Ibope: violência faz 80% mudarem hábitos
Pesquisa mostra que 51% dos brasileiros reprovam as condições de segurança nas cidades
Juliana Castro, O Globo
Mais da metade dos brasileiros (51%) reprovam as condições de segurança no país e pelo menos 80% da população já mudaram de hábitos diante da escalada da violência. Divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a pesquisa do Ibope, "Retrato da Sociedade Brasileira: Segurança Pública"; revela ainda que 79% presenciaram algum tipo de crime ou situação de violência nos últimos 12 meses.
A maioria dos entrevistados que disse ter mudado de hábito conta que não anda com dinheiro (63%). Outros aumentaram o cuidado para sair ou entrar em casa, na escola ou no trabalho (57%) e evitam sair à noite (54%). Embora seja minoria, 2% disseram ter comprado arma por conta da violência.
— Fica muito claro que as pessoas não estão podendo circular livremente nas suas cidades. Claramente, a violência está impactando na mobilidade e na maneira de os cidadãos se relacionarem com a cidade - disse o gerente-executivo da Unidade de Pesquisa da CNI, Renato da Fonseca.
Já entre os entrevistados que presenciaram alguma situação de violência ou algum crime nos últimos 12 meses, 67% disseram ter visto alguém usando drogas na rua, 51% afirmaram que presenciaram a polícia prendendo alguém e 41% viram uma pessoa sendo agredida. Segundo a pesquisa, 8% viram alguém sendo assassinado no período mencionando.
Saneamento avança a passos lentos
Mais de 40% dos municípios não têm rede coletora de esgoto; desperdício de água chega até a 50% em algumas cidades
O Globo
Há décadas, o Brasil avança lentamente quando se trata de saneamento básico. Em 2008, dos 5.564 municípios existentes, 2.945 (44,8% do total) ainda não contavam com rede coletora de esgoto. Já os domicílios com acesso à rede não chegavam nem à metade: eram 45,7%.
Os dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) de 2008 e do Atlas do Saneamento 2011, divulgados pelo IBGE, mostraram ainda que em oito anos o número de cidades com coleta de esgoto cresceu menos de 3 pontos percentuais.
Em 2000, 52,2% das cidades tinham acesso à rede. Em 2008, eram 55,1% dos municípios. No entanto, mesmo com esses números, que têm ares de calamidade pública, algumas cidades não têm legislação específica para o setor.
— Telefonia e energia elétrica chegam a quase todos, mas o Brasil ficou 20 anos sem priorizar saneamento. Agora, mesmo investindo R$ 7,5 bilhões por ano, a gente não avança tanto quanto deveria. As grandes obras têm problemas, e muitas cidades não fizeram seus planos de saneamento ou não têm legislação. Isso permite, por exemplo, que condomínios sejam criados independente de terem rede de esgoto — conta Edson Carlos, presidente-executivo do Trata Brasil.
Polícia apreende na Bahia lençóis e jalecos de hospitais de SP e Rio
A polícia aprendeu 200 kg de lençóis, sacos de armazenagem e jalecos em Ilhéus, no Sul da Bahia, vindos de hospitais do Rio de Janeiro e de São Paulo. O material estava sendo vendido em uma loja de tecidos no centro da cidade.
A polícia chegou ao local após uma denúncia anônima. Segundo a polícia, parte do material estava sujo de sangue. O filho do dono da loja disse que o material foi comprado em São Paulo e era vendido para clínicas e instituições de Ilhéus.
Estado do Rio registrou mais de 160 mil casos de dengue desde janeiro
A Secretaria estadual de Saúde informou, nesta quarta-feira, que desde o dia 2 de janeiro até o último dia 15 foram notificados 161.315 casos de dengue no estado do Rio. A tendência, no entanto, é de queda na incidência de casos notificados no estado. No total foram notificadas 133 mortes, no período, em decorrência da doença. O Rio foi o município com mais casos de óbitos, quando 51 pessoas não resistiram à dengue, seguido de São Gonçalo, com 15 mortes.
Petróleo: Rio e ES já não contam com o veto de Dilma
Flávia Barbosa, O Globo
Rio e Espírito Santo abriram guerra à União, com a qual contaram como aliada na maior parte das discussões sobre a redivisão dos royalties do petróleo, que se arrastam há dois anos.
