Em vez de o Banco Central matar de vez a cobra, ou melhor, o dragão, no ano passado, deu tempo para que ele se mexesse. Agora será necessário um esforço maior, elevando o custo para a sociedade”, afirma o economista Gustavo Loyola, ex-presidente do BC e sócio da consultoria Tendências. Completa Loyola: “Não podemos tolerar que a inflação fuja do controle num pais como o Brasil, que ainda tem resquícios de indexação. Quanto menor a inflação, menor o custo para mantê-lo em patamar baixo, porque todos os agentes econômicos trabalham com a perspectiva de que ela vai se manter assim e resistem à tentação de reajustar seus preços”. O dilema, no entender do economista José Júlio Senna, da MCM Consultores, é que o governo posterga ajustes mais duros porque busca equilibrar políticas por vezes contraditórias. “O governo trabalha com tantos objetivos sem possuir instrumentos para alcançá-las”, afirma Senna. Em resumo, procura fazer omeletes sem quebrar ovos. Quer controlar a inflação, mas sem subir os juros em demasia nem reduzir drasticamente a gastança pública.

Enquanto vacila na tentativa de alcançar metas irreconciliáveis, a equipe econômica dá chances para que o dragão abra os olhos. Chegou a hora de o governo abrir os olhos, sob pena de o ajuste sair ainda mais caro para os brasileiros.

Quando o dinheiro acaba em cinzas

Entre janeiro de 1980 e junho de 1994, véspera do Plano Real, a inflação acumulada no Brasil, medida pelo IPCA, foi de 10,5 trilhões por cento (ou 10500000000000%). Em 1993, a taxa anual atingiu 2477%. Naquele ambiente, a cada mês a moeda perdia praticamente metade do seu poder de compra. A hiperinflação brasileira foi uma das mais agudas e renitentes de toda a história econômica. O Brasil amenizou o impacto da destruição diária do valor da moeda com o recurso da correção monetária e suas versões mais agressivas, o “overnight” e a “conta remunerada”, que corrigiam o valor dos depósitos à vista nos bancos. Vergada pela impiedosa reparação cobrada pelos aliados que a derrotaram na I Guerra Mundial, a Alemanha enfrentou hiperinflação sem correção monetária. Isso ocorreu no período que precedeu e propiciou a ascensão dos nazistas ao poder. Em 1918, com 3 marcos se comprava 1 dólar americano. Em 1923, cada dólar custava 4,2 trilhões de marcos.

Queimar cédulas de marco na lareira no inverno era mais barato do que usar lenha. A maior hiperinflação, porém, ocorreu na Hungria, no período posterior à II Guerra Mundial. Os húngaros chegaram a carregar nos bolsos cédulas no valor de 100 quintilhões - 100 seguido de dezoito zeros. Em 1946, quando o governo húngaro criou uma nova moeda, o valor total de todo o dinheiro em circulação no país correspondia a um décimo de 1 centavo de dólar. No Zimbábue, país do ditador Roberto Mugabe no sul da África, a inflação anual em 2008 alcançou 231000000%. Um ovo de galinha chegou a ser vendido por 50 bilhões de dólares zimbabuenses. O Zimbábue controlou a hiperinflação ao recorrer à única saída possível a um país arrasado: abdicar das próprias divisas. A economia funciona agora em dólares, euros e rands, moeda da vizinha África do Sul. A inflação caiu para 3% ao ano. Com o real, o Brasil, ao contrário do Zimbábue, passou a valorizar de verdade sua própria moeda. Trata-se de um patrimônio que se espera que governo nenhum volte a pôr em jogo
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O MELHOR MOMENTO PARA ESTUDAR FORA
Harvard verde-amarela
Autores: Claudia Jordão e João Loes
Isto é - 14/02/2011
Mais de 200 mil brasileiros de todas as idades devem deixar o País em busca de educação em escolas estrangeiras este ano. Com o real forte, o caminho está aberto para aspirações de todos os gostos e bolsos.

Grupo de brasileiros na emblemática universidade americana. O paulistano Henrique Flory cursa pós em administração pública. Mariana Simões, de Fortaleza, faz mestrado em ciência e prática da prevenção

Passar uma temporada de estudos no Exterior é o sonho dourado de muitos brasileiros. Independentemente da faixa etária e das aspirações envolvidas. Pais acalentam proporcionar aos filhos adolescentes a oportunidade de cursar parte do ensino médio fora, vivenciando outra cultura e afiando uma segunda língua para o cada vez mais concorrido mercado de trabalho. Jovens recém-chegados à maioridade mergulham em testes, formulários e seleções disputadíssimas para obter a chance de se sentar nos bancos de universidades centenárias. Profissionais estabelecidos dão uma pausa na rotina para aprimorar o currículo em pós-graduações ou MBAs. E pessoas de todas as idades se deliciam com o cardápio de cursos livres que salpicam pelo mundo, numa democracia de datas, durações e temas. Os anseios são muitos, mas, até há pouco tempo, só alguns privilegiados conseguiam realizá-los. Pois bem, isso mudou. Estudar no Exterior deixou o terreno da fantasia distante e passou a ser a doce realidade de muitas pessoas, graças ao real fortalecido em relação às outras moedas, principalmente ao dólar.

