Ao publicarmos essa matéria já temos no Rio de Janeiro 381 mortos (segundo RJTV) ... Não temos uma Defesa Civil preparada para uma tragédia com data marcada e temos o maior “Royalty do petróleo” do país já pensou se não tivéssemos?... Nessa época comum de tragédias no Rio de Janeiro o governador sempre foge para París!... Como diz um PGR “o Inea é um órgão viciado em coisas ilegais”
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TRAGÉDIA E DESCASO
TEMPORAIS DEIXAM 271 MORTOS
O Globo - 13/01/2011
Governo do estado estima que duas mil famílias precisem ser removidas de áreas de risco em Teresópolis
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TRAGÉDIA E DESCASO
TEMPORAIS DEIXAM 271 MORTOS
O Globo - 13/01/2011
Governo do estado estima que duas mil famílias precisem ser removidas de áreas de risco em Teresópolis
Mais uma vez castigada pelas chuvas de verão, a Região Serrana do Rio ainda contabiliza as perdas depois dos temporais que começaram na madrugada de segunda-feira. Até o fechamento desta edição, Teresópolis, Nova Friburgo e Petrópolis já somavam 271 mortes, em uma contagem dos municípios. Teresópolis concentrava o maior número de mortos: 130. Pelo menos 960 pessoas ficaram desabrigadas, e outras 1.280 desalojadas. A Defesa Civil de Petrópolis registrava 34 mortes, mas a própria prefeitura esperava um número bem maior, pela dificuldade das equipes de socorro enxergar aos locais mais atingidos. Haveria ainda mais de 30 desaparecidos.
Os problemas de comunicação na cidade de Nova Friburgo, que passou o dia de ontem isolada por barreiras, também dificultavam o trabalho de resgate.
Lá, foram ao menos 107 mortes, sendo três bombeiros, soterrados enquanto se dirigiam para uma operação de salvamento. No último boletim divulgado ontem pela Defesa Civil do estado, às 20h15m, as três cidades totalizavam 209 vítimas. No início da tarde, o prefeito de Teresópolis, Jorge Mário Sedlacek, decretou estado de emergência e calamidade pública. Dezessete bairros da cidade foram atingidos por desmoronamentos. As mortes ocorreram, principalmente, nas localidades de Poço dos Peixes, Fazenda da Paz (no bairro da Posse), Granja Florestal, Parque do Imbuí, Barra do Imbuí, Vale Feliz, Jardim Serrano, Caleme e em Bonsucesso, na zona rural. Nos cálculos do prefeito, serão necessários R$ 200 milhões para reerguer Teresópolis. Os desabrigados estão sendo levados para o Ginásio Poliesportivo Pedro Jahara, mais conhecido como Pedrão, e para um galpão na Rua Tamoio, no bairro do Meudon. As escolas dos bairros atingidos também estão acolhendo as vítimas. — Um hospital de campanha já está sendo erguido no ginásio Pedrão. Vacinas contra leptospirose e tétano estão sendo aplicadas em moradores - disse o prefeito.
Seis mil famílias em áreas de risco
● Na avaliação do secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, cerca de duas mil famílias devem ser removidas de Teresópolis, sendo que 200 já foram atendidas com aluguel social. O secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Rodrigo Neves, que sobrevoou com Minc a região, afirma que a estimativa é de que, em Petrópolis, existam 4 mil famílias em áreas de risco, sendo que 500 em locais de extremo risco. Para Minc, houve uma combinação de um fenômeno natural com a imprudência dos prefeitos que não contiveram a ocupação desordenada: — Houve irresponsabilidade histórica de vários prefeitos. Além dos omissos, que não impediram a ocupação desordenada, alguns chegaram a estimular a ocupação nas encostas—Disse Minc, lembrando ser fundamental aumentar as áreas de preservação ambiental e a remover famílias de locais de risco. — O trabalho de médio prazo é reorganizar as áreas, realocar as pessoas.
O mapeamento de risco está pronto para as três cidades (Teresópolis, Petrópolis e Friburgo). Precisamos de mais aluguel social emergencial e acabar com o populismo, fazendo a realocação de famílias. A Secretaria e o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) mobilizaram máquinas e pessoal para ajudar as equipes de socorro. Presidente do Inea, Marilene Ramos conta que, em Teresópolis, a catástrofe atingiu os acessos, impedindo a chegada dos bombeiros e da Defesa Civil aos locais onde a tragédia foi maior. —Em Teresópolis o cenário é de destruição, e não há acesso para o socorro. Estamos mobilizando escavadeiras, dragas e caminhões para ajudar os prefeitos a abrir caminho até os locais onde estão as vítimas e desentupir os rios. Além disso, estamos trazendo equipe do DRM, geólogos e geotécnicos, para identificar áreas de risco mais críticas e apoiar reassentamentos—disse Marilene, que percorreu Petrópolis e Teresópolis.
