Veja títulos dos tópicos abaixo:
Alta de alimentos e boa safra fazem preço da terra disparar
Brasil atrapalha no Oriente Médio, diz relatório dos EUA
Culpa das commodities?
Infraestrutura ruim é entrave à indústria leiteira
Meritocracia e apagão
Risco trator
Rivais, Serra e Ciro enfrentam ostracismo
Alta de alimentos e boa safra fazem preço da terra disparar
Brasil atrapalha no Oriente Médio, diz relatório dos EUA
Culpa das commodities?
Infraestrutura ruim é entrave à indústria leiteira
Meritocracia e apagão
Risco trator
Rivais, Serra e Ciro enfrentam ostracismo
Alta de alimentos e boa safra fazem preço da terra disparar
Valor médio fechou 2010 com a maior aceleração anual desde 2008 e chegou a dobrar em algumas regiões
Texto de Márcia De Chiara, de O Estado de S. Paulo
De carona não só no boom dos preços dos alimentos, que atingiram em janeiro as maiores cotações em 21 anos no mundo, o valor das terras no Brasil disparou. No fim de 2010, o preço médio da terra alcançou níveis recordes e a maior valorização anual desde 2008, revela pesquisa Informa Economics / FNP, obtida com exclusividade pelo Estado.
No Sudeste, Nordeste e Norte, o preço do hectare chegou a dobrar em algumas regiões entre janeiro e dezembro de 2010. Em áreas do Sul do País, houve alta de até 92,3% no mesmo período, como nas terras de pastagens de Cerro Azul (PR). A maior variação ocorreu em Aripuanã (MT), no Centro-Oeste. Lá a cotação do hectare de mata de difícil acesso, destinada a reserva florestal, subiu 105,6%, de R$ 170 para R$ 350 por hectare.
Terras mais caras
Mas as terras mais valiosas do País estão no Sul e Sudeste, regiões dotadas de melhor infraestrutura. Quem liderou o ranking das terras mais caras em 2010 foram as várzeas para arroz em Rio do Sul (SC). O hectare fechou o ano valendo R$ 43 mil, alta de 23% em 12 meses. Na sequência, estão Ribeirão Preto e Sertãozinho (SP), onde um hectare custava em dezembro de 2010 R$ 24 mil, com alta de 20% em um ano.
O levantamento, que mapeou os preços à vista de negócios fechados em 133 microrregiões do Brasil, mostra que o movimento de alta de preços das terras em 2010 foi generalizado: de áreas de mata e pastagem às terras roxas para café, cana e grãos.
Na média do País, o preço de um hectare atingiu no último bimestre de 2010 R$ 5.017, com alta de 9,1% em relação a janeiro de 2010, índice que é quase o dobro do registrado em 2009 (5%). Descontada a inflação oficial de 2010, de 5,91%, o aumento real do preço da terra foi de 3,2%.
"Todos os segmentos do agronegócio estão bons", afirma a agrônoma Jacqueline Bierhals, gerente da consultoria e responsável pela pesquisa. Ela observa que a valorização das terras foi desencadeada pela explosão dos preços agropecuários, mas houve outros ingredientes que potencializaram a alta.
Com mais dinheiro no bolso, em razão dos resultados positivos das últimas safras, os produtores de médio e pequeno portes voltaram a investir, expandindo as áreas de produção e impulsionando os preços das terras. "Hoje o produtor não tem mais necessidade de pôr o imóvel à venda para pagar os funcionários."
Ela cita Santa Catarina, onde predominam as pequenas propriedades, como o Estado com a maior valorização média do preço da terra em 12 meses, de 22%.
A tendência de alta mais intensa em áreas menores é confirmada por Atilio Benedini Neto, da Benedini Imóveis, que atua na região de Ribeirão Preto. "Hoje os grandes compradores de terras são os médios e pequenos produtores que, capitalizados, compram cinco alqueires para expandir a produção." Áreas menores são vendidas rapidamente, diz.
Só neste ano ele já fechou três negócios e a velocidade de vendas não é maior porque a oferta de terras na região é escassa. "O mercado é comprador."
Minério e energia
Também o avanço de atividades que exigem áreas extensas, como exploração mineral e parques eólicos, por exemplo, passou a disputar e valorizar a terra voltada para o agronegócio, diz Jacqueline.