EFERVESCÊNCIA
Victor Bicalho se formou em matemática aplicada e economia em Harvard. Na época em que morava no campus, o colega Mark Zuckerberg criou o Facebook

“A moeda forte amplia os horizontes de quem busca o intercâmbio”, diz Samir Zaveri, coordenador da Feira de Intercâmbio e Cursos no Exterior. Hoje em dia, por exemplo, é comum uma família gastar mais para manter um filho estudando numa escola de primeiro time no Brasil do que no Exterior – especialmente se o curso for high school, equivalente ao ensino médio nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo que se investe alto aqui em escolas particulares, transporte, material didático e demais despesas, quem faz high school na América só paga passagem aérea e infraestrutura, pois escritórios especializados encontram colégio e casa para o estrangeiro e assumem a responsabilidade pela papelada necessária. Um ano nos Estados Unidos sai por US$ 7,5 mil, pouco mais de R$ 12,5 mil, fora o transporte aéreo.

Tal cenário fez o número de brasileiros que vão estudar fora subir 15% em um ano. Segundo dados da Feira de Intercâmbio e Cursos no Exterior, em 2010 foram 193 mil. E, em 2011, devemos romper a barreira dos 200 mil. O principal destino continua sendo os Estados Unidos, por conta da relevância do inglês e do número de parcerias firmadas entre instituições nacionais e americanas. De acordo com o relatório anual “Open Doors 2010”, 8.786 brasileiros estão matriculados lá em escolas de ensino superior, cursando graduação, pós ou inglês. O segundo principal destino é a França. O país europeu mantém 631 convênios com universidades brasileiras e recebeu 2,9 mil alunos nos níveis de graduação e pós só no ano passado. ISTOÉ fez um levantamento de tudo o que é necessário saber para aproveitar esse bom momento e programar uma temporada de estudos no Exterior – quanto custa, quando ir, melhores cursos e instituições e a alternativa das bolsas de estudo, entre outras orientações.

DE MALAS PRONTAS
Letícia Gerola vai fazer seis meses de high school no Canadá
O caminho é trabalhoso e cansativo, mas profundamente recompensador. Que o diga o matemático mineiro Victor Bicalho, 27 anos. Ao terminar o ensino médio, ele deixou de lado os livros do vestibular para se candidatar a uma vaga em uma universidade americana, inspirado pelo pai médico, estudante de pós-graduação nos Estados Unidos, e pela lembrança de um curso livre de inglês que fez durante a adolescência na Inglaterra. Excelente aluno, determinado, não só conseguiu uma vaga em uma faculdade americana como alcançou o olimpo: entrou na lendária Harvard, uma das mais conceituadas instituições de ensino do mundo, onde permaneceu de 2002 a 2006. Hoje, formado em economia e matemática aplicada e trabalhando em um escritório de investimentos imobiliários em São Paulo, Bicalho tem a sensação de que a estada em terras estrangeiras o fez crescer como nunca. “Harvard é uma efervescência, lá as coisas acontecem”, diz o mineiro, que presenciou, por exemplo, o nascimento da rede de relacionamentos Facebook, pelas mãos do colega Mark Zuckerberg, em 2004.

MÃO NA MASSA
Marina Marques estagiou em restaurantes italianos com estrelas no “Guia Michelin”. Hoje trabalha com o premiado Alex Atala
Por mais que o real esteja valorizado, estudar no Exterior continua sendo um alto investimento. Por isso, é fundamental escolher muito bem o que fazer e para onde ir. O paulistano Henrique Flory, 42 anos, que faz mestrado em administração pública em Harvard, tem uma tese interessante. Para ele, na hora de decidir por um curso e por uma instituição é preciso avaliar os três “Cs”. Ou seja, quanto a experiência lhe trará em conhecimento, contatos e credibilidade. “Harvard oferece os três ‘Cs’” em profusão”, diz ele, entre uma aula e outra, no campus da universidade, em Cambridge, onde divide a mesma sala de aula com personagens relevantes do cenário mundial como Vasil Sikharulidze, ex-ministro da Defesa da Geórgia, e Violet Gonda, considerada a voz da resistência contra o ditador do Zimbábue, Robert Mugabe.

O aluno que viaja para o Exterior para fazer um curso superior deve, no entanto, estar atento para a revalidação de seu diploma internacional. No caso específico do ensino médio (high ­school), ela é burocrática, porém garantida. Por essas e outras, fazer high school continua sendo uma excelente oportunidade para aprender outra língua e experimentar outra cultura. O paulistano Leonardo Pedro Perrelli Faria, 17 anos, escolheu a Inglaterra e passou dez meses do ano passado na cidade britânica de Worthing. Além do inglês impecável, conquistou autoconfiança e muitas amizades. “Nos feriados e nas férias, eu aproveitava para viajar”, diz ele, que visitou a França, Dinamarca, Suécia, Holanda, Bélgica, Alemanha, Escócia e as Ilhas Canárias. Quando voltou para o Brasil, Faria constatou que tinha melhorado muito em matérias que antes pouco lhe interessavam. “Em história, por exemplo, comecei a tirar nota oito e nove, coisa que nunca tinha acontecido”, diz. Segundo ele, o enfoque e o rigor britânico com a disciplina foram fundamentais para a mudança. “Pretendo cursar parte da faculdade de administração que vou fazer em uma instituição inglesa”, planeja o estudante, confirmando uma tendência apontada por especialistas: quem vai para o Exterior no ensino médio costuma voltar na época do ensino superior.