A Secretaria estadual de Agricultura também começou ontem a deslocar para Teresópolis máquinas do programa Estradas da Produção. Os equipamentos, usados na recuperação de estradas vicinais, vão auxiliar na desobstrução dos acessos. A secretaria enviará para o município 30 profissionais, inclusive engenheiros. Os trabalhos emergenciais em Teresópolis ocorrem em mais de 20 frentes. — A situação é muito crítica em vários pontos de Teresópolis. Chegaremos a quase mil desabrigados na cidade relatou Rodrigo Neves, que criou um gabinete de crise para levantar as necessidades dos moradores. Moradora do bairro de Bonsucesso, Isabel Cristina Batista Ferreira, de 40 anos, perdeu uma filha de 5anos.
Ela conta que estava com as três filhas — uma de 17 anos e duas de 5—e, por volta das 2h foi pega de surpresa pela enxurrada: — A água começou a entrar em casa devagar . De uma hora para outra, subiu até o teto. Meu pai jogou uma das gêmeas para o telhado e me segurou pelo braço. As outras duas ficaram dentro da casa ate a água baixar. Não durou nem cinco minutos.
Mas a menorzinha não resistiu —desabafou, enquanto esperava a liberação do corpo. Isabel era uma das dezenas de pessoas que se postaram ao longo da tarde de ontem na porta da 110a -DP ,para onde foram levados os corpos. No local, parentes e amigos dos desapareci- dos buscavam noticias de parentes ou amigos. Entre os rostos inconsoláveis, estava Mozair Gonçalves, de 44 anos. Morador do bairro de Campo Grande, ele perdeu a mulher e um filho de 13 anos. Seu vizinho José Luiz dos Santos Barbosa diz que o cenário no bairro era de terror. —Nunca imaginei que pudesse acontecer isso ali.
Mas a menorzinha não resistiu —desabafou, enquanto esperava a liberação do corpo. Isabel era uma das dezenas de pessoas que se postaram ao longo da tarde de ontem na porta da 110a -DP ,para onde foram levados os corpos. No local, parentes e amigos dos desapareci- dos buscavam noticias de parentes ou amigos. Entre os rostos inconsoláveis, estava Mozair Gonçalves, de 44 anos. Morador do bairro de Campo Grande, ele perdeu a mulher e um filho de 13 anos. Seu vizinho José Luiz dos Santos Barbosa diz que o cenário no bairro era de terror. —Nunca imaginei que pudesse acontecer isso ali.
A mata nativa desceu toda, com paus, pedra, com tudo. Minha casa ficou em pé porque dois carros virados protegeram o muro. Eu e uns amigos ainda salvamos muita gente, mas também encontramos muita gente morta. Rose Mari Barbosa Silva, de 43 anos, perdeu cinco pessoas de sua família no bairro Campo Grande, em Teresópolis. Ela disse que não imaginava que a tragédia fosse tão grande. Rose Mari mora no bairro Perdigueiro e ontem caminhava na lama em busca de notícias. —Perdi minha mãe, minha filha, meu cunhado e dois sobrinhos. Não sei como vou recomeçar a vida sem eles. Mesmo não morando no local da tragédia, vi toda a minha vida e minha família indo pela lama. ■
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União ignora abusos contra os terceirizados
Silêncio contra o desrespeito
Autor(es): Gabriel Caprioli Cristiane Bonfanti
Correio Braziliense - 13/01/2011
Mesmo ciente, governo não comenta abusos a direitos trabalhistas pelas prestadoras de serviço. Irregularidades estão disseminadas
O desrespeito de empresas terceirizadas contratadas pelo governo federal aos direitos trabalhista não afeta apenas os empregados responsáveis por serviços básicos, como os de limpeza. As mesmas queixas de atrasos nos salários e no 13º, de demora nas férias e de não pagamento de benefícios como o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), vale-transporte e tíquete alimentação, foram relatadas ao Correio por funcionários mais bem remunerados, ocupantes de cargos que exigem qualificação maior, entre eles os de secretário, auxiliar administrativo e técnico. Apesar de todos os desmandos, o governo tem optado pelo silêncio.
O golpe é o mesmo. As prestadoras de serviço ganham as licitações com propostas de orçamento muito baixas, irrealizáveis. Para garantir os lucros, deixam de pagar os benefícios, embolsando também os valores referentes ao recolhimento do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), descontado dos trabalhadores, mas não repassado à Previdência.
No Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), mais de 300 auxiliares administrativos são vítimas de frequentes atrasos salariais e de vale-transporte. Há três meses, nem os contracheques são entregues. Uma técnica que trabalha no instituto afirmou que o 13º foi depositado com atraso e não integralmente. Outro auxiliar relatou que os funcionários procuraram o Sindicato das Empresas de Asseio, Conservação, Trabalho Temporário e Serviços Terceirizáveis do Distrito Federal e marcaram uma reunião para que os contratados fizessem as queixas.
Medo
O encontro, no entanto, foi cancelado por causa da pressão de superiores e do medo de represálias por parte dos funcionários. “Não é justo. Cumprimos o nosso horário, fazemos o trabalho para o qual fomos contratados e a empresa não faz a parte dela”, disse o auxiliar. Procurado, o Ibama informou que ontem foi um dia de troca de cargos e que não poderia responder à solicitação de esclarecimentos.
Outra irregularidade levou a Justiça Federal a proibir o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) de contratar terceirizados para as funções de secretário, secretário executivo e secretário bilíngue. A liminar é resultado de uma ação proposta pelo Ministério Público Federal (MPF), sob a alegação de que as atribuições devem ser exercidas por concursados.
Em novembro, o Mapa publicou documento segundo o qual contrataria 160 pessoas sem concurso para essas funções. Mas o MPF entendeu que as ocupações não podem ser terceirizadas. A ação se baseia ainda no fato de que todas as funções de técnico em secretariado estão previstas no edital da seleção para agente administrativo, que ainda está em vigor. As 160 vagas, portanto, podem ser preenchidas por candidatos aprovados e listados em cadastro de reserva.
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Dilma cria conselho de gestão
Dilma cria conselho de gestão para cobrar desempenho de ministérios
O Estado de S. Paulo - 13/01/2011
A primeira reunião ministerial, marcada para amanhã, presidente vai exigir de sua equipe o cumprimento de resultados por setores do governo, impondo um estilo mais " empresarial" de administração; agências reguladoras terão padrão "técnico"
João Bosco Rabello
Na primeira reunião ministerial de seu governo, marcada para amanhã, a presidente Dilma Rousseff comunicará sua decisão de impor um forte ajuste nos gastos públicos, especialmente com custeio, que será monitorado de forma rigorosa pelo governo.
Ela reforçará a advertência de que as indicações políticas serão respeitadas, mas que os titulares das pastas terão de se comprometer com resultados que serão cobrados, conforme antecipou reportagem do Estado publicada no domingo. Para as agências reguladoras, nenhuma concessão: as indicações têm de ser necessariamente técnicas e passar pelo seu crivo pessoal.
Na cabeça da presidente está um conceito de governança empresarial, nos moldes do setor privado, que produza um mapa da eficiência de cada área do governo - do primeiro aos demais escalões. O instrumento desse controle será um novo conselho - de Gestão e Competitividade -, ligado diretamente à Presidência da República.
Controle. Esse formato obrigará cada ministro a fixar metas de redução de custos e de realizações, apresentando-as nas reuniões ministeriais periódicas, confrontando-as com os resultados dos demais colegas e justificando no plenário os critérios empregados. Informará o que cortou, onde cortou e quanto cortou. E o quanto realizou no contexto dos cortes.
Não se conhece ainda, no governo, a composição desse novo conselho, mas há uma certeza: dele fará parte o empresário Jorge Gerdau, do grupo que leva seu nome, interlocutor com prestígio junto à presidente e inspirador de sua criação.
A administração dos recursos não se limitará aos cortes no custeio da máquina pública, mas também a uma revisão que traga seletividade aos gastos. "Fazer mais com menos, melhorando a qualidade dos gastos", resumiu uma fonte palaciana.
Investimentos. Dilma não utiliza em nenhum momento a expressão ajuste fiscal, mas deixará claro que vai manter o nível de investimentos que se viabilizará com a redução de custos do governo. Dirá que, no Brasil de hoje, crescimento não gera crise nem inflação.
Ela considera que o País viveu em 2010 um crescimento maior que no período Ernesto Geisel. E acha que ele pode crescer puxado por uma taxa de investimentos acima de 20%. Estima um superávit primário correspondente neste momento a 3% do Produto Interno Bruto (PIB) e crescimento médio de 5% ajudado também pela demanda crescente de alimentos e commodities.
Dilma tem tratado com reservas o tema cambial, mas já confidenciou a interlocutores próximos considerar que o Brasil paga o ajuste da crise de forma indevida, pois fez o chamado dever de casa: câmbio flutuante, superávit maior que a maioria dos países, déficit nominal pequeno e ainda enfrenta protecionismos e a prática de dumping.
E que há uma tolerância com medidas de controle cambial que estão sendo adotadas em outros países. "Parece que querem controles cambiais para todos, menos pro Brasil."
