NÓS FAZEMOS A DIFERENÇA NO MUNDO...

Nós fazemos a diferença no mundo
"Eu sou a minha cidade, e só eu posso mudá-la. Mesmo com o coração sem esperança, mesmo sem saber exatamente como dar o primeiro passo, mesmo achando que um esforço individual não serve para nada, preciso colocar mãos à obra. O caminho irá se mostrar por si mesmo, se eu vencer meus medos e aceitar um fato muito simples: cada um de nós faz uma grande diferença no mundo." (Paulo Coelho)

Na qualidade de Cidadão, afirmamos que deveríamos combater o analfabetismo político, com a mesma veemência que deveria ser combatido o analfabetismo oficioso no Brasil. Pois a politicagem ganha força por colocarmos poder de importantes decisões nas mãos de quem não se importa com o que irá decidir.
Concordo com Bertolt Brecht, quando afirma que: "O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos”. Ele não sabe o custo de vida, nem que o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato, saneamento, mobilidade urbana, e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. “Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce à prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”

domingo, 28 de agosto de 2011

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Sai ‘caveira’, entra um ‘juiz’
Um juiz de futebol foi escolhido para comandar a ‘faxina’ no 7º BPM (São Gonçalo) após o suposto envolvimento de militares da unidade no assassinato da juíza Patrícia Acioli, no último dia 11. Por determinação do comandado geral da corporação, o coronel Djalma Beltrame, que comandava o 14º BPM (Bangu), assume a unidade gonçalense no lugar do tenente-coronel Cláudio Luiz Oliveira, que comandará o 22º BPM (Maré). Como árbitro de futebol, Beltrame já integrou o quadro da FIFA e apitou clássicos do futebol carioca e nacional. Em sua trajetória nos campos, ele ficou conhecido pelo estilo disciplinador. Ele se aposentou do ‘apito’ em maio deste ano.
Além de São Gonçalo, a ‘dança das cadeiras’ atingiu o comando de outros 22 batalhões do Estado, incluindo Niterói e Itaboraí. Fontes ligadas à Secretaria de Estado de Segurança Pública afirmaram que o secretário da pasta, José Mariano Beltrame, determinou que o comandante-geral da PM, coronel Mário Sérgio Brito Duarte, modificasse os comandos do 7º BPM e do 12º BPM. Contudo, para evitar polêmicas e mal-estar na corporação, o oficial resolveu promover outras 21 alterações.
A decisão foi anunciada, na tarde de ontem, durante o Almoço de 100 dias – data histórica da PM, quando todos os comandantes se reúnem a 100 dias para a formatura dos cadetes do 3º ano – realizado na Academia Dom João VI.
As mudanças se estenderam para o comando do 12º BPM, onde cinco policiais foram afastados de suas atividades operacionais por determinação da magistrada. O tenente-coronel Paulo Henrique de Moraes trocará de lugar com o comandante do 20º BPM (Mesquita), coronel Sérgio Mendes, que assumirá a unidade de Niterói. Já o 35º BPM (Itaboraí) será comandado coronel Danilo Nascimento da Silva, que estava à frente do 27º BPM (Santa Cruz). Seu antecessor, coronel César Tanner, foi transferido para o 7º Comando de Policiamento de Área (CPA).
Policiais investigados
A decisão de Beltrame em trocar comando do 7º BPM pode estar relacionada a uma das linhas de investigação da Divisão de Homicídios (DH) para tentar elucidar a morte da magistrada.
Uma delas aponta para a participação de oito policiais do 7º BPM acusados de forjar autos de resistência (quando há confronto com morte de criminoso) durante incursões realizadas em comunidades do município, conforme o São Gonçalo divulgou com exclusividade há duas semanas.
A prisão preventiva dos PMs foi expedida por Acioli horas antes de sua execução. De acordo com denúncia oferecida pelo MP, os quatro cabos, um tenente, um sargento e um soldado teriam participado de uma operação no Complexo do Salgueiro, que terminou com a morte do vendedor ambulante Diego da Conceição Beliene, 18, no último dia 3 de junho.
O jovem foi atingido com um tiro de fuzil no peito e agonizou durante uma hora até ser ‘socorrido’ - já cadáver - por uma ambulância do Corpo de Bombeiros.
Em seu último despacho, a magistrada salientou o motivo da decisão: “Alguns dos acusados já respondem a diversos outros processos por homicídio neste juízo. Assim, para a garantia da instrução criminal, decreto a prisão dos acusados”.