São histórias assim que empolgam outros brasileiros a arrumar as malas. A paulistana Letícia Gerola, 16 anos, está ansiosa para passar seis meses na Belleville High School, em Toronto, no Canadá. O embarque está previsto para o final de julho e ela deve começar os estudos já em agosto, início do ano letivo no Hemisfério Norte. A jovem será a primeira dos três irmãos da família Gerola a fazer intercâmbio. “Quero ganhar fluência no inglês e ter mais independência”, diz ela, que ficará em uma casa de família canadense. Os pais se dividem entre a felicidade de poder mandar a primogênita para uma experiência tão rica e a antecipação da saudade. “Se o dólar estivesse alto, não poderíamos bancar a viagem”, reconhece a fisioterapeuta Aparecida de Oliveira, que nunca passou mais de 15 dias distante da filha. Nos últimos cinco anos, o Canadá tem atraído cada vez mais estudantes do ensino médio porque, ao contrário dos EUA, permite que os intercambistas escolham em qual escola estudar e com qual família morar.

Outra modalidade que cresce é a graduação parcial, em que o aluno matriculado numa universidade brasileira passa uma temporada de estudos numa instituição estrangeira. Para isso, é bom que as escolas envolvidas tenham algum tipo de acordo – assim os créditos do estudante que viaja são com mais facilidade revalidados na volta. Geralmente, quando o brasileiro deixa sua vaga na universidade nacional em aberto, ela é preenchida por um estrangeiro – do mesmo curso e instituição. “É o que chamamos de intercâmbio real”, diz Anelise Hoffman, coordenadora do núcleo de intercâmbios da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Nesse mercado há duas décadas, a especialista diz que o setor vive um boom desde 2001 e que ainda são poucas as universidades brasileiras com parcerias no Exterior. Mas quem vai não se arrepende. “Foi uma experiência que mudou os rumos da minha vida”, diz o engenheiro paranaense Stephan Hardt, 23 anos. Aos 20, quando fazia engenharia de produção na PUC do Paraná, ele se candidatou a uma vaga para intercâmbio na Universidade St. Mary, em San Antonio, no Texas (EUA). A ideia inicial, de passar seis meses, logo virou uma estada de um ano e meio e garantiu a Hardt o diploma internacional de administração da engenharia, reconhecido no Brasil. Ainda lá, atento às oportunidades, ele garantiu um estágio e posteriormente um emprego na Brenntag, líder mundial em distribuição de derivados químicos. “Tive que trancar a PUC-PR, mas, com o tempo, volto ao Brasil e concluo o curso de engenharia de produção.” Com isso, o paranaense terá dois diplomas, especialização reconhecida em duas áreas e liberdade para escolher se quer continuar trabalhando nos EUA ou voltar para o Brasil.

Mas não são necessárias mudanças tão radicais para desfrutar de uma transformadora experiência estrangeira. Para quem não quer – ou não pode – programar viagens longas, a melhor opção são os cursos livres. Eles são mais despretensiosos, não envolvem esquema burocrático de matrícula nem disputa acirrada por vagas. E, melhor: há sempre uma oportunidade para todas as faixas etárias, níveis acadêmicos e gostos. “O mais popular continua sendo o de idiomas”, explica Samuel Lloyd, coordenador do Student Travel Bureau, uma das maiores organizações internacionais de viagens educacionais. “Mas é possível combinar o país que se quer com o que se pretende estudar”, diz. Em 2010, a cozinheira paulistana Marina Marques, 23 anos, passou seis meses na Itália fazendo gastronomia. “Os quatro meses de prática foram sensacionais”, lembra ela, que trabalhou em dois restaurantes, ambos com estrelas no “Guia Michelin”, o mais rigoroso do mundo. “Esse é o tipo de experiência que faz a diferença na hora de procurar um emprego”, reconhece. Pela empreitada internacional, Marina desembolsou 8,6 mil euros (R$ 19,6 mil). Valeu a pena. Hoje ela trabalha no Dalva e Dito, restaurante do brasileiro Alex Atala, um dos 20 chefs mais influentes do mundo, que também está à frente do badalado D.O.M., em São Paulo.