Adequação. Ela tem dado sinais de que exercerá um programa monitorado para não deixar vulnerável o País. Tem chamado de linha "macroprudencial" esse processo de adequação permanente à crise internacional, como faz a China.
Mas no governo ninguém descarta a hipótese de novas medidas cambiais para conter a valorização excessiva do real. Segundo assessores, Dilma cita com frequência o episódio protagonizado pelo primeiro-ministro inglês Winston Churchill (1874-1965), que após negar alterações no câmbio e ser desmentido horas depois pelos fatos, deu de ombros: "Isso é o câmbio."
A dificuldade de conciliar todos esses objetivos com ministérios historicamente guiados pelos interesses da política partidária é um dilema que frequenta as preocupações da presidente.
Para estabelecer um limite aos ministros, costuma filosofar: "Não quero a virtude dos homens, mas a das instituições". Segundo ela, a máquina pública tem de ser transparente e comprometida com a ética e a prática republicanas.
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Ela reforçará a advertência de que as indicações políticas serão respeitadas, mas que os titulares das pastas terão de se comprometer com resultados que serão cobrados, conforme antecipou reportagem do Estado publicada no domingo. Para as agências reguladoras, nenhuma concessão: as indicações têm de ser necessariamente técnicas e passar pelo seu crivo pessoal.
Na cabeça da presidente está um conceito de governança empresarial, nos moldes do setor privado, que produza um mapa da eficiência de cada área do governo - do primeiro aos demais escalões. O instrumento desse controle será um novo conselho - de Gestão e Competitividade -, ligado diretamente à Presidência da República.
Controle. Esse formato obrigará cada ministro a fixar metas de redução de custos e de realizações, apresentando-as nas reuniões ministeriais periódicas, confrontando-as com os resultados dos demais colegas e justificando no plenário os critérios empregados. Informará o que cortou, onde cortou e quanto cortou. E o quanto realizou no contexto dos cortes.
Não se conhece ainda, no governo, a composição desse novo conselho, mas há uma certeza: dele fará parte o empresário Jorge Gerdau, do grupo que leva seu nome, interlocutor com prestígio junto à presidente e inspirador de sua criação.
A administração dos recursos não se limitará aos cortes no custeio da máquina pública, mas também a uma revisão que traga seletividade aos gastos. "Fazer mais com menos, melhorando a qualidade dos gastos", resumiu uma fonte palaciana.
Investimentos. Dilma não utiliza em nenhum momento a expressão ajuste fiscal, mas deixará claro que vai manter o nível de investimentos que se viabilizará com a redução de custos do governo. Dirá que, no Brasil de hoje, crescimento não gera crise nem inflação.
Ela considera que o País viveu em 2010 um crescimento maior que no período Ernesto Geisel. E acha que ele pode crescer puxado por uma taxa de investimentos acima de 20%. Estima um superávit primário correspondente neste momento a 3% do Produto Interno Bruto (PIB) e crescimento médio de 5% ajudado também pela demanda crescente de alimentos e commodities.
Dilma tem tratado com reservas o tema cambial, mas já confidenciou a interlocutores próximos considerar que o Brasil paga o ajuste da crise de forma indevida, pois fez o chamado dever de casa: câmbio flutuante, superávit maior que a maioria dos países, déficit nominal pequeno e ainda enfrenta protecionismos e a prática de dumping.
E que há uma tolerância com medidas de controle cambial que estão sendo adotadas em outros países. "Parece que querem controles cambiais para todos, menos pro Brasil."
Adequação. Ela tem dado sinais de que exercerá um programa monitorado para não deixar vulnerável o País. Tem chamado de linha "macroprudencial" esse processo de adequação permanente à crise internacional, como faz a China.
Mas no governo ninguém descarta a hipótese de novas medidas cambiais para conter a valorização excessiva do real. Segundo assessores, Dilma cita com frequência o episódio protagonizado pelo primeiro-ministro inglês Winston Churchill (1874-1965), que após negar alterações no câmbio e ser desmentido horas depois pelos fatos, deu de ombros: "Isso é o câmbio."
A dificuldade de conciliar todos esses objetivos com ministérios historicamente guiados pelos interesses da política partidária é um dilema que frequenta as preocupações da presidente.
Para estabelecer um limite aos ministros, costuma filosofar: "Não quero a virtude dos homens, mas a das instituições". Segundo ela, a máquina pública tem de ser transparente e comprometida com a ética e a prática republicanas.
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Governo controlará o preço dos alimentos
Governo intervém para conter alta da comida
Autor(es): Jorge Freitas Graziela Reis
Correio Braziliense - 13/01/2011
Intervenção no mercado de produtos agrícolas tenta evitar a alta dos últimos meses, que afeta mais a população de baixa renda.