No ranking de valorização de terras, depois de Santa Catarina e do Amapá (20%) está o Rio Grande do Norte, com aumento médio de 16% do preços em 12 meses. Segundo Jacqueline, fazendas de camarão, exploração de salinas, parques eólicos e atuação da Petrobrás valorizaram as terras do litoral.
Um exemplo da valorização das terras do agronegócio impulsionada por outras atividades ocorre no Cerrado mineiro, onde se produz café. Em Patrocínio (MG), o hectare saiu de R$ 15 mil para R$ 25 mil em um ano, segundo o corretor Damião Cosme Machado, da Imobiliária Central. Além do aumento de 80% do preço do café em 12 meses, ele aponta a chegada da Vale na região, comprando 3 mil hectares para exploração de minérios como fator de alta do preço da terra.
Corretor há 20 anos, Machado diz que nunca viu o preço subir tanto em tão pouco tempo. "O preço da terra é recorde e o do café também." De seis meses para cá, ele vendeu quatro fazendas para cafeicultores da região, uma delas à vista.
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Brasil atrapalha no Oriente Médio, diz relatório dos EUA
Texto de PATRÍCIA CAMPOS MELLO
A diplomacia americana encarava com desprezo as tentativas do Brasil de conquistar mais influência no Oriente Médio, segundo telegramas diplomáticos vazados pelo WikiLeaks.
Em despachos enviados a Washington entre abril de 2004 e dezembro de 2009, a embaixada americana caracterizou a política brasileira para a região como "mão pesada", "desajeitada", cheia de "generalidades anódinas" e "sem profundidade".
Os telegramas menosprezam a eficácia das duas cúpulas América do Sul-países árabes já realizadas.
A terceira aconteceria no dia 12 de fevereiro, no Peru, mas deve ser adiada por causa das turbulências no Egito.
"Até agora, as iniciativas do Brasil para o Oriente Médio são, na melhor das hipóteses, desajeitadas, e as declarações do governo brasileiro sobre questões-chave para a região atrapalham as negociações."
Essa análise, de julho de 2008, consta em um despacho do então embaixador americano em Brasília, Clifford Sobel.
No mesmo telegrama, os americanos listam iniciativas do governo brasileiro para a região consideradas "prejudiciais". Entre elas estão críticas do ex-chanceler Celso Amorim a Israel e aos EUA e declarações sobre o programa nuclear iraniano.
"As políticas prejudiciais e declarações equivocadas do Brasil sobre a região atrapalham a política dos EUA no Oriente Médio", diz o texto.
O documento diz ainda que o Itamaraty "subestimou as sensibilidades feridas por sua diplomacia mão pesada, mas não quer admitir que a cúpula e a visita de Amorim à região podem minar o processo de paz".
Outro despacho descreve uma conversa do atual chanceler Antonio Patriota, então chefe de gabinete de Amorim, com Sobel.
O embaixador americano pediu que o Brasil discutisse com os EUA suas iniciativas para a região. A resposta de Patriota teria sido que o Brasil "não precisa de permissão" dos EUA para conduzir sua política externa.
RABINO
Às vésperas de uma das cúpulas, o embaixador americano se reuniu com o rabino Henry Sobel. O rabino teria dito na ocasião que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva era "antissemita".
Em outros telegramas vazados pelo WikiLeaks, diplomatas americanos dizem que "as banalidades cheias de clichês do governo brasileiro mostram que eles [diplomatas brasileiros] não entendem o Oriente Médio. Só engrossam o coro anti-Israel".
Os americanos também relatam ceticismo na diplomacia árabe. Segundo um diplomata egípcio, as cúpulas América do Sul-países árabes e o envolvimento brasileiro no processo de paz "são tentativas transparentes do Brasil de fortalecer sua candidatura ao Conselho de Segurança da ONU".
A Folha e outros seis jornais do mundo têm acesso aos telegramas do WikiLeaks antes da sua divulgação no site da organização http://www.wikileaks.ch/.
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Culpa das commodities?
texto de Rubens Ricupero
A estabilização do preço das commodities agrícolas, que o Brasil tenta em vão privilegiar na agenda internacional desde a conferência de Bretton Woods, em 1944, passou de repente a ser prioridade para os presidentes da França, do Banco Mundial e para o diretor da Organização Mundial de Comércio.
Por que a súbita receptividade? Não teria havido volatilidade antes ou o tema apenas preocupa quando os preços sobem (raramente) e não quando desabam como durante a maior parte dos últimos cem anos?