As oportunidades são tantas e tão boas que é possível viajar e trabalhar – uma maneira de viver a experiência do intercâmbio, aprender uma língua e experimentar uma atividade, sem estourar o orçamento. Em 2009, a psicóloga carioca Andréa Carolina Lima, 23 anos, foi contratada por três meses pela Disney, em Orlando, na Flórida. Lá ela atuou como uma espécie de faz-tudo, realizando tarefas que iam da faxina a guia de turismo, trabalho pelo qual recebia cerca de US$ 200 (R$ 332) semanais. Com o dinheiro, bancou as próprias despesas e ainda conseguiu fazer uma viagem de uma semana para Nova York, antes de voltar para o Brasil. “Morava com outras seis meninas e conheci gente do mundo todo”, lembra ela, que, antes de começar a desempenhar suas funções, fez um curso de imersão na cultura da Disney, uma das empresas de entretenimento mais bem-sucedidas do mundo, que contrata dezenas de estudantes brasileiros anualmente.

Se estudar fora ainda parece difícil – é preciso desembolsar mais de US$ 20 mil (R$ 33,2 mil) para um ano de curso superior nos Estados Unidos, por exemplo –, há muitas oportunidades de bolsas de estudo em escolas de excelência acadêmica, que são oferecidas pelas próprias instituições de ensino nos Estados Unidos e na Europa e por fundações no Brasil e no Exterior. “Se o aluno estrangeiro tiver as credenciais exigidas, é possível estudar em uma universidade da Ivy League (liga das oito universidades americanas de maior prestígio científico), sem colocar a mão no bolso”, diz Andreza Martins, da EducationUSA, escritório do governo americano no Brasil para assuntos de educação. A estudante Mariana Simões, 27 anos, entrou em Harvard graças a uma bolsa da Fundação Lemann e outra da própria universidade. “Estudar aqui era o sonho da minha vida”, diz ela. Para chegar lá, foi preciso foco. Mariana prestou as melhores faculdades do País – é formada em psicologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) –, fez iniciação científica, participou de projetos de pesquisa, foi a congressos, realizou trabalhos voluntários e manteve alto nível acadêmico. Tudo para pavimentar a estrada rumo a Cambridge.

Também há empresas que bancam o curso de seus funcionários. O administrador André Pedriali, 27 anos, faz MBA na Universidade Columbia, em Nova York, há pouco mais de um ano, com o patrocínio da instituição financeira em que trabalha. “Desde que cheguei, já acompanhei palestras do ex-presidente Bill Clinton, do investidor Warren Buffett e do dono da Microsoft, Bill Gates”, conta Pedriali. Aulas de logística com profissionais do alto escalão de empresas como Walmart, Microsoft e Saks Fifth Avenue também são comuns. “Você circula pelos corredores e esbarra com autoridades internacionais das mais variadas áreas”, diz Everton Silva, outro aluno do MBA da Columbia. “E, além de tudo, temos a vantagem de estar em Nova York, onde tudo acontece antes”, lembra Leão Roberto Carvalho, 27 anos. Pago, subsidiado ou remunerado, o intercâmbio vale a pena. Com a influência brasileira em ascensão no mundo, novas parcerias surgem com rapidez e destinos inusitados passam a figurar entre as opções de quem busca uma experiência internacional. Organizar uma viagem desse porte é trabalhoso, mas as recompensas são incalculáveis. Já escolheu o seu destino?
Colaborou Patrícia Diguê
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OS NOVOS MAGNATAS DO PETRÓLEO
Conheça as estratégias de empresários como Antônio Augusto de Queiroz Galvão, Márcio Rocha Mello e Eike Batista para sair na frente na corrida pela exploração das reservas bilionárias na América Latina e África
Autor(es): Tatiana Bautzer
Isto é Dinheiro - 14/02/2011


Na manhã gelada de 24 de janeiro em Nova York, o bilionário brasileiro Eike Batista fez uma provocação ao encontrar Márcio Rocha Mello, dono da HRT Participações e seu concorrente na área de petróleo, no hall do luxuoso hotel New York Palace.
– Você precisa produzir aquele óleo que você prometeu, né, Márcio? – disse o irreverente Batista.
– Vou produzir antes de você, Eike – respondeu Mello.
– Não acredito – replicou o dono da OGX.

Ambos estavam nos Estados Unidos para atrair investidores para seus negócios com o ouro negro, a nova fronteira de riqueza do Brasil no século XXI. A pressão sobre os dois e suas empresas bilionárias no mercado para começar a entregar o petróleo prometido aumentou na semana passada com a estreia de uma nova concorrente na bolsa de valores, a Queiroz Galvão Exploração e Produção (QGEP).

A companhia, baseada no Rio de Janeiro, captou R$ 1,5 bilhão em seu IPO (oferta pública inicial) e chegou ao mercado já como a quarta maior produtora do País, atrás apenas da Petrobras e das multinacionais Shell e Chevron.

A empresa detém 45% do campo de Manati, na bacia de Camamu, no litoral da Bahia, que produz 50 mil barris de óleo equivalente por dia e participa de oito blocos exploratórios, incluindo reservatórios no pré-sal, nas Bacias de Santos e Jequitinhonha.

Com a chegada da QGEP à bolsa valendo quase R$ 5 bilhões, as três petroleiras privadas brasileiras já atingem capitalização de mercado de nada menos de R$ 70 bilhões.