Ministério da Agricultura decide vender parte dos estoques de grãos para forçar a queda dos preços dos alimentos, mas produtores duvidam que a medida vá surtir efeitos
Governo intervém para conter alta da comida
Autor(es): Jorge Freitas Graziela Reis
Correio Braziliense - 13/01/2011
Intervenção no mercado de produtos agrícolas tenta evitar a alta dos últimos meses, que afeta mais a população de baixa renda.
Ministério da Agricultura decide vender parte dos estoques de grãos para forçar a queda dos preços dos alimentos, mas produtores duvidam que a medida vá surtir efeitos
O governo vai intervir pesadamente no mercado de produtos agrícolas para controlar os preços dos alimentos, cuja alta tem castigado a população de baixa renda. Com a venda de parte dos estoques de grãos, que somam 7,29 milhões de toneladas, e a garantia de preços ao produtor, a equipe econômica quer derrubar o custo da comida e ajudar a manter na mesa dos brasileiros mais pobres: feijão, arroz, carnes de aves e suínos, leite e ovos. Mas essa iniciativa pode ser insuficiente para enfrentar o salto nas cotações internacionais e a evolução da renda dos trabalhadores, que eleva o consumo e, em consequência, gera inflação.
Com a venda de sacas de milho, o Ministério da Agricultura quer garantir a redução do preço do produto in natura e contribuir para diminuir os custos de produção de carne de aves e suínos. O milho é um importante insumo na produção das rações dos animais. Ontem mesmo, já foi realizado um leilão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com entrega de 83 mil toneladas — 66,5% do total de 125,9 mil toneladas oferecidas.
O governo promoverá leilões de arroz para garantir o pagamento mínimo estipulado aos produtores. No início, a oferta será de cerca de 60 mil toneladas do grão. Já os preços do feijão tendem a baixar quando a oferta subir. Segundo análise dos técnicos da Conab, os agricultores estão recebendo pela saca do produto recém-colhido entre R$ 50 e R$ 90, dependendo da qualidade. As recentes chuvas têm criado uma maior dificuldade de compra nas regiões produtoras. A primeira safra, ou safra das águas, terá redução de 1,1% na área plantada, mas será maior em 1,5 milhão do que a anterior.
Círculo vicioso
A equação formada por consumo aquecido e oferta reduzida tem levado à valorização dos alimentos. No caso da carne bovina, não há estoques e é impossível engordar um bezerro da noite para o dia. Nos grãos, as cotações previstas para as sacas é que definem o investimento do produtor. Se o preço baixar, o produtor acaba não plantando. Sem colheita, cai a oferta e o preço chega mais alto na safra seguinte, num círculo vicioso. Por isso, consultores, pesquisadores e, principalmente, produtores rurais não acreditam que qualquer intervenção feita “na marra”, por meio da venda dos estoques reguladores do governo, tenha efeitos duradouros.
O consultor de Mercado da Scot Consultoria Alex Lopes da Silva lembra que a arroba do boi atingiu a cotação recorde no Brasil no ano passado, chegando a R$ 118. “Falta matéria-prima e a renda está em alta. Por isso, houve o pico na entressafra”, explicou. Hoje, o preço da arroba está, em média, em R$ 100 e não há expectativa de queda. Segundo Silva, o preço da carne bovina é diretamente ligado ao aquecimento da economia. “Estudos mostram que, se a renda aumenta 1%, o consumo de carne, principalmente dos cortes traseiros, de maior valor agregado, sobe 0,5%.”
O proprietário da fazenda Agromill, Renato Müller, de Paracatu (MG), também duvida que uma intervenção do governo para baixar preços de grãos surta efeito. “O tiro pode sair pela culatra”, alertou. Ele planta feijão, milho, soja, abóboras e cebolas. Segundo Müller, a saca de 60 quilos de feijão esteve mais cara em agosto (R$ 80). Agora, a cotação está em R$ 50. “Não sei onde querem intervir.”
A onda de elevação de preços não é relacionada apenas ao aumento da renda dos pobres. Segundo Lucilio Alves, pesquisador da Área de Grãos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a recuperação de preços da soja e do milho foi ditada pelo mercado internacional. “Não se consegue ampliar a oferta rapidamente e muito menos reduzir a demanda”, observou. Segundo analistas, o consumo internacional continuará aquecido.
Exportações
As exportações brasileiras de produtos agrícolas bateram recorde em 2010, atingindo US$ 76,4 bilhões, num crescimento de 18% em relação aos US$ 64,7 bilhões de 2009.
Os produtos que se destacaram foram açúcar (US$ 12,7 bilhões), café (US$ 5,7 bilhões), milho (US$ 2,1 bilhões) e carnes bovinas, suínas e de aves (US$ 11,8 bihões). A Ásia se consolidou como principal destino, comprando 30,1% da pauta. Somente a China foi responsável por 14,4% do total. Segundo o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, as vendas podem ultrapassar a casa dos US$ 85 bilhões neste ano. “Seria bastante razoável esperarmos incremento em torno ou acima de 10%”, disse ontem, ao anunciar os números.