Depois de vetar a primeira proposta aprovada pelo Congresso, em respeito aos interesses fluminense e capixaba, o Palácio do Planalto jogou a toalha diante da sanha de gastos imediatos dos estados não produtores e decidiu atuar para salvar o máximo de receita do pré-sal para o Fundo Social sob sua gestão, o que teve como efeito colateral jogar na fogueira os interesses de Rio e Espírito Santo.
Por isso mesmo, as bancadas não contam, hoje, com o veto da presidente Dilma Rousseff a novo texto desfavorável.
Nas discussões em plenário ontem, a "traição" da União e a falta de questionamento no Senado sobre a posição do Palácio do Planalto foram duramente atacadas pelo senador Magno Malta (PR-ES), que discursou extremamente exaltado:
- Nosso caminho é o Supremo. O que vocês estão fazendo não é honesto. Vou falar isso para a presidente Dilma, a quem acompanhei no segundo turno. Querem tirar do Rio e do ES para resolver o problema do Brasil. Que ganância arretada é esta? A União não pode entrar com nada? Petroleira não pode pagar nada? Ah, vão prejudicar a Petrobras, que vai investir menos? Que brincadeira é esta? É uma estratégia safada!
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Planalto avisa ao PCdoB que partido deve entregar logo o Esporte
Gerson Camarotti e Maria Lima, O Globo
Sem conseguir conter a crise política que envolve o ministro do Esporte, Orlando Silva, e seu partido, o Palácio do Planalto já emitiu sinais de que seria melhor o PCdoB entregar logo o cargo e conduzir o processo de saída do ministro. Segundo interlocutores da presidente Dilma Rousseff, quanto mais demorar essa solução, mais o PCdoB e o governo ficarão fragilizados.
Dilma chega nesta quinta-feira à noite da viagem à África e pode se encontrar ainda nesta quinta-feira com Orlando e com o presidente do PCdoB, Renato Rabelo. Dirigentes do partido já admitiam reservadamente que podem ficar sem o Ministério do Esporte, tamanho o desgaste político.
PM diz que entregará gravação à PF que será 'um nocaute'
Demétrio Weber, O Globo
Após quase oito horas de depoimento à Polícia Federal, o soldado da Polícia Militar João Dias Ferreira disse no início da madrugada desta quinta-feira que entregará à PF, na próxima segunda-feira, o áudio de uma conversa que comprovará o esquema de corrupção no Ministério do Esporte denunciado por ele à revista Veja, na semana passada. Segundo Ferreira, que reafirmou as acusações contra o ministro Orlando Silva, essa gravação será um "nocaute".
Ferreira afirmou que não fez nem fará acordo de delação premiada. E disse que pediu proteção à PF. Ferreira disse que compareceu espontaneamente à PF e que retomará o depoimento na segunda. Nesta quinta-feira ele irá à Procuradoria-Geral da República.
- Não tem acordo de delação. Nem agora, nem nunca - declarou.
Ferreira disse não ter apresentado à PF nenhuma gravação nesta quarta-feira, mas apenas transcrições de conversas envolvendo a cúpula do Ministério do Esporte, acerca de desvios no programa Segundo Tempo, além de documentos que comprovariam fraudes.
Ele não esclareceu se o ministro Orlando aparece ou é mencionado nas transcrições. Ferreira disse ainda que o áudio que entregará na segunda-feira está em São Paulo, motivo pelo qual não pode ser levado nesta quarta-feira à PF. O soldado não explicou por que a gravação está em São Paulo.
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Esportes: CGU terá dificuldade para reaver R$ 12,5 milhões
A Controladoria Geral da União (CGU) terá dificuldades para reaver os R$ 12,5 milhões repassados à Universidade do Professor do Paraná e à ONG Instituto Rumo Certo, no Rio. As duas entidades estão com as suas atividades paralisadas. Ambas lideram uma lista de instituições beneficiadas em convênios com o programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte, dos quais a CGU cobra a devolução do dinheiro. Ao todo, a CGU quer de volta pelo menos R$ 49,19 milhões de 26 ONGs suspeitas de irregularidades no projeto .
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Campinas foi irrigada por recursos do Ministério do Esporte
O Globo
Campinas foi à cidade paulista que mais recebeu recursos do Programa de Implantação e Modernização de Infraestrutura para Esporte Recreativo e de Lazer, do Ministério do Esporte, este ano.