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Rio: pedaço de arame prendia peça no bondinho
Ana Cláudia Costa, O Globo
Engenheiros do Conselho Regional de Engenharia (Crea) que fazem a vistoria no bonde que se acidentou na tarde de ontem, em Santa Teresa, detectaram que próximo a uma das sapatas de freio não há parafuso, e sim um pedaço de arame prendendo uma peça.
Segundo o engenheiro Luiz Carlos Cosenza, a superlotação do bonde não seria motivo único para o acidente de ontem. Ele alertou que o desgaste da peças e a falta de manutenção podem ter provocado o descarrilamento. Na manhã deste domingo, moradores de Santa Teresa fizeram homenagem às vítimas.
Algumas flores foram deixadas junto ao poste em frente ao local onde o bonde ainda permamece tombado. Uma moradora também deixou uma vela acesa. 
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Não é bem assim
Renata La Prete, Folha de S. Paulo
Parecer que será apresentado nesta semana por Renan Calheiros (PMDB-AL) contestará entendimento até agora vigente segundo o qual o financiamento exclusivamente público das campanhas eleitorais foi rejeitado durante confusa sessão da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, na quarta-feira passada.
Com base numa sequência de votações de resultado apertado e sentido conflitante, Renan sustentará que a matéria teria sido na verdade aprovada em caráter terminativo. Portanto, seguirá para apreciação da Câmara a menos que alguém apresente recurso para antes levar o tema ao plenário do Senado.
Relator do projeto, Aloysio Nunes (PSDB-SP) adverte: "O PT e o PMDB têm todo o interesse em aprovar isso. Para barrar, será necessária a pressão da opinião pública".
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Jânio
Por Luiz Fernando Veríssimo
Confissão. Meu primeiro voto foi para o Jânio Quadros. Não espalhe. Parafraseando o samba antigo: se eu soubesse, naquele tempo, o que sei agora, eu não seria este ser que tenta se explicar e explicar as anomalias da política brasileira.
Que me lembre, estava-se votando contra a corrupção do governo Kubitschek, que Jânio varreria. Mas Jânio não era só o anti-JK. Seu sucesso se devia em grande parte à sua personalidade diferente, justamente ao fato de ser uma anomalia. Como aconteceria anos depois com o Collor, um Jânio Quadros sem a caspa.
A suspeita de que fosse meio louco era uma credencial. O Brasil precisava de um presidente não convencional para fazer o que os convencionais não faziam. Mas Jânio foi anômalo demais.
Não sei se votei na figura excêntrica ou na sua promessa de limpar a sujeira de Brasília. A sujeira, vista desta distância no tempo, não parece tanta assim, a ponto de justificar o Jânio. Não demorou para a História — ou a falta de memória — absolver JK, que hoje é homenageado como um presidente exemplar, e foi até citado como tal no discurso de posse do Fernando Henrique.
Mas na época foi a corrupção do seu governo que levou muitos eleitores — inclusive estreantes como eu — a votar na vassoura. Mais intrigante do que o breve governo do Jânio e o entusiasmo da maioria do eleitorado de então pelas suas esquisitices, que já prefiguravam o que viria depois, foi essa absolvição do Juscelino pelo tempo, essa sua lenta transformação de corrupto em exemplo. Talvez enaltecer JK seja uma espécie de penitência por termos acreditado no Jânio, sua alternativa maluca.
Eu não posso rasurar meu currículo de eleitor, mas a nação pode corrigir suas opções do passado, esquecendo-as. Também não perdoamos o Collor?
Ou talvez se tenha chegado à conclusão que para Juscelino fazer o que fez, industrializando o país, construindo Brasília etc., a promiscuidade de governo com empreiteiras e empreendedores era quase obrigatória e, em retrospecto, louvável. O governo só precisava se preocupar com eventuais críticas da UDN e de parte da imprensa, a Polícia Federal da época não se metia nessas coisas.
Portanto do governo JK se podia dizer que não era corrupto, era despreocupado.
Fomos injustos com ele. Pela minha parte, um pouco atrasado, peço desculpas.