Consumidor muda cardápio
Cristiane Bonfanti
A disparada no preço dos alimentos azedou o orçamento dos brasileiros mais pobres em 2010, que tiveram o bolso mais sacrificado que o restante da população e precisaram adaptar o cardápio, deixando de comprar carne e frango e reduzindo o açúcar. O Índice de Preços ao Consumidor Classe 1 (IPC-C1), que mede a inflação para famílias com renda até 2,5 salários mínimos, encerrou o ano em 7,33%, muito acima dos 3,69% de 2009. O número é maior que os 6,24% do IPC-BR, indicador que leva em conta os gastos das famílias com ganhos até 33 mínimos.
A elevação nos preços dos alimentos foi condicionada pela quebra de safra de alguns produtos por causa de problemas climáticos, e pelo crescimento do consumo, resultado da melhora dos rendimentos dos trabalhadores. “Houve aumento no preço dos grãos em geral, que afetou outros alimentos, como o frango. Os problemas na oferta do trigo, por exemplo, encareceram o pãozinho francês, fundamental na mesa do brasileiro. As famílias de baixa renda sentiram muito, pois a alimentação é o que mais pesa na sua cesta”, disse o economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto.
A secretária Vânia de Sousa, 43 anos, sentiu o aperto no bolso e passou a ir ao supermercado só em dias de promoção. Mesmo assim, muitas vezes, precisou deixar o frango para trás. “Os preços estão um absurdo. Eu comprava o quilo por R$ 3. Agora, não encontro por menos de R$ 5”, reclamou. Na lista de compras da dona de casa Ireni Trindade, 48, o aumento mais sentido foi no açúcar. Nas contas dela, o preço saltou de R$ 6 para R$ 9. “Além disso, todas as verduras estão mais caras”, observou.
Coxão mole
Casado e pai de três filhos, o motorista Rui Bispo, 43 anos, vai várias vezes ao supermercado durante o mês para aproveitar a queda nos preços de produtos específicos. Apesar do trabalho, sofre com o preço da carne. “O valor do quilo do coxão mole subiu de R$ 9 para R$ 13. Dependendo do item, eu só levo quando tem liquidação”, afirmou. A maior inflação do IPC-C1 foi registrada na classe de despesas alimentação (11,03%), rubrica que consome 40% da renda das famílias mais pobres.
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Sabesp abre comportas e isola Franco da Rocha
Sabesp abre comporta e isola Franco da Rocha
Autor(es): Bruno Paes Manso e Paulo Saldaña
O Estado de S. Paulo - 13/01/2011
Medida evitou que represa transbordasse, mas manteve centro da cidade submerso.
A abertura das comportas da Represa Paiva Castro, uma das quatro do Sistema Cantareira de abastecimento de água, foi determinante para ilhar a cidade de Franco da Rocha, município de 130 mil habitantes localizado na Grande São Paulo. À meia-noite de ontem, a vazão de águas despejadas da represa para o Rio Juqueri, que corta o município, passou de 1 m³ para 80 m³ por segundo, condição que manteve a cidade embaixo dágua.
A decisão, tomada pela Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp), visava a evitar o transbordamento da represa, que no dia anterior havia chegado a 97% de sua capacidade de armazenamento.
"Caso a barragem fosse transposta pela água, como é feita de terra, haveria corrosão e risco de ruptura. A decisão que tomamos foi técnica e está respaldada pelos órgãos reguladores", afirmou ontem o diretor da Região Metropolitana da Sabesp, Paulo Masato.
A chuva começou a castigar Franco da Rocha na noite de segunda-feira. A mesma chuva frontal que atingiu a capital foi suficiente para deixar o município alagado, com o Rio Juqueri cortando a cidade com uma vazão de cerca de 50 m³/s. Nesse momento, a vazão despejada pela represa ainda era de 1 m³/s. Segundo a Sabesp, a Defesa Civil foi avisada que as comportas seriam abertas antes das 8 horas de terça-feira, quando a vazão passou para 15 m³/s.
Com as comportas despejando 80 m³/s de água, o volume do rio mais que dobrou e a cidade ficou submersa. Ontem, às 14 horas, o volume despejado havia caído para 50 m³/s e a previsão era de baixar para 10 m³/s na noite de ontem. "Com essa vazão, o rio volta para a calha", disse Masato. A represa ontem ainda estava 90% cheia.
Tarde demais. Sem gabinete, o prefeito Márcio Cecchetini foi para uma escola municipal. Cecchetini criticou a forma como a Sabesp alertou sobre a vazão. "O aviso veio muito tarde e por telefone", disse o prefeito, que também reclamou sobre a imprecisão do aviso. Cecchetini decretou estado de emergência.