Está em curso ação liderada pelo presidente Sarkozy para tentar controlar o preço dos alimentos na próxima reunião do G20, na França.
A iniciativa deve preocupar o comércio exterior e o agronegócio brasileiros. Ela patenteia a ingenuidade dos que acreditaram numa coincidência estratégica entre os interesses do Brasil e os da França, campeã dos subsídios e do protecionismo agrícola.
Da última vez em que os alimentos aumentaram (2008-09), chamei a atenção na Folha para estudo de Ocampo e Parra mostrando que a alta era só nominal e os preços estavam apenas se recuperando em termos reais. Ao contrário do índice da FAO (Organização de Alimentos e Agricultura), que parte de base distorcida (1990, auge da queda), os autores do estudo compararam os preços com a média histórica de 1945 a 1980, fase de 35 anos de preços abaixo até da média histórica. Corrigiram as cotações nominais descontando a inflação do período.
Garantido por essas cautelas o estudo revela que: a) os produtos agrícolas sofreram nos anos 1980 colapso só comparável ao de 1920-21; b) a agricultura tropical foi a mais atingida pelo declínio de longo prazo dos preços; c) em 2008 os únicos produtos acima da média anterior (óleo de palma, trigo, bananas e borracha) não possuíam expressão na pauta exportadora do Brasil; d) continuavam muito deprimidos o cacau, o chá, o café, o algodão e o açúcar.
Valeria a pena que entidades brasileiras competentes atualizassem o estudo, utilizando a mesma metodologia. Duvido, no entanto, que o resultado seja muito diferente em relação ao obtido em 2008.
Lembro o precedente para alertar sobre o perigo de aceitar de modo passivo índices, estudos e campanhas que nos chegam com o selo prestigioso de organismos mundiais, escondendo estratégias adversas aos interesses brasileiros.
O problema das commodities agrícolas deve merecer atenção internacional, não apenas devido ao impacto dos preços em países importadores de alimentos.
É preciso não esquecer que a recente mudança para melhor no desempenho econômico da África e da America Latina não teria sido possível sem a recuperação das cotações de commodities.
O equilíbrio e a boa fé exigiriam também eliminar os subsídios dos ricos, que desestimulam a produção de alimentos em países pobres, tornando-os dependentes da ajuda alimentar.
Em seguida, impõe-se coibir a perniciosa especulação financeira em commodities.
Por fim, não se pode pensar em controlar preços agrícolas sem antes controlar fertilizantes, combustíveis e todos os demais insumos do setor que contribuem poderosamente para a formação dos custos dos agricultores.
Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia da Faap e do Instituto Fernand Braudel de São Paulo, foi secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e ministro da Fazenda no governo Itamar Franco.
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De cada 10 litros de leite, 3 não são inspecionados
Para pequeno produtor, venda informal é mais lucrativa; fiscalização é falha... Pizzarias de SP são campeãs do consumo de produto sem inspeção, diz entidade; leite ilegal traz riscos à saúde
Texto de JULIANA COISSI
Três anos após o escândalo que pôs em xeque a qualidade do leite no Brasil, o setor ainda tem problemas. A cada 10 litros produzidos, 3 não passam por inspeção.
Os últimos dados anuais fechados revelam que 9,5 bilhões de litros produzidos em 2009 (33% do total) não passaram pelas autoridades sanitárias, segundo o IBGE.
Os números mostram pouco avanço na fiscalização desde 2007, quando a Polícia Federal deflagrou uma operação que encontrou soda cáustica e água oxigenada adicionadas ao leite.
Naquele ano, 8,2 bilhões de litros (31,5%) de leite ou derivados foram consumidos pelos brasileiros sem qualquer fiscalização sanitária. A repercussão chegou a atingir gigantes, como a Parmalat, e a Anvisa interditou lotes.
O leite informal e ilegal vem geralmente do pequeno produtor, que não conseguiu bom preço na cooperativa e decide vender no varejo.
"Sempre vai haver esse leite informal se a inspeção dos governos não tomar uma atitude e passar a fiscalizar e multar", afirma Jorge Rubez, presidente da Leite Brasil (Associação Brasileira dos Produtores de Leite).
Vendido em garrafas pet ou transformado em queijo, esse leite não inspecionado é levado diretamente ao consumidor ou é entregue em feiras livres, quitandas e outros comércios. "Campeãs de consumo de queijo informal são as pizzarias de São Paulo", diz Rubez.