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Bolsa-Família e Bolsa-Empresário, Bolsa-Banqueiro, Bolsa-Mutuário
Leandro Modé, O Estado de S. Paulo
O governo federal mantém um sistema de "bolsas" que vai muito além do Bolsa-Família. O Bolsa-Empresário custará aos cofres públicos este ano cerca de R$ 30 bilhões. O Bolsa-Banqueiro, entre R$ 60 bilhões e R$ 70 bilhões. Há, ainda, o Bolsa-Mutuário, estimada pela Caixa Econômica Federal em R$ 32 bilhões.
As três têm em comum o fato de funcionarem como um subsídio do Estado à economia. Somadas, equivalem a quase oito programas Bolsa-Família.
Em um tema tão amplo, as opiniões de especialistas divergem bastante. A maioria, porém, é favorável ao Bolsa-Mutuário, oficialmente chamado de Minha Casa, Minha Vida.
Bolsa-Empresário é uma definição do ex-diretor do Banco Central (BC) Alexandre Schwartsman. Trata-se do dinheiro que o Tesouro Nacional vem emprestando para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiar empresas. Desde o estouro da crise global, em 2008, o governo decidiu ampliar o orçamento da instituição.
Ao final de junho, segundo dados do BC, os créditos do Tesouro ao BNDES somavam R$ 272 bilhões. O subsídio (quase R$ 18 bilhões em 2011) é calculado com base na diferença entre a taxa de juros que o banco cobra em seus empréstimos (TJLP, hoje em 6% ano) e a que o Tesouro paga para se financiar (Selic, atualmente em 12,5%).
Schwartsman inclui ainda o subsídio implícito nas transferências do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) ao BNDES, algo próximo de R$ 12 bilhões. "Ou seja, o Bolsa-Empresário equivale a pouco menos de dois Bolsa-Família", afirmou.
O responsável pelo termo Bolsa-Banqueiro é o professor da Faculdade de Economia e Administração da USP Simão Silber. Ele refere-se ao custo do governo para continuar acumulando reservas internacionais (hoje em US$ 352,5 bilhões). Para Silber, o grande beneficiado, hoje, da política do governo de continuar comprando dólares é o sistema financeiro, uma vez que o montante atual é mais do que suficiente para proteger o País de crises.
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‘A cidade mais adequada para receber a abertura é o Rio', diz Blatter
Em entrevista exclusiva, presidente da Fifa esquenta disputa principal da Copa do Mundo de 2014
Jamil Chade, O Estado de S. Paulo
Depois de meses de uma verdadeira guerra em torno da viabilização financeira da Arena do Corinthians, em Itaquera, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, declara: quer a abertura da Copa de 2014 no Maracanã e não em São Paulo. O cartola máximo do futebol mundial abriu ao Estado as portas de sua aldeia natal, no centro das montanhas na Suíça. Nada de gravata e terno. Apenas calça de abrigo, uma paisagem alpina e uma longa conversa.
Sentado em uma mesa de um bar local, Blatter falou abertamente sobre a Copa do Mundo de 2014, a avalanche de escândalos de corrupção na Fifa, da presidente Dilma Rousseff, do ex-presidente Lula e do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do Comitê Organizador Local da Copa (COL), Ricardo Teixeira.
Mas fez questão de alertar que é a briga política no Brasil o maior obstáculo para a preparação do Mundial.
O suíço ainda criticou o atual futebol brasileiro, disse que a seleção sub-20 não joga "o futebol brasileiro" e adverte que não há nenhuma garantia de que o País saia campeão em 2014 com o atual time.
Nos últimos meses, Blatter se transformou na imagem de uma entidade corrupta e com uma guerra declarada entre diferentes atores na Fifa. À reportagem, Blatter renovou seus ataques contra inimigos e garante que anunciará "mudanças importantes na Fifa" em outubro. Eis os principais trechos da entrevista, concedida na manhã de [ontem], no "recanto de Blatter".
Em outubro, a Fifa vai anunciar o local de abertura da Copa de 2010. Mas onde é que o senhor gostaria de estar sentado para ver a abertura da Copa do Mundo no Brasil?
Há definitivamente uma competição entre Rio e São Paulo para obter a abertura. Mas já demos o centro de Mídia para o Rio e a sede da organização da Fifa será no Rio. Portanto, a cidade mais adequada para receber a abertura é mesmo o Rio de Janeiro. O futebol brasileiro é o Rio. E para o mundo, o Rio é a cidade mais atraente para abrir uma Copa, sem dúvida.
Mas e todo o debate e financiamento dos estádios em São Paulo? Como fica?