Foram liberados R$ 3,731 milhões para o ginásio poliesportivo do município, cujo projeto de reforma foi previsto num convênio de R$ 7 milhões, assinado em 2009. A contrapartida do município é de R$ 1,5 milhão. O segundo maior valor foi para a cidade vizinha de Americana, que recebeu R$ 2,497 milhões.
Responsável pelo projeto, o secretário municipal de Esporte de Campinas, Gustavo Petta, é cunhado do ministro Orlando Silva e integrante da direção do PCdoB no município. Campinas foi também escolhida pelo ministério para sediar um Centro Esportivo de Alto Rendimento (Cear). A decisão rendeu mais de R$ 15 milhões para a cidade.
Esportes renova convênio que nunca saiu do papel
Reportagem do 'Estado' voltou a Novo Gama (GO), onde há 8 meses constatou existência de entidade de fachada que assinou contrato
Leandro Colon, O Estado de S. Paulo
O Ministério do Esporte prorrogou até agosto de 2012 um convênio de R$ 911 mil do programa Segundo Tempo com uma entidade de fachada que, apesar de ter assinado o contrato em dezembro de 2009, jamais executou o projeto no entorno do Distrito Federal. O convênio fantasma, usado como propaganda eleitoral do PC do B em 2010, foi revelado pelo Estado em fevereiro deste ano. O ministério ignorou as suspeitas de fraude.
A renovação foi publicada há menos de dois meses, no dia 25 de agosto passado, pelo secretário executivo do ministério, Waldemar Souza, e pelo secretário nacional de Esporte Educacional, Wadson Ribeiro, dois homens de confiança do ministro Orlando Silva.
O contrato é com o Instituto de Desenvolvimento da Criança e do Adolescente (Idec), uma entidade registrada na casa de seu dono, Ranieri Gonçalves, em Novo Gama, cidade goiana da região do DF que tem eleitores que votam na capital federal. Na época da publicação da reportagem do Estado, Orlando Silva anunciou abertura de sindicância e prometeu “apurar e punir”.
A reportagem voltou nesta quarta-feira, 19, ao local e não constatou nenhuma mudança: por lá, o Segundo Tempo ainda é só promessa. No fim da noite de ontem, o Ministério do Esporte informou que decidiu rescindir o contrato e que pedirá a restituição dos R$ 393 mil já liberados.
O cancelamento do convênio, porém, não foi oficializado no Diário Oficial da União (D.O.U), apesar de a assessoria da pasta afirmar que essa decisão foi tomada na semana passada. O dono da ONG, porém, disse à reportagem que o convênio está em vigor.
Copom resiste à pressão e baixa juros de 12% para 11,5%
Mesmo com a pressão da presidente Dilma Rousseff por um corte mais agressivo na taxa básica de juros, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) repetiu ontem a redução de juros do encontro anterior, a segunda consecutiva, e cortou, por unanimidade, a Taxa Selic em 0,5 ponto percentual, para 11,5% ao ano.
O colegiado seguiu as indicações dadas pelo presidente da instituição, Alexandre Tombini, nas últimas semanas, de que o BC manteria um ajuste moderado nos juros. A decisão foi elogiada por analistas, que apontaram retorno da previsibilidade das ações do BC. A expectativa é de que nova redução ocorra até o fim do ano.
Royalties: substitutivo do projeto é aprovado no Senado. O Rio perde
Mônica Tavares, Luiza Damé, Flávia Barbosa, Martha Beck, Cristiane Jungblut e Vinicius Neder, O Globo
O plenário do Senado acabou de aprovar em votação simbólica o projeto substitutivo do senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), redistribuindo os royalties do petróleo. Acordos negociados durante todo o dia, permitiram que o governo impusesse uma grande derrota ao Rio e ao Espírito Santo, e também retirasse todos os penduricalhos para recompor alguns pontos considerados essenciais.
O governo cobrou que a Petrobras fosse a única operadora e que a União retomasse o percentual de 22% no sistema de partilha. Foi suprimido, por exemplo, o artigo que vinculava a destinação de parte dos recursos dos royalties para a área da defesa.
- Saíram todos os penduricalhos - disse Humberto Costa.
A bancada do Rio contou com a presença de deputados, como Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mas perdeu ao final da sessão o ímpeto para lutar contra o projeto. Aprovado no Senado, o projeto irá para a Câmara, onde o líder do governo na Casa, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), disse que só será votado em 30 dias. Para Jucá, a simples aprovação no Senado já acaba com o temor de votação do veto à emenda Ibsen.