O preço atrai: o litro vendido ao laticínio rende ao produtor de R$ 0,60 a R$ 0,65, segundo pecuaristas ouvidos pela Folha. Na garrafa pet, sai por até R$ 1,30. A peça de queijo, que consome cerca de oito litros, é vendida a R$ 10.
LUCRO MAIOR
A vantagem econômica afastou do laticínio Wilson Couto Rosa Júnior, 57, produtor de leite há 40 anos no interior paulista.
Em 2002, ele decidiu deixar a cooperativa e assumiu a "clientela" de um vizinho. Hoje são 40 fregueses. Ele vende até 50 litros de leite por dia (a R$ 1,25 cada) e ainda faz 20 queijos por semana, que rendem R$ 200.
Se, como cooperado, sobrava renda de R$ 1.000 por mês, como autônomo Wilson obtém o dobro.
Todos os dias, ele sai de casa antes das 7h para entregar as garrafas. O horário cedo é devido à perecibilidade do produto, mas também para evitar fiscais. "É inviável vender para laticínio. A gente faz isso para a sobrevivência."
Outros produtores usam o leite informal como complemento. Um deles em Ribeirão Preto, que pediu para não ser identificado, entrega de 100 a 120 litros por dia ao laticínio, a R$ 0,60. O que sobra (de 30 a 40 litros) vende na rua, a até R$ 1,30, ou transforma em queijo.
"A pessoa que compra da gente sabe que é bom. Prefere o leite natural, puro. O que fazer o pequeno produtor se não puder vender leite na rua?", pergunta.
A falta de inspeção traz riscos à saúde. "Às vezes [o leite] nem sequer passa por pasteurização e, com isso, corre-se o risco de bactérias patogênicas", diz Laerte Cassoli, da Clínica do Leite da USP.
O Ministério da Agricultura e as secretarias da Agricultura de Estados produtores dizem que há falha nas três esferas (inclui prefeituras).
E EU COM ISSO?
É PRECISO CHECAR SE EXISTE O SELO
Especialistas não recomendam consumo de leite ou derivados não inspecionados, já que não há garantia de salubridade. É importante checar se a embalagem contém o selo de certificação (federal, estadual ou municipal). Telefones para denúncias em SP: 156 e 0/ xx/11/ 3397-8278.
OUTRO LADO
Controle depende da ação de vigilâncias, diz ministério
Órgão de SP diz não poder fiscalizar o que é vendido na rua, apenas o que é comercializado em estabelecimentos
O Ministério da Agricultura e os governos paulista e mineiro admitem que é preciso melhorar o controle da venda de leite e de queijo sem inspeção, e dizem que isso depende de um esforço conjunto entre prefeituras, Estados e ministério.
"Infelizmente, ainda existe na população a cultura de que aquilo que vem da roça é melhor, mas não é verdade", diz Carlos Roberto Turchetto Junior, chefe substituto da Divisão de Inspeção de Leite e Derivados do ministério.
Segundo ele, é tarefa das vigilâncias sanitárias de prefeituras e Estados coibir a venda desses produtos em comércios e na rua. A do município de São Paulo, porém, diz só poder controlar o que é vendido em estabelecimentos comerciais.
No ano passado, foram fiscalizados pelo órgão 839 restaurantes, bares e pizzarias na capital. Em 36 locais, os fiscais inutilizaram produtos como queijo ou equipamentos sem procedência.
Sobre a afirmação de que pizzarias compram queijo informal, a Associação Pizzarias Unidas (que representa estabelecimentos do Estado) disse desconhecer a prática.
Em Minas, das 26 mil agroindústrias de leite e outros produtos do campo, só 6.000 estão regulares -metade é do ramo de leite e derivados-, segundo o Instituto Mineiro de Agropecuária.
Para o diretor da entidade Altino Rodrigues Neto, a lei brasileira é "inadequada" e "extremamente exigente" com o pequeno produtor.
"Eles não conseguem e não necessitam seguir a legislação de uma grande empresa. Essa é uma lei antiga, que não se adequou ao mercado brasileiro. Isso gerou uma informalidade."
Rodrigues diz que o Estado criou prazos legais para ajudar empresas a se adaptarem e que abrirá mais laboratórios para controle de qualidade -a maioria fica na capital.