Em outras palavras: as novatas empresas dos magnatas do petróleo brasileiro, Eike Batista, Márcio Mello e família Queiroz Galvão já correspondem a 20% da gigantesca Petrobras, criada há mais de meio século.

E mais: esse clube de empresários poderosos só tende a crescer nos próximos dez anos, com os investimentos previstos em US$ 600 bilhões para o setor petrolífero no período.

Novatas, mas não exatamente inexperientes. “Nossa experiência no setor antecede em muito a criação da companhia. Prestamos serviços há 30 anos para a cadeia de óleo e gás e estamos na exploração há quinze”, disse o presidente da QGEP, Antônio Augusto de Queiroz Galvão, na cerimônia que marcou a estreia de suas ações, realizada na Bovespa, no centro velho da capital paulista, na última quarta-feira, 9.

O grupo Queiroz Galvão, dono da quarta maior construtora do País e com atuação em setores como rodovias, energia, siderurgia e agronegócio, foi fundado em 1953, em Recife.

Hoje, tem cerca de 30 mil empregados e fatura mais de R$ 7 bilhões por ano. Com sua nova aposta, tende a crescer ainda mais. “Um grupo empresarial que conhece o Brasil há tanto tempo não poderia ficar de fora deste momento tão promissor da indústria de óleo e gás, notadamente a descoberta do pré-sal”, afirmou o empresário.

Nos documentos entregues aos investidores, a QGEP informa que usará o dinheiro arrecadado no IPO para a compra de participações em blocos de exploração nas bacias de Campos, Santos e Espírito Santo.

Embora a cotação do barril de petróleo esteja acima de US$ 100, a Queiroz Galvão captou menos do que os R$ 1,8 bilhão inicialmente previstos, em decorrência do nervosismo do mercado internacional diante da crise no Egito. Nesse ambiente, captar R$ 1,5 bilhão já é um sucesso.

A QGEP é pequena em reservas, comparada às concorrentes: tem 345 milhões de barris de óleo equivalente em recursos riscados (ajustados pela probabilidade de sucesso), enquanto a OGX tem reservas estimadas em 6,7 bilhões de barris e a HRT, em cerca de 1,5 bilhão.

As reservas da Petrobras somam cerca de 15 bilhões, mas esse número poderá dobrar quando forem incorporadas as gigantescas reservas da camada pré-sal. Extrair todo esse óleo e comercializá-lo é tarefa para gigantes.

No melhor estilo da elite das empreiteiras, os donos da Queiroz Galvão falam pouco. Antônio Augusto, presidente do conselho de administração do grupo, é filho do patriarca Antônio Queiroz Galvão, que fundou a empresa com os irmãos Mário, João e Dario.

Engenheiro formado pela Universidade Federal de Pernambuco, tem cursos de especialização em petróleo no Texas e na Louisiana, nos Estados Unidos. É chamado pelo presidente da QGEP, José Augusto Fernandes, de “grande chefe e líder”. A estreia na bolsa reforçou seu estilo low profile.

Quando a HRT captou R$ 2,6 bilhões em sua oferta de ações, em novembro do ano passado, Marcio Mello levou passistas e músicos da escola de samba Beija Flor ao pregão da Bovespa.

Nada mais distante da discretíssima cerimônia da Queiroz Galvão: Antônio Augusto chorou ao agradecer aos pais e à esposa, que estavam presentes. A trilha musical estava a cargo de um singelo grupo de chorinho. “Eles são muito mais contidos nas apresentações aos investidores”, diz um dos assessores financeiros do empresário.

Monossilábico, Antonio Augusto não concorda em ser chamado de novo magnata do petróleo brasileiro e economiza até a palavra “não” ao ser questionado pela DINHEIRO sobre seu novo status – apenas faz um meneio com a cabeça. Gentil, não dá entrevista, mas concorda em posar para as fotos desta reportagem.

Lidar com as demandas de uma empresa de capital aberto será um dos principais desafios para o grupo, que tem uma cultura conservadora, mesmo para os fechados padrões das grandes construtoras.

Enquanto a OGX e, principalmente, a HRT se colocam como concorrentes da Petrobras, a Queiroz Galvão diz que uma de suas maiores vantagens competitivas é seu “bom relacionamento com a Petrobras”. No entanto, alguns analistas consideram que essa proximidade é, na verdade, um problema, porque torna a QGEP mais dependente da estatal.

Ao menos protocolarmente, a chegada da QGEP foi bem recebida pela concorrência. “Acho ótimo ter concorrentes na bolsa. O mercado é agressivo e punitivo e, assim como cobra resultados da gente, vai cobrar deles também”, disse o magnata por excelência Eike Batista, em entrevista à DINHEIRO na quinta-feira, 10.

Numa teleconferência na véspera – não por acaso o mesmo dia da estreia da Queiroz Galvão na Bovespa – Batista anunciou que a OGX começa a produzir petróleo em agosto, num poço de alta produtividade em águas rasas da Bacia de Campos.