O principal obstáculo para a organização da Copa no Brasil tem sido as brigas políticas entre prefeitos, governadores e governo federal. Isso pode de fato atrapalhar muita coisa. O Brasil sediará uma ótima Copa. Mas tem de resolver essa briga política.
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Alessandra Duarte e Carolina Benevides, O Globo
O Brasil governa às cegas na Segurança Pública. O país não sabe quantos pessoas estão foragidas da Justiça. Também não sabe quantas estão desaparecidas. Não tem um cadastro nacional de impressões digitais, o que faz com que uma mesma pessoa possa ter 27 carteiras de identidade, uma em cada unidade da Federação. E o mapa de ocorrências criminais com que o Ministério da Justiça trabalha para planejar suas ações tem dados de três anos atrás, emprestados do SUS.
A consequência da desordem é que a segurança pública é planejada e executada sem informação. A ausência de bancos de dados nacionais e a falta que a informação faz para a ação pública são tema de uma série de reportagens que O GLOBO passa a publicar hoje, começando pela segurança.
Hoje, um juiz pode liberar um detido mesmo com mandados de prisão contra ele em outros estados. Isso porque, em muitos casos, o juiz só tem condições de checar os antecedentes criminais da pessoa no estado em que trabalha, e não em todos os outros - justamente por não haver cadastro nacional de foragidos com os mandados expedidos.
Está aí a explicação para casos como o do pai da jovem Eloá Pimentel, Everaldo Pereira dos Santos. Foragido da Justiça alagoana há 18 anos e acusado de quatro homicídios, só foi descoberto em 2008, ao surgir na TV quando o namorado da filha a matou, em São Paulo.
- Você não sabe nem quantos mandados de prisão, quantos foragidos há no país - diz Walter Nunes da Silva Jr., juiz e conselheiro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). - O que se tem são estimativas. Um diz 170 mil (foragidos), outro diz 250 mil. O Judiciário não sabe, a polícia não sabe. Por quê? Porque a informação não é integrada. Converse com qualquer juiz, e ele vai dizer da angústia que é decidir se libera ou não alguém. Ele sabe que solta com base em informação incompleta.
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Vivian Oswald e Gabriela Valente, O Globo
Sob o bombardeio de um projeto de lei do ex-ministro Ricardo Berzoini, apoiado pelos bancários, os 151 mil correspondentes dos bancos espalhados pelo país - papelarias, supermercados, açougues, vendas, lotéricas, cartórios, Correios, concessionárias de veículos - nunca tiveram papel tão importante e, sozinhos, já respondem por mais da metade do crédito concedido às pessoas físicas no país.
É o que mostra estudo inédito preparado para O GLOBO pela Associação Brasileira de Bancos (ABBC). São cerca de R$ 394 bilhões injetados na economia sem passar por agências bancárias.
Apesar da falta de dados para comparar a evolução da participação do correspondente na concessão de crédito, o presidente da ABBC, Renato Oliva, atribui a alta no volume de financiamentos para pessoa física nos últimos cinco anos - de 7% para 16% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) -, em grande parte, ao aumento expressivo do número desses agentes, de 64,37% no período.
Segundo o Banco Central (BC), 94% da rede de correspondentes são operados por Banco do Brasil, Bradesco e Caixa Econômica Federal. A capilaridade é imensa: há mais de dez por 10 mil habitantes no Brasil (chega a 15 no Sul), contra 1,36 dos bancos formais (agências e postos de atendimento).
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Em nome da governabilidade, aceita-se a nomeação de políticos de caráter duvidoso e cria-se uma espetacular rede de proteção corporativa
Rubens Figueiredo, O Estado de S. Paulo
Nem tudo que é bom para o Brasil é bom para o governo. A presidente Dilma Rousseff, ao se empenhar em resgatar princípios republicanos, promovendo a famosa faxina nos ministérios, certamente beneficia o País. Mas, ao mesmo tempo, expõe o ex-presidente Lula e o PT, gerando, de quebra, um imenso descontentamento nos partidos da base aliada. E passa para a sociedade a ideia de um governo instável, imerso em corrupção.
Dilma é cria de Lula, o presidente ídolo, o presidente show, o rei dos discursos, o comunicador talentoso e o pai moderno dos pobres.
Em pouquíssimo tempo, Dilma conseguiu imprimir uma marca à sua gestão e criou um estilo todo próprio de conduta. Para alguém que sucede a um fenômeno e era totalmente desconhecida pelo eleitorado há um ano, trata-se de verdadeira epopeia.