Em São Paulo, o coordenador da Defesa Agropecuária, Cláudio Alvarenga de Melo, diz que o queijo e o leite informais chegam no máximo a 15% da produção e que combater a ilegalidade "é competência de todas as esferas".
FISCALIZAÇÃO
A Operação Ouro Branco da Polícia Federal, em 2007, fez com que o ministério revisse a forma e a frequência com que fiscais visitam as indústrias. Em 2007 e 2008, foram colhidas 1.500 amostras.
Dessas, 29 tiveram indícios de fraude, e as empresas tiveram sanções, como proibição de vender leite até a regularização -algumas fecharam e foram vendidas.
Em 2010, foram 3.000 amostras analisadas, 27 com indícios de leite adulterado.
Por outro lado, regras do ministério tornarão mais rígido, a partir de julho deste ano, o limite de bactérias no leite que chega ao laticínio.
Infraestrutura ruim é entrave à indústria leiteira
Infraestrutura ruim ainda é ameaça à produção de Minas -maior bacia leiteira do país-, e à das novas áreas de produção, como Mato Grosso, Rondônia e Tocantins.
"Para o leite chegar ao laticínio, tem toda essa infraestrutura necessária de estrada, principalmente, e o armazenamento em frio", disse Leorges da Fonseca, docente da UFMG especializado em tecnologia de alimentos.
Já houve casos em cidades mineiras, segundo Fonseca, em que o laticínio demorou até três dias para conseguir atravessar a estrada e buscar o produto com o pecuarista.
"Se esse leite ficar dois, quatro dias estocado, mais chance tem de as bactérias se multiplicarem", afirma.
O transporte é o maior desafio ao produtor, diz Jorge Rubez, presidente da entidade Leite Brasil. "Os próprios produtores se organizam para arrumar a estrada."
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ANÁLISE
Quem ganha e quem perde com a informalidade da indústria de leite
Texto de MARCO AURÉLIO BERGAMASCHI... ESPECIAL PARA A FOLHA
Produzir leite é tão antigo quanto a história do homem... E uma vaquinha no fundo do quintal é ainda mais comum do que muitos possam supor... Persiste, entre boa parte da população, a falsa ideia de que, se o leite veio direto da roça, é forte, é puro e é bom.
O Brasil produz cerca de 29 bilhões de litros de leite por ano, incluindo os produtos derivados. A estimativa é de que cerca de 45% venha de produção informal, aquela sem inspeção sanitária e que não recolhe impostos.
Ainda é significativo o número de consumidores que compram esses produtos sem inspeção. É sabido que o leite não pasteurizado pode estar contaminado e é um dos maiores responsáveis por distúrbios gastrointestinais, além de transmissor da brucelose e da tuberculose.
A informalidade ocorre, principalmente, devido aos maiores ganhos. Mas traz prejuízos para o consumidor.
Além disso, o beneficiamento de produtos derivados do leite em estabelecimentos fiscalizados é extremamente concentrado. São priorizadas as bacias leiteiras que proporcionam boa relação entre volume de leite disponível e logística de coleta. O custo do frete, pago pelo produtor, pode tornar inviável a entrega.
A produção leiteira está presente em praticamente todos os municípios do País, mas nem todos são atendidos por processadoras. O leite ali produzido não encontra outro destino senão o mercado informal, de leite em garrafas pet e derivados, como queijos, doces, coalhada.
A informalidade promove ainda uma concorrência desleal. Na atividade inspecionada, produtores e estabelecimentos comerciais recolhem taxas e impostos.
Quanto menor a arrecadação, maior a carga tributária que incide sobre os que trabalham dentro da lei.
A maioria dos pecuaristas leiteiros é de pequeno porte, com pouca produção, e depende de organização para comercializar sua produção.
Uma alternativa é associar-se a uma das cooperativas existentes. Estas respondem por cerca de 50% do leite fiscalizado produzido no Brasil.
Trabalhos de conscientização do produtor informal e da população e fiscalização mais rígida poderão se traduzir, no futuro, em benefícios para a saúde pública.
O resultado será a ampliação da atividade produtiva, nos mais elevados padrões de exigência dos mercados consumidores. A partir de então o Brasil poderá ainda ser um grande exportador de lácteos, com mais empregos e renda no campo.