O substitutivo do senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) propõe a redivisão total das receitas, incluindo aquelas obtidas nas áreas já licitadas. As perdas para os cofres fluminense e capixaba são estimadas em R$ 4,3 bilhões somente em 2012, chegando a R$ 6,7 bilhões sete anos depois.
Senadores do Rio de Janeiro e Espírito Santo fizeram discursos criticando a proposta de mudança das regras dos royalties. O mais inflamado foi o líder do PR no Senado, Magno Malta (ES).
- O nosso caminho é o Supremo (Supremo Tribunal Federal). O que vocês estão fazendo não é honesto. Por que não taxar as petroleiras? Presidente Dilma, que ganância "arretada" é essa? - disse Magno Malta.
Onde começa a fraude (Editorial)
O Estado de S.Paulo
O ministro do Esporte, Orlando Silva, do PC do B, atribuiu ao seu antecessor e ex-correligionário Agnelo Queiroz, que se filiou ao PT e se elegeu governador do Distrito Federal, a responsabilidade pela escolha de duas organizações não governamentais (ONGs) criadas pelo PM João Dias Ferreira para executar, mediante convênio, projetos no âmbito do programa Segundo Tempo, destinado a proporcionar a prática de esportes a crianças e jovens carentes.
No ano passado, o policial foi preso por suspeita de participação no desvio de R$ 1,99 milhão daqueles contratos. Ele, por sua vez, acusa o ministro de envolvimento pessoal com as fraudes, cujo produto seria canalizado para o caixa 2 do PC do B. A defesa de Orlando Silva é primária.
Se é verdade que, na condição de secretário executivo da pasta, foi instruído pelo chefe a assinar um convênio com João Dias, o fato é que nada mudou depois que ele se tornou ministro; ou melhor, as irregularidades no Esporte ficaram mais evidentes.
Debatendo-se no centro das denúncias, Orlando Silva procura ainda assumir o papel de moralizador anunciando o fim dos convênios com ONGs para o Segundo Tempo. Nenhum dos 11 contratos do gênero, a vencer no próximo ano, será renovado.
Mas ele fala como se a escolha das entidades não guardasse qualquer relação com as mutretas que o escândalo trouxe à luz ou que já haviam sido expostas.
Em 2010, conforme o Estado revelou em fevereiro, o Ministério repassou R$ 30 milhões a ONGs de membros e aliados do PC do B. O que o Tribunal de Contas da União (TCU) e a Controladoria-Geral da União têm apurado não deixa dúvida de que a fraude, tosca e rasteira, é a regra.
O TCU descobriu um caso em que cerca de 90% dos gastos correspondem a "atos impróprios".
Trata-se de um convênio de R$ 2 milhões entre o Ministério do Esporte e a Federação dos Trabalhadores no Comércio (Fetracom) para atender 5 mil crianças do Distrito Federal. A auditoria só encontrou 348 crianças - e mazelas em profusão.
Leia a íntegra em Onde começa a fraude
Indignados e ignorantes
Guilherme Fiúza, ÉPOCA
O bem está de volta. O mundo foi tomado por uma onda de protestos, organizados por ativistas que se orgulham de ser pessoas comuns: os “indignados”.
Conectados pelas redes sociais, os indignados foram às ruas quase simultaneamente em mais de 80 países.
A inédita ofensiva global teve cores e slogans variados, mas todas as manifestações foram unificadas por um mesmo traço: a falta de importância.
Essa espécie de tsunami de aquário produziu cenas impressionantes: no Vale do Anhangabaú, por exemplo, uma multidão acampou sob o Viaduto do Chá. Os organizadores calcularam essa multidão em cerca de 200 pessoas. A polícia acha que eram umas 50.
O mundo nunca mais será o mesmo.
Contra o que exatamente os indignados protestam ao redor do planeta? Contra as corporações, o capitalismo financeiro e os governantes. O céu, a terra e o mar foram poupados. Por enquanto.
Os indignados estão saindo às ruas para fazer uma denúncia: a humanidade virou refém das empresas, dos governos e do dinheiro. Na próxima volta no quarteirão eles devem explicar para que planeta devemos todos nos mudar.
Provavelmente, para o mundo da Lua.