“Nós passamos no nosso teste de São Tomé”, afirmou, referindo-se ao anúncio de que o poço Waimea Horizontal tem vazão de 40 mil barris de petróleo por dia, um dos mais altos índices de produtividade da Bacia de Campos.

O custo de extração do barril é baixíssimo, de US$ 8, porque o poço fica em águas rasas – um motivo e tanto para comemorações. “Hellooo!! Teremos uma margem altíssima e no ano que vem a geração de caixa será de US$ 1 bilhão”, afirmou Batista, rebatendo as críticas mais comuns do mercado às suas empresas: de que elas não geram caixa. Por enquanto, a OGX está no vermelho. O prejuízo foi de R$ 84,7 milhões nos primeiros nove meses do ano passado.

Sempre otimista, o empresário continua com grandes planos. A OGX deve ser listada em Londres até o segundo semestre do ano, para permitir o ingresso de investimentos de fundos de pensão estrangeiros que hoje não podem comprar os papéis da empresa.

A empresa já chegou a valer mais de R$ 70 bilhões na bolsa, mas recuou para R$ 57 bilhões em meados de fevereiro. Só neste ano, os papéis recuaram 10%, refletindo a decepção com o fato de Batista não ter concluído a venda de participações em seus poços de petróleo a investidores estratégicos, o que estava previsto para o fim do ano passado.

Batista diz que continua negociando com muitos grupos, mas não tem data para fechar negócio. Ele credita a perda de valor de mercado a “rumores” que envolveriam sua saúde e uma eventual debandada de executivos do grupo. Isso ocorreu depois da demissão do presidente da OGX, Rodolfo Landim, em 2009.

Rocha Mello, que desafiou Batista em Nova York, tem sido mais precavido e, desde que a HRT abriu capital, em novembro passado, tenta mostrar que o início da produção de petróleo está próxima.

“No plano de negócios prometemos produção só em 2012, mas estamos antecipando para este ano”, disse Rocha Mello à DINHEIRO. A HRT prevê chegar ao fim do ano com produção entre 500 e 5 mil barris diários, em cinco poços na bacia do Solimões, na Amazônia.

O modelo de negócios da HRT é autônomo: a empresa faz questão de ser a operadora dos campos e por isso não deve disputar o pré-sal brasileiro, que será operado exclusivamente pela Petrobras.

“Com o conhecimento e a operação, você tem controle do seu destino”, afirma Rocha Mello. Além da participação de 51% em 21 poços da bacia do Solimões, a HRT controla outros cinco na Namíbia.

“Somos focados na Bacia do Solimões e na África. Queremos disputar as próximas rodadas da Agência Nacional do Petróleo (ANP) fora do pré-sal, e crescer na Namíbia, Congo e Angola”. Ele também pretende listar sua companhia em bolsas do Exterior, começando pelo Canadá em 2012.

Exímio vendedor, Rocha Mello é um geólogo formado numa carreira de 24 anos na Petrobras, onde recebeu o apelido de Mr. Go Deeper por ter escrito artigos científicos já no ano 2000 apontando a possibilidade de depósitos abaixo da camada de sal.

Foi o fundador do primeiro laboratório de geoquímica da estatal. Segundo ele, o investimento na África faz todo sentido. “Os continentes são análogos, é possível encontrar reservas de pré-sal na Namíbia e em Angola”, afirma. Há quem veja com cautela essa opção. Rocha Mello rebate as críticas. “A Namíbia é uma das democracias mais estáveis da África.”

A modéstia, aliás, não é seu forte: Rocha Mello costuma dizer, escandindo todas as sílabas, que sua empresa será a maior companhia independente do mundo e que já no ano que vem terá valor de mercado de R$ 30 bilhões. E compara seu estilo de administração ao do fundador da Apple, Steve Jobs.

“Eu me meto em tudo aqui na companhia, mas de uma maneira produtiva e não destrutiva.” Até agora, tem conseguido convencer o mercado. A HRT é a única empresa do setor a subir na bolsa neste ano: 4,5%.

Mas tanta euforia em torno do petróleo não será passageira, tendo em vista os investimentos crescentes em energia renovável e as limitações de emissões negociadas internacionalmente? Especialistas e a Agência Internacional de Energia (AIE) afirmam que não.

“A participação do petróleo na matriz energética mundial deverá continuar elevada por muito tempo, assim como os preços”, afirma o analista de petróleo da consultoria Tendências, Walter de Vito.

Em seu último relatório, a AIE prevê que a era do petróleo barato acabou. Em 2035, prevê, o preço do barril de petróleo deverá oscilar entre US$ 90 e US$ 140, dependendo das políticas adotadas contra a emissão de carbono.

São esses dados que entusiasmam os investidores. A próxima onda de empresas que devem vender ações na bolsa é a de prestadoras de serviços para a cadeia de óleo e gás. Uma delas é a Petroserv, que atua em equipamentos e distribuição de petróleo.

A Odebrecht Óleo e Gás, braço do grupo Odebrecht no setor, chegou a avaliar a venda de ações na bolsa, mas desistiu depois de receber US$ 400 milhões do fundo soberano Temasek, de Cingapura.