MARCO AURÉLIO BERGAMASCHI é médico veterinário, doutor e supervisor do Sistema de Leite da Embrapa Pecuária Sudeste
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Meritocracia e apagão
Texto de ELIANE CANTANHÊDE
Por essas ironias da vida e da política, o apagão castigava 33 milhões de pessoas, num cálculo, ou 47 milhões, em outro, enquanto a presidente Dilma Rousseff fatiava justamente os riquíssimos cargos do setor elétrico.
Sete Estados foram atingidos, sem luz e sem água. Houve problemas de trânsito e de tráfego aéreo. Hospitais, delegacias e presídios acabaram prejudicados. Mas o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, dizia que o sistema é "robusto", um dos melhores do mundo, e que tudo não passou de "interrupção temporária de energia".
Conclui-se que apagão no governo dos outros é apagão mesmo, mas no nosso é falha técnica.
Para Dilma, porém, esse é um setor multiestratégico, fundamental para o desenvolvimento. E porque foi da Secretaria de Energia do Rio Grande do Sul e do Ministério das Minas e Energia que ela emergiu para a Casa Civil, para a campanha de 2010 e, finalmente, para a Presidência da República.
Apagões causam perdas, tumultos e mau humor, mas deixam Dilma particularmente irritada, pois mexem com seus brios e jogam sua imagem de boa gestora na penumbra. Ainda mais com Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves alardeando que são donos de Furnas.
Já que expressões e metáforas não têm mais dono, Dilma endureceu, bateu na mesa, jogou pesado, avisando que quem manda é ela. Matou a cobra e mostrou o pau: tirou Furnas de Cunha e de Alves e deu para José Sarney. Ficou tudo em família (em todos os sentidos).
Furnas tem investimentos de mais de R$ 1 bilhão. A Eletrobrás, de mais de R$ 8 bilhões. Faz sentido que o grupo de Cunha e Alves dispute com o de Sarney e que Dilma desempate a favor de Sarney, que já controla o ministério com Lobão.
Que fique claro: é tudo para o bem de todos e a felicidade geral da nação. A disputa é de meritocracia e para evitar que ocorram novos apagões, ops!, interrupções temporárias de energia.
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Risco trator
Texto de RENATA LO PRETE
Sem deixar de reconhecer o sucesso obtido até agora por Dilma Rousseff na tarefa de enquadrar os aliados, primeiro na formação do ministério e depois na partilha dos cargos do segundo escalão, petistas que trazem na memória facilidades e dificuldades do governo Lula manifestam preocupação com as possíveis consequências do festival de imposições.
Eles não duvidam de que a presidente terá força para vencer as batalhas mais próximas, como a do salário mínimo, mas temem o efeito represado do descontentamento do PMDB e de outras siglas. "Ela pode nocautear todo mundo. Mas, se não nocautear, o que acontece?", pergunta um veterano do Congresso.
Paradoxo Reflexão de um cardeal do PT: em nenhum dos dois mandatos de Lula houve, como agora, tantos petistas instalados em postos estratégicos; ao mesmo tempo, este é, por ora, o governo mais distante da "pauta histórica" do partido.
Blues Não se trata de negligência de Dilma, que em janeiro teve ao menos três longas conversas com o antecessor, mas quem esteve com Lula recentemente afirma: o ex-presidente anda triste.
Finalmentes A ida de Henrique Meirelles para a APO (Autoridade Pública Olímpica) é assunto resolvido tanto na cabeça de Dilma quanto no que depender do ex-presidente do Banco Central. A demora no desfecho da novela se deve apenas a um esforço para acalmar o PC do B, partido do ministro Orlando Silva (Esporte).
Divã Durante seminário da Federação Nacional de Previdência Privada, realizado na quinta passada na Bahia, o governador Jaques Wagner (PT) surpreendeu a plateia ao dizer por que, em sua opinião, Meirelles foi substituído após oito anos no comando do BC: "Se tivesse ficado, ia parecer que era ele, e não Lula, o fiador da política econômica". Há quem enxergue explicação mais simples: Dilma queria mudar.
E se... Um dos possíveis cenários para 2014 preocupa especialmente Aécio Neves, segundo relato do próprio a aliados: José Serra conclui que não tem condições de disputar a Presidência e estimula a candidatura de Geraldo Alckmin, desenho que lhe permitiria tentar retornar ao governo de São Paulo.
De bandeja Observação de uma raposa lulista a propósito da guerra civil tucana: "O Serra jogou o Sérgio Guerra no colo do Aécio". Não que Guerra, em campanha por mais um mandato na presidência do PSDB, tenha precisado de muito estímulo.