Algumas vias que dão acesso à cidade foram danificadas e os trilhos de trem entre as Estações Franco da Rocha e Caieiras da Linha 7 - Rubi ficaram debaixo d"água, deixando milhares de pessoas sem conseguir chegar a São Paulo. A Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) acionou um plano emergencial e a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) pôs em circulação 60 veículos adicionais entre as cidades.
A água transformou a região central de Franco da Rocha em uma lagoa. Prefeitura, Câmara Municipal e Fórum ficaram totalmente submersos. Pelo menos 15 comércios estavam interditados pelas águas, que encobriam os portões até a metade.
Pelo menos 50 casas ficaram alagadas, mas segundo a Defesa Civil, nenhuma família foi para abrigos. A casa do motorista Otacílio Tavares, de 52 anos, ficou totalmente submersa. "Avisaram que ia subir um pouquinho só, no máximo 1 metro. Levantamos os móveis, mas a água invadiu tudo", disse o morador da Vila Ramos, onde cerca de 20 casas, 1 fábrica e 1 loja de veículos foram atingidas.
A Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) informou que transferiu 90 presas do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico 1, em Franco da Rocha, por causa de dependências alagadas. A água atingiu 2 metros de altura na ala feminina. Elas foram levadas para o Centro de Detenção Provisória (CDP) da cidade.
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CHUVAS CAUSAM MAIOR TRAGÉDIA NATURAL DO BRASIL EM 44 ANOS
CATÁSTROFE NO RIO: 271 MORTOS
O Estado de S. Paulo - 13/01/2011
Em um dia, a maior tragédia natural desde 1967 no Brasil: Bruno Boghossian, Márcia Vieira, Felipe Werneck, Marcelo Auler, Pedro Dantas, Wilson Tosta, Kelly Lima, Bruno Tavares e Rodrigo Brancatelli
Foi a maior catástrofe natural desde 1967 em um só dia no Brasil. Em poucas horas, um temporal na madrugada matou pelo menos 271 pessoas em três municípios da região serrana do Rio. Até as 23h45, haviam sido encontrados 130 corpos em Teresópolis, 107 em Nova Friburgo e 34 em Petrópolis. Deslizamentos de toneladas de terra, quedas de pedras gigantescas e enxurradas de lama comparadas a tsunamis tomaram bairros inteiros e inundaram prédios em segundos, em um cenário semelhante ao provocado pelo furacão Katrina, que em 2005 devastou a cidade americana de Nova Orleans, nos Estados Unidos.
As prefeituras dos três municípios atingidos dizem que o número de vítimas pode subir, pois equipes de resgate têm dificuldade de chegar aos locais dos desmoronamentos. Faltam água, energia elétrica e telefone. Pelo menos três estradas que cortam a região precisaram ser interditadas parcialmente, o que atrapalhou ainda mais o trabalho de bombeiros e agentes da Defesa Civil. Famílias inteiras morreram com a força da enchente ou dos deslizamentos. Em alguns pontos, rios subiram até cinco metros e invadiram casas enquanto os moradores dormiam. Centenas de casas foram varridas pela terra que desceu as encostas, arrastando árvores e pedras. Em Nova Friburgo, três bombeiros que tentavam resgatar moradores de um prédio desabado foram soterrados.
A região serrana é formada por montes cobertos por Mata Atlântica, onde solos são mais instáveis e propensos a deslizamentos. A construção de casas e prédios em vales, próximos a rios, também facilita a formação de enchentes. Mas especialistas explicam que a tragédia de ontem foi agravada por um fenômeno raro e devastador, conhecido como "corrida de lama e detritos".
O pedido do governador Sérgio Cabral, que está viajando e ainda não foi à região, a Marinha colocou helicópteros à disposição. Em 1967, catástrofe em Caraguatatuba matou cerca de 300 pessoas.
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TRAGÉDIA E OMISSÃO
CHUVA ARRASA O RIO
Autor(es): Larissa Leite Diego Abreu
Correio Braziliense - 13/01/2011
Em uma das maiores catástrofes naturais da história do estado, mais de 260 pessoas morrem em três cidades da região serrana
Transbordamento de rio, queda de barreira, deslizamento, desabamento e inundação. A combinação de parte ou de todas essas ações, resultado da forte chuva que desaba na região serrana do Rio de Janeiro desde terça-feira, provocou uma das maiores tragédias vividas pelo estado, com um total de 264 mortos apenas nas cidades Teresópolis, Nova Friburgo e Petrópolis. Para se ter uma ideia da dimensão do caos, só em Teresópolis mais de 120 pessoas foram vítimas das águas — a maioria, moradores de locais de risco, independentemente da classe social. De acordo com a Defesa Civil, local bairros nobres também foram atingidos.