Nos EUA, as companhias de serviços representam 35% da capitalização no setor petrolífero. Na Noruega, 80%. Aqui, menos de 5%. Se depender das novas apostas dos magnatas do petróleo, o cenário promissor vai se concretizar.
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O NOVO DILEMA NO COMBATE AO CÂNCER
As drogas que atacam os tumores podem comprometer a saúde do coração. Como evitar que os doentes morram de infarto
Autora: Cristiane Segatto
Época - 14/02/2011

O câncer é traiçoeiro e exige vigilância. Não há, no horizonte, sinal de que um dia surja a cura universal. Ainda assim, o avanço do conhecimento sobre a biologia dos tumores e a criação de drogas poderosas deslocaram várias formas de câncer para o rol das doenças crônicas. Em vez de matar em poucos meses, a maioria dos tumores pode ser vencida ou controlada por longos períodos. Desde, é claro, que o doente tenha acesso a diagnóstico precoce e a tratamento de qualidade. Em muitos casos, no entanto, a sobrevivência cobra um alto preço. As drogas contra o câncer podem provocar danos cardiológicos tão graves quanto à própria doença. Um novo dilema se coloca diante dos médicos: vencer o câncer ou proteger o coração?

Os efeitos indesejados da quimioterapia, da radioterapia ou da cirurgia podem aparecer imediatamente ou anos depois do tratamento. Um dos mais sérios é o comprometimento cardíaco. “Ou cuidamos direitinho do coração do doente de câncer ou o tratamento não adianta nada. Ele deixa de morrer de câncer para morrer do coração”, diz o cardiologista Roberto Kalil Filho, do Instituto do Coração (InCor) e do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

Famoso por cuidar da saúde dos figurões da República (presidenta Dilma, Lula, José Serra, José Alencar...), Kalil diz viver esse dilema diariamente. Para tentar amenizar o problema, que se tornou uma das grandes preocupações atuais da medicina, ele liderou a criação do primeiro consenso nacional de cardio-oncologia. Os mais influentes médicos das duas especialidades se reuniram para avaliar, com base em evidências científicas, como as drogas oncológicas podem prejudicar o coração. Chegaram a uma diretriz que será adotada em todo o Brasil. ÉPOCA publica com exclusividade as principais conclusões dos especialistas.

Os efeitos indesejados da quimioterapia podem aparecer imediatamente ou anos depois do tratamento

O consenso deverá ser divulgado nas próximas semanas. Ele vai se transformar num livro que será distribuído aos 14 mil membros da Sociedade Brasileira de Cardiologia e aos 1.500 filiados à Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica. As entidades vão pedir ao Ministério da Saúde que as diretrizes sejam adotadas em todas as unidades do SUS. O objetivo é ajustar a dose do quimioterápico, escolher a melhor opção e apontar de que forma deve ser feito o acompanhamento cardiológico do paciente. “As diretrizes brasileiras serão as primeiras publicadas no mundo no campo da cardio-oncologia”, diz Jean-Bernard Durand, cardiologista do MD Anderson Cancer Center, um dos principais centros americanos de tratamento do câncer. “Estamos tentando fazer o mesmo nos Estados Unidos, mas ainda não conseguimos chegar a um consenso porque há diferentes grupos trabalhando nisso. O Brasil fez muito bem em criar um único grupo para analisar todas as evidências científicas disponíveis”, afirma.

Segundo Kalil, cardiologistas e oncologistas vivem batendo cabeça porque não falam a mesma língua. “Todo dia minha equipe é chamada na oncologia do Sírio-Libanês porque algum paciente infartou ou teve algum comprometimento cardíaco por causa do tratamento do câncer.” Um deles foi o ex-vice-presidente José Alencar. Em novembro, ele se internou para mais um ciclo de quimioterapia contra o sarcoma na região abdominal. Como vários esquemas de quimioterapia falharam, o oncologista Paulo Hoff decidiu adotar a droga oral Glivec. Do ponto de vista oncológico, o tratamento foi razoavelmente bem-sucedido: o tamanho dos tumores diminuiu. Do ponto de vista cardiológico, não. Alencar infartou.

Os médicos protagonizaram uma cena de cinema. Ao ver que o paciente suava frio e tinha a pressão muito baixa, Hoff percebeu que ele estava infartando. Ligou imediatamente para Kalil. Embora Alencar tivesse dois stents (dispositivos metálicos para desobstruir as artérias) no coração, apresentava boa condição cardíaca. Kalil não tinha nenhuma razão para suspeitar que ele pudesse infartar. Mesmo assim, correu até o apartamento 1.106. Quando percebeu a gravidade da situação, ele e Hoff voaram pelos corredores do hospital, empurrando a maca em direção à UTI. Os seguranças tentaram deter os médicos que pareciam querer sequestrar o paciente. Em janeiro, dois meses depois do susto, Alencar se divertia com a história. “O Kalil e o Paulo arrancaram a minha cama, derrubaram uma mesa cheia de garrafas e me enfiaram no elevador”, disse a ÉPOCA. “Aquilo poderia ter sido grave, mas eu não sabia. Não tinha noção. Estava tranquilo.” Socorrido a tempo, verificou-se que ele não tinha obstruções importantes.