Já tem gente dizendo que a histórica revolta de maio de 1968 está sendo reeditada na marcha dos indignados de 2011. Fora o fato de que a primeira foi real e a segunda é virtual, são mesmo iguaizinhas.
“Ocupe Wall Street”, prega a filial americana do protesto. É isso aí. A bolsa de valores só serve para enriquecer o Bill Gates, o Steve Jobs e seus colegas de capitalismo selvagem.
Melhor estatizar logo esse cassino, e transformá-lo num Bolsa Família mundial.
Quando o dinheiro acabar, nos alimentaremos todos de poesia populista.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu aos governantes que ouçam os indignados, e sua “mensagem muito clara e inequívoca para todo o mundo”. E acrescentou: “É preciso uma perspectiva mais ampla para salvar esse mundo.”
Eis a mensagem clara e inequívoca de Ban Ki-moon, que já viu a luz: arranje um emprego na ONU e seja você também um indignado profissional.
A primeira vítima
Dora Kramer, O Estado de S. Paulo
Geralmente atrapalhada e ineficaz, a oposição marcou ontem um ponto em favor da função fiscalizadora que lhe foi atribuída pelas urnas: ouviu reservadamente o policial que acusa de corrupção o ministro do Esporte e propôs à Câmara que o faça publicamente.
Os partidos governistas, que participavam de uma sessão em tese convocada para questionar o ministro Orlando Silva, ficaram diante de um desconfortável dilema: aceitar e assumir os riscos decorrentes ou recusar e admitir que a ideia nunca foi esclarecer coisa alguma, mas apenas repetir a cenografia de saudações laudatórias de sempre.
Os deputados oposicionistas dizem que João Dias Ferreira, o denunciante, fez um relato consistente e ainda mais abrangente sobre as denúncias. Pode ser e pode não ser, mas por ora a vítima é sempre a primeira atingida: a verdade.
Os governistas, assim como o ministro Orlando Silva, desqualificam o "delinquente" (no que não contam novidade), mas não desmontam as denúncias.
Portanto, a situação é de palavra contra palavra. E, nesse caso, a maneira transparente de firmar um compromisso com a verdade seria promover a confrontação das palavras.
Falou-se muito na sessão de ontem em defesa da democracia. Ao mesmo tempo, os governistas buscavam escapar da sinuca em que foram postos pela oposição insinuando que o Parlamento não poderia equiparar um ministro a um molambo qualquer. Muito menos a um acusado de corrupção.
Incorrem em dois tipos de contradição: agridem o princípio democrático da igualdade dos cidadãos e vários contrariam o próprio comportamento reverente em relação a réus processados por corrupção que estão pontificando por aí.
Como tantas outras convocadas para dar a ministros a chance de se defender, a sessão de ontem foi inócua. Orlando Silva mais ouviu (elogios) que falou. A base governista deu sinais de que não pretende abrir espaço ao denunciante, desmontando o discurso do ministro de que não tem nada a temer.
Leia a íntegra em A primeira vítima
Jogo sujo contra todas as idades
A escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014 foi o fim de uma espera que durou seis décadas. Quando, enfim, se fez justiça, Lula comemorou como obra de seu governo. Desde então, há mais motivos para bombas que para foguetes.
Numa semana a presidente Dilma Rousseff vai a reunião com a Fifa e sequer é recebida pelo dono dos porcos, Joseph Blatter, que escala para dialogar com ela um leitão suspeito de fazer muita pururuca, Jérôme Valcke. Logo surge na capa da revista o ministro do Esporte, Orlando Silva, como integrante de bando de garagem.
Antes, por pressão da FIFA e pressinha de seus vassalos no Palácio do Planalto, já haviam sido aprovados três vergonhas: o Estatuto do Torcedor e sua reforma, isenções tributárias indecorosas para a entidade e o Regime Diferenciado de Contratações.
Ao ser enviada para o Congresso a Lei Geral da Copa, um acinte em cada linha, comecei aqui e no Senado uma campanha de esclarecimentos.
Em diversos artigos, entrevistas, tweets e pronunciamentos, foram mostradas as falhas nos documentos legais e nas atitudes das autoridades, que ultrapassaram os limites da indecência.
Leia a íntegra em Jogo sujo contra todas as idades
Demóstenes Torres é procurador de Justiça e Senador (DEM/GO)
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