Já era Quem acompanhou de perto a batalha interna pelos segundos do programa de TV tucano chegou à conclusão de que, quando em algum ponto futuro se der a alternância de poder federal, é bem possível que o beneficiado não seja o PSDB.
Cinturão O primeiro teste de convivência entre Alckmin, Gilberto Kassab (DEM) e os prefeitos petistas do "eixo vermelho" da Grande São Paulo será a implantação do bilhete único metropolitano. O governo tucano planeja integrar ônibus, metrô e trens de pelo menos 20 cidades do entorno da capital num prazo de seis meses.
Inimigo íntimo O escândalo da merenda escolar em Pindamonhangaba, que tem como personagem central Paulo Ribeiro, cunhado de Alckmin, poderá resultar positivo para o PSDB local. Opositores inclusive da sobrinha do governador, Myriam (PPS), vice-prefeita, os tucanos enxergam na crise a chance de retomar o governo municipal em 2012.
Tiroteio
"Ou Dilma atende os especuladores ou atende os trabalhadores. Ela tem que fazer sua escolha. Lula fez a dele: ficou conosco e deixou o governo com 83% de popularidade."
DO DEPUTADO PAULINHO DA FORÇA (PDT-SP), sobre o impasse na negociação do mínimo, evidenciado em reunião do governo com as centrais na sexta-feira.
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Rivais, Serra e Ciro enfrentam ostracismo
Texto de CATIA SEABRA
Inimigos políticos declarados, o ex-governador José Serra (PSDB) e o ex-ministro Ciro Gomes (PSB) atravessam um momento em comum: o ostracismo.
Os dois estão sem mandato, já concorreram à Presidência da República e, após ocupar o centro da cena nacional, lutam contra o comando de seus partidos em busca de um espaço político.
Ministro do governo Lula e candidato à Presidência em 2002, Ciro trava uma queda de braço contra o presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
Ciro e Serra, hoje batalhando contra o ostracismo, enfrentam-se em debate nas eleições presidenciais de 2002
No controle da máquina partidária, Campos indicou o ministro Fernando Bezerra para a Integração Nacional, pasta ocupada por Ciro durante a gestão de Lula.
O governador também derrotou Ciro na disputa pela liderança do partido na Câmara dos Deputados.
Ciro defendeu a escolha de Gabriel Chalita (SP), mas quem levou foi Ana Arraes, mãe de Campos.
A negociação incluiu uma conversa dura entre Campos e Ciro. Segundo integrantes do PSB, Campos alegou que uma das regras do partido é a exigência de que o líder não seja um novato da Casa.
Enquanto aliados de Ciro reclamam da asfixia imposta pelo partido, o comando do PSB alega que trabalhou para que fosse prestigiado.
Um exemplo seria sua indicação para a coordenação da campanha da hoje presidente Dilma Rousseff. Mas Ciro nem compareceu à posse da petista.
O mal-estar alimentou rumores de que Ciro pretenda deixar o PSB. Procurado pela Folha, ele negou a intenção.
TUCANATO
Serra, por sua vez, enfrenta dificuldades para conseguir estrutura de um escritório político em São Paulo.
Sua sobrevivência depende de um suporte da cúpula partidária. Em busca de uma saída para Serra, aliados insistiram para que concorresse à presidência do PSDB.
Ao perceber o risco, o presidente da sigla, Sérgio Guerra (PE), aliou-se ao senador Aécio Neves (MG) para consolidar sua recondução.
A dupla apoiou ainda um movimento pela indicação do ex-senador Tasso Jereissati (CE) para a presidência do Instituto Teotonio Vilela, também cogitado por Serra.
Encurralados, aliados de Serra chegaram a sugerir um acordo a aecistas para apresentação de uma alternativa a Guerra. Aécio não gostou da ideia e disse não.
Hoje à frente de seus partidos, Eduardo Campos e Aécio Neves orgulham-se da habilidade na política.
Os dois são cotados para a disputa presidencial em 2014 e contam com a estrutura do governo de seus Estados como plataforma.
Contra seus projetos políticos, cada um tem seus fantasmas. O de Aécio chama-se Geraldo Alckmin, governador de São Paulo.
O de Campos é o PT, que resiste à escolha de qualquer outro nome que não seja do partido para o Planalto.
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