Os médicos atribuem o infarto ao tratamento do câncer. “Sem o Glivec, ele não teria infartado”, diz Hoff. Alencar continuou o tratamento com o mesmo remédio, mas passou a tomar também uma droga para prevenir vasoespasmos (redução do calibre dos vasos que compromete a passagem adequada de sangue). O caso de Alencar é exemplar. Se até um paciente cercado de cuidados extraordinários e tratado pelos mais renomados especialistas sofreu as consequências do conflito entre a oncologia e a cardiologia, o que não pode acontecer à maioria?

“A incidência de complicações cardiovasculares provocadas pelo tratamento do câncer não é baixa. Pode afetar de 10% a 35% dos pacientes”, diz Durand. Foi o que aconteceu com a professora Marli de Andrade Nascimento Lago, de 52 anos. Ela descobriu um tumor de 6 centímetros na mama direita em 2009. Passou por cirurgia e 28 sessões de radioterapia. Fez quimioterapia com doxorrubicina, uma das drogas mais usadas em casos como o dela. O remédio faz parte da família dos antracíclicos.

Segundo alguns estudos, as drogas desse grupo podem provocar insuficiência cardíaca (incapacidade de bombear o sangue adequadamente) em até 26% dos pacientes. Em dezembro passado, Marli sentiu falta de ar e foi levada ao hospital. “A cardiologista disse que a quimioterapia lesou meu coração e agora vou ter de tomar remédios e cuidar dele para sempre”, afirma. “Estava tão animada porque havia superado a quimioterapia. Não sabia que isso poderia acontecer.” Com a divulgação do consenso, espera-se que danos desse tipo sejam reduzidos.

A maioria dos pacientes se cura do câncer sem dano cardíaco, mas a parcela que tem problemas é grande “A importância do consenso é que agora até os oncologistas que trabalham numa cidade sem recursos terão uma fonte confiável para saber de que forma devem acompanhar o coração do paciente, que exames pedir e durante quanto tempo”, diz Hoff. O que os médicos pretendem com o consenso é que todo paciente seja avaliado por um cardiologista antes, durante e depois do tratamento. E também tenha acesso aos exames que, ao longo do tratamento quimioterápico, podem apontar se a droga está prejudicando o coração.

Apesar das boas intenções, é difícil acreditar que o consenso seja aplicável a todas as unidades do SUS. “O papel das entidades médicas é divulgar o que a ciência sabe e despertar cada médico para que brigue para ter o necessário no SUS”, diz Jadelson Andrade, presidente eleito da Sociedade Brasileira de Cardiologia. O básico do básico é fazer uma avaliação cardiológica do paciente antes do início do tratamento. “Algumas drogas são tão tóxicas que se o doente já tiver algum problema cardíaco é melhor nem usá-las”, diz Enaldo Melo de Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.

A maioria dos pacientes se cura do câncer sem sofrer nenhum dano no coração, mas a parcela que tem problemas é grande. “Num país como o Brasil, que tem 500 mil casos de câncer por ano, muita gente pode estar sob risco”, diz Hoff, que também é diretor-geral do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).

Como em toda nova área, muitas questões ainda precisam ser respondidas: qual é a real incidência do problema no Brasil? Quais são os mecanismos que explicam de que forma as drogas contra o câncer agridem o coração? A partir de que dose, ou de que tempo de uso, os danos começam a ocorrer? Para tentar responder a essas questões, começará no Icesp, ainda neste ano, um estudo com 1.500 pacientes de câncer de mama e câncer de cólon. A condição cardiológica deles será acompanhada detalhadamente. É a nova linha de pesquisa da equipe de Kalil.

“A maioria dos pacientes tem câncer numa idade avançada, quando já tem outros fatores de risco cardíaco inerentes à idade”, diz a cardiologista Ludhmila Abrahão Hajjar, coordenadora da UTI cirúrgica do InCor e da UTI do Icesp. Nesse caso, os cuidados devem ser redobrados.O comerciante aposentado Almedro Ferreira de Souza, de 68 anos, chegou aos 65 com um coração invejável. Nada de hipertensão, diabetes, problemas nas artérias, colesterol ou triglicérides elevados. “O cardiologista dizia que eu ia morrer de qualquer coisa, menos do coração”, afirma.

Há três anos, ele descobriu um tumor e precisou extrair o rim esquerdo. Logo depois, recebeu o diagnóstico de câncer de intestino. Um pedaço do órgão foi retirado. Para prevenir a volta do câncer, Almedro deveria passar por 12 sessões de quimioterapia na Santa Casa de Belo Horizonte. Na sexta sessão, começou a passar mal no exato momento em que a droga Folfox 6 era aplicada. Foi socorrido pelo oncologista e pelo cardiologista. “O mal-estar é incalculável. Não senti só falta de ar. Senti falta de tudo. Achei que já estava no céu.” O objetivo do consenso é permitir que pacientes como Almedro vivam mais (e melhor). Com os dois pés no chão.
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