O quadro é complexo. A presidente ganhou a simpatia da classe média tradicional, aquele conjunto de cidadãos de escolaridade mais alta e mais informado sobre política. Sua avaliação, entretanto, piorou no conjunto da sociedade, segundo todas as pesquisas recentes divulgadas. Ainda é alta, pois Lula entregou o governo nos píncaros da glória. Mas caiu.
A performance de um governo, entretanto, não é medida apenas pela ação do chefe de governo. Precisa ter projetos, prestar bons serviços, melhorar a vida das pessoas, aprovar leis importantes.
Num sistema político de presidencialismo de coalização, no qual os governos são formados com a participação de partidos coligados, fazer uma boa administração significa ter uma excelente relação com os grupos aliados. Um governo paralisado ou em "marcha lenta" jamais será inscrito no rol dos mais eficientes.
Isso criou, no Brasil, a ideia do governo-conluio. Em nome da governabilidade, aceita-se uma pletora de nomeações de políticos de caráter duvidoso e cria-se uma espetacular rede de proteção corporativa, que nos governos anteriores era capitaneada pelo próprio presidente.
Combater corrupção, as pesquisas mostram, não é prioridade para a ampla maioria dos eleitores. Pode vir a ser, se a presidente Dilma conseguir dar às suas ações um caráter educativo e convencer a sociedade de que, pelo menos no caso da sua faxina, o que é bom para o Brasil pode ser bom também para o governo.
Rubens Figueiredo é cientista político pela USP
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Do enfeite indígena à maconha
Escavações para construção do polo petroquímico revelam turbulento passado do Estado do Rio
Renato Grandelle (renato.grandelle@oglobo.com.br)
Não é de hoje que Itaboraí, lar do futuro Complexo Petroquímico do Rio (Comperj), é uma região concorrida. Nos últimos quarenta séculos, aquela região foi habitada pelos pré-históricos sambaquieiros, por ceramistas tupinambás, jesuítas e escravos. De boa parte dessa trajetória sobraram objetos de poucos centímetros, mas grande relevância arqueológica. Entre eles, um tembetá, enfeite tupi pela primeira vez encontrado no estado, e cachimbos, onde a descoberta de maconha surpreendeu os pesquisadores.
Estes objetos estão reunidos a partir de hoje no Museu Nacional. A exposição "Santo Antônio de Sá: primeira vila do Recôncavo da Guanabara" conta a história da ocupação estabelecida ali pelos portugueses em 1697. Pioneiro no interior fluminense, o assentamento seria abandonado apenas no século XIX, devastado por epidemias de febre, malária e tifo.
A mostra representa um esforço para estudar as heranças culturais dispersas nos 45 sítios arqueológicos da região. Embora volte os holofotes para Santo Antônio de Sá, a exposição não deixa de abordar os povos que dominaram o Norte fluminense muito antes dos lusitanos.
- Para a instalação de qualquer grande obra no país, como o Comperj, é necessário fazer uma investigação arqueológica da região, como a que operamos agora - ressalta Madu Gaspar, arqueóloga do Museu Nacional e coordenadora da exposição. - E houve muitas surpresas em nosso trabalho. Encontramos novos registros de sambaquis e da ocupação africana. Suspeitávamos que havia escravos por ali, mas ainda não tínhamos qualquer evidência. Conseguimos finalmente este testemunho, descobrindo uma coleção de mais de cem cachimbos feitos pelos negros e seus descendentes.
Tupinambás, os primeiros escravos
Muito antes de a sociedade do século XVIII encher seus cachimbos com maconha, as terras eram dos sambaquieiros. Quatro mil anos atrás, esta população já estava distribuída por toda a costa fluminense, onde pescava e construía portos para chegar com suas canoas.
Os sambaquieiros habitavam locais secos, embora o mais próximos possível do mar. A marca registrada desse povo eram os sambaquis, um amontoado de conchas, restos de alimentos e artefatos, que ocasionalmente serviam como tumbas.
- Foi o primeiro povo a colonizar a região, e o fez numa área diferente à de seus sucessores - compara Madu. - Enquanto eles estavam sempre na baía, os tupinambás buscavam rios pequenos, porque, para eles, o mais importante era encontrar terras onde pudessem praticar a agricultura.
Proveniente da Amazônia, os tupinambás expandiram-se a partir do início da era cristã, sempre pela guerra. Os confrontos com os índios macro-jê perduraram séculos e foram testemunhados pelos portugueses, que aproveitam a rivalidade tribal para unir-se cada hora a um dos lados. Os vencidos lhes serviam como escravos.
