NÓS FAZEMOS A DIFERENÇA NO MUNDO...

Nós fazemos a diferença no mundo
"Eu sou a minha cidade, e só eu posso mudá-la. Mesmo com o coração sem esperança, mesmo sem saber exatamente como dar o primeiro passo, mesmo achando que um esforço individual não serve para nada, preciso colocar mãos à obra. O caminho irá se mostrar por si mesmo, se eu vencer meus medos e aceitar um fato muito simples: cada um de nós faz uma grande diferença no mundo." (Paulo Coelho)

Na qualidade de Cidadão, afirmamos que deveríamos combater o analfabetismo político, com a mesma veemência que deveria ser combatido o analfabetismo oficioso no Brasil. Pois a politicagem ganha força por colocarmos poder de importantes decisões nas mãos de quem não se importa com o que irá decidir.
Concordo com Bertolt Brecht, quando afirma que: "O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos”. Ele não sabe o custo de vida, nem que o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato, saneamento, mobilidade urbana, e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. “Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce à prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”

terça-feira, 25 de maio de 2010

A Hora da Estrela de Clarice Lispector

Rodrigo S.M., o narrador, constitui um dos personagens centrais de "A Hora da Estrela", de Clarice Lispector. Ao mesmo tempo em que cria e narra a vida de Macabéa, identifica-se com ela, mesmo quando a agride. Dessa forma, você já deve ter percebido que o texto é metalinguístico: um autor - narrador que fala de sua própria obra e busca nela e com ela conhecer-se e reconhecer-se.

Macabéa é alagoana, virgem, ignorante, tem dezenove anos e diz-se "datilógrafa". Veio para o Rio de Janeiro com uma tia que cuidara dela desde os dois anos de idade. Quando a tia morre, Macabéa muda-se para um quarto que divide com quatro moças que trabalhavam nas Lojas Americanas: Maria da Penha, Maria Aparecida, Maria José e Maria.

Raimundo, o patrão de Macabéa, avisa-lhe que será despedida (Macabéa errava demais na datilografia, ficará apenas com Glória (a colega de Macabéa na firma e que se considerava sensual e bonita). Macabéa gostava de ouvir a Rádio Relógio porque os locutores falavam "palavras diferentes" embora ela desconhecesse os significados e não soubesse o que fazer com as informações.

Um dia em que chovia muito, Macabéa encontrou Olímpico de Jesus que se apresentou como Olímpico de Jesus Moreira Chaves, metalúrgico, paraibano. Os dois apresentam ruídos no processo de comunicação: ela por não saber e não ter o que dizer e ele por se sentir superior, principalmente em relação ao aspecto linguístico, porém pouco sabia. Olímpico era ambicioso, era capaz de qualquer ato para ascender socialmente. Até que ele conhece Glória e resolve afastar-se de Macabéa.

Com o rompimento, Macabéa compra um batom vermelho, pinta os lábios no banheiro da firma em busca da identidade desejada: a atriz Marilyn Monroe. Glória zomba da colega, contudo resolve convidá-la para um lanche em sua casa no domingo. Em seguida, indica-lhe um médico.

O médico, que não gostava de trabalhar com pobres e para pobres, distrata Macabéa e ela, mesmo assim, agradece. Constata-se que Macabéa está com tuberculose.

Quando ela volta a falar com Glória, esta indica-lhe uma cartomante: Madama Carlota. A cartomante mente para Macabéa que sai de lá convencida de que será outra, de que será feliz e de que encontrará seu príncipe. Ao dar um passo para atravessar a rua, ela é atropelada por um carro Mercedes Benz ouro. Esta é a hora da estrela onde ela será "tão grande como um cavalo morto": ferida de morte, a personagem vomita um pouco de sangue, mas queria ter vomitado "uma estrela de mil pontas". O narrador termina refletindo sobre a morte não só de Macabéa como a dele, mas "por enquanto é tempo de morangos. Sim".

Análise do livro A Hora da Estrela
Clarice Lispector reúne em "A Hora da Estrela" três abordagens fundamentais: filosófica, social e estética.

Pela perspectiva filosófica, enfoca os limites e alcances do conhecimento do mundo mediante a palavra e a consciência, através das quais o ser humano se diferencia dos outros seres; em relação ao social, investiga os impasses criados pela separação dos indivíduos em diferentes grupos, destacando o escritor e o nordestino. Quanto à estética, investiga o ato da criação e da originalidade.

A narrativa se estrutura a partir de um narrador-personagem que fala de si mesmo e de um narrador onisciente que conta a história de Macabéa.

Há trechos na obra de Clarice que parafraseiam ou lembram grandes autores da fase realista e modernista. Observe os fragmentos a seguir:

 I - "E só minto na hora exata da mentira. Mas quando escrevo não minto." (Fernando Pessoa)

 II - "Mas voltemos a hoje. Porque, como se sabe, hoje é hoje. Não estão me entendendo e eu ouço escuro que estão rindo de mim em risos rápidos e ríspidos de velhos."(Machado de Assis)

"É coisa muito séria e muito alegre: sua vida vai mudar completamente!"

 III - "Por Deus! Eu me dou melhor com os bichos do que com gente." (Graciliano Ramos)

 IV - "Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero. E agora só quereria ter o que eu tivesse sido e não fui." (Manuel Bandeira)

"A Hora da Estrela" apresenta treze títulos que se desdobram na primeira página do livro:

A Hora da Estrela
A culpa é minha
Ou A Hora da Estrela
ou Ela que se arranje
ou O direito ao grito
Quanto ao futuro
ou Lamento de um blue
ou Ele não sabe gritar
ou Uma sensação de perda
ou Assovio no vento escuro
ou Não posso fazer nada
ou Registro dos fatos antecedentes
ou História lacrimogênica de cordel
ou Saída discreta pela porta dos fundos

Todos aparecem ao longo da narrativa, durante o processo de criação. Reúnem narrador, escritor e criação. É importante observar que apenas o 5o título é acompanhado por ponto final. Isto acontece porque a história a ser narrada contém segredos (um deles pode ser lido como o que é o mistério da morte?) e também é a frase que Macabéa pronunciou antes de morrer.

A Hora da Estrela representa o momento epifânico de Macabéa: a hora da morte. É irônica porque só no momento da morte é que Macabéa alcança a grandeza do ser. Já a autora atinge a epifania ao concluir a obra. É a epifanização do tormento de escrever.

O narrador também é personagem principal porque ao desenvolver a narrativa, mostrando-nos Macabéa, busca a própria identidade. Moldara Macabéa sobre o seu próprio destino e solidão, e morre com ela. Ao mesmo tempo ele é um disfarce do "eu" da escritora.

A escritora e o narrador tecem críticas a respeito do ato de falar, expressar-se, escrever, ler, interpretar. Usando as personagens Macabéa e Olímpico. Macabéa possui um vocabulário restrito, cultura por flashes, baseada na memorização acrítica. Olímpico não tem consciência crítica para interrogar o código linguístico e aproximar-se das palavras sem conhecer o seu conceito.

A obra de Clarice Lispector pertence à Terceira Geração Modernista. Há o trabalho com o fluxo de consciência, com a linguagem; transita pelo plano metafísico (indagações existenciais), pelo inconsciente, pela auto-análise com projeções da filosofia existencialista.

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