Estranhos às terras tropicais e ao seu cultivo, os portugueses priorizam a ocupação das áreas indígenas - assim, bastava delegar-lhes o trabalho no campo.
- Os portugueses não sabiam sequer se os nativos tinham alma e se deveriam ser reconhecidos como gente. Mas isso não os impediu de depender do conhecimento desses mesmos índios para sobreviver - observa Madu. - Houve, porém, uma inadequação dos índios àquela atividade. O estilo de vida deles não era compatível a um trabalho rotineiro e sistemático no campo.
Cansados de uma tarefa na qual não viam sentido, os tupinambás fugiram para áreas vizinhas - alguns não saíram a tempo de evitar uma represália violenta dos portugueses. Sem ter quem os sustentasse naquele povoado, fundado em 1648, e renomeado Vila Santo Antônio de Sá em 1697, os portugueses recorreram aos escravos africanos que já serviam como motor da economia carioca.
Os tupinambás se mudaram para os arredores da vila - ainda brigando entre si. Um de seus legados, que integra a exposição no Museu Nacional, é o tembetá. Trata-se da primeira vez que os pesquisadores identificam este adorno, de apenas três centímetros, no estado.
A peça era considerada uma joia pelos tupis no século XVI. Graças a ela, foi possível saber como essas tribos distribuíram-se em terras fluminenses nas primeiras décadas após o Descobrimento.
- Era um adereço usado pelos homens desde a infância - explica Madu. - Quando a criança nascia, faziam um pequeno orifício em seu lábio, que aumentava com o tempo. Este era verde, talvez de quartzo, e ficava com uma protuberância para o lado de fora. Podia, também, ser usado na orelha, o que vem sendo feito hoje por muitos jovens.
Sucessores dos índios, os escravos assumiram a agricultura e a produção de açúcar - à época uma especiaria - e de lenha. A madeira cortada do Norte fluminense era levada de barco para o Rio, onde abastecia lareiras e fogões.
Assim como os tupis, os africanos também deixaram objetos curiosos para os arqueólogos desvendarem. Um deles era a fôrma do pão de açúcar, que tinha furinhos no fundo. A cana era espremida e o açúcar ficava no molde, enquanto o melaço escorria para fora dele.
- Foi esta fôrma que deu o nome do Pão de Açúcar, nosso cartão postal - destaca Madu. - Depois, o açúcar era usado em chás. Ao contrário de hoje, em que é consumido em larga escala, no século XVIII este produto era muito caro.
Outra curiosidade descoberta entre os vestígios da vila é uma coleção de dezenas de cachimbos africanos. Chamou a atenção dos pesquisadores o tamanho da pipa, muito pequena em alguns exemplares. Seria o indício de que eles receberiam algo mais forte do que o fumo comum. E a suspeita foi confirmada pela análise de microvestígios ali encontrados.
- Havia restos de maconha nos cachimbos - conta Madu. - Ainda precisamos fazer mais análises para confirmar. Se for isso mesmo, é muito provável que a substância fosse fumada por todos as classes sociais, e não apenas escravos. Houve uma mistura muito grande entre brancos e negros. Há gravuras da época mostrando até mesmo as mulheres europeias com os cachimbos.
No século XVIII, madeira e produtos agrícolas contribuíram para que a vila atingisse seu apogeu econômico. O centro nervoso local era o Convento de São Boaventura, administrados pelos jesuítas. Mas tudo foi reduzido a ruínas a partir dos anos 1800, quando a região, encharcada e pantanosa, foi vítima de seguidos surtos de doenças. Sem qualquer domínio sobre saneamento básico, restou à população - cujo tamanho ainda é ignorado pelos arqueólogos - mudar-se para áreas mais elevadas.
Os vestígios do convento sobreviveram até hoje por se localizarem numa propriedade privada, e num local de difícil acesso. Ao redor dele estão os campos de onde saíram, por exemplo, as faianças, porcelanas portuguesas e espanholas com brasões de famílias que deram origem ao sobrenome de grande parte dos brasileiros - Silva entre eles. A exposição, que conta com o apoio da Petrobras e da Sociedade dos Amigos do Museu, está aberta ao público de terça a domingo, das 10h às 16h, até o dia 26 de novembro. A entrada custa R$ 3.

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