Nos três municípios, a tragédia substituiu a fotografia do cartão postal pelas imagens de corpos cobertos pelas ruas, imóveis destruídos, serviços públicos interrompidos e inúmeros objetos sendo arrastados por trombas d’água. A situação atual da região serrana remete, inevitavelmente, ao desastre ocorrido no estado no mesmo período do ano passado — em janeiro de 2010, cerca de 60 pessoas morreram e 900 ficaram desabrigadas em Angra dos Reis (leia memória na página 10), em função do desabamento de terra provocado pela chuva.
Entre a população, o clima era de pânico. Quem sobreviveu à tempestade correu para tentar salvar o que podia. Pequenos engarrafamentos foram registrados nas três cidades, como se os moradores fugissem de uma invasão. Quem perdeu a família não encontrava forças nem sequer para processar o tamanho da tragédia. A dona de casa Vanda Santos de Oliveira, 20 anos, lamentava o desaparecimento da mãe, enquanto acompanhava as buscas no bairro de Caeté, em Teresópolis. Ainda atordoada, foi informada de que o corpo de um de seus irmãos havia sido localizado. Vanda esteve na casa da mãe na noite de terça-feira, antes de a residência ser soterrada. “Minha mãe queria que eu ficasse. Falei para ela também sair, mas ela falou que ia apenas dormir um pouco”, contou, aos prantos. A estilista Daniela Connoly e mais sete pessoas da família Connoly morreram quando comemoravam o aniversário do pai dela, que também não sobreviveu (leia reportagem na página 10).
Durante todo o dia de ontem, a contagem do número de vítimas das chuvas na região serrana subia a cada instante. Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e prefeituras informavam balanços sobre as mortes, provocando a manifestação de diversas autoridades. Em Teresópolis, o prefeito Jorge Mário Sedlacek decretou estado de calamidade pública no município. O secretário estadual do Rio de Janeiro, Carlos Minc, sobrevoou o município e chegou a afirmar, após a verificação, que se tratava da “maior catástrofe da história de Teresópolis”. O vice-governador do estado, Luiz Fernando Pezão, também sobrevoou a área e classificou a situação local como “desesperadora”. “Nunca vi nada igual, nem mesmo nos deslizamentos em Angra dos Reis, no ano passado. Esse é o momento de ver o que pode ser feito para resolver a situação dessas pessoas, buscando, principalmente, desobstruir as estradas e garantir o acesso de serviços”, disse o vice-governador.
O governador Sérgio Cabral está de férias com a família e deve chegar ao Rio somente hoje. Ainda assim, ele conversou com a presidente Dilma Rousseff ontem para definir medidas emergenciais e solicitou, ao comandante da Marinha, almirante Júlio Moura Neto, aeronaves para o deslocamento de equipamentos e pessoal do Corpo de Bombeiros (leia reportagem na página 9).
O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, foi para o Rio de Janeiro na tarde de ontem, sob determinação do ministro da Casa Civil Antônio Palocci, e também prepara uma avaliação das consequências da chuvas no estado.
Em Teresópolis, a prefeitura designou dois abrigos, para receber desalojados, com capacidade para 1.200 pessoas. Em Nova Friburgo, o fornecimento de energia elétrica foi interrompido e, em Petrópolis, além da chuva — 134 milímetros durante a madrugada de ontem —, a cidade sofre com a água que desce pela serra.
CARTÕES POSTAIS SOTERRADOS
As fortes chuvas destruíram o principal complexo turístico de Nova Friburgo (RJ). O tradicional teleférico da cidade foi danificado e o hotel Recanto Itália, que é de propriedade do dono do complexo, ficou parcialmente soterrado. O empresário Rodolfo Acre disse que não lhe restará opção, a não ser demitir todos os 40 funcionários. Nova Friburgo contabilizava, até as 22h40 de ontem, 107 mortes, mas o número deve aumentar ainda mais.
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Vendas do varejo crescem acima do PIB e ampliam distância da produção
Autor(es): João Villaverde De São Paulo
Valor Econômico - 13/01/2011
A expansão do comércio varejista foi muito superior a do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2010. Enquanto a expectativa para a alta do PIB é de 7,5% - o maior crescimento em 24 anos - o volume de vendas do comércio varejista ampliado acumulou avanço de 11,9% de janeiro a novembro na comparação com igual período do ano anterior, segundo dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pela pesquisa, em novembro as vendas do comércio em novembro foram 1,4% superiores às de outubro, em volume e descontando os fatores sazonais.
O ritmo do consumo das famílias, no entanto, não tem sido acompanhado pelo incremento da produção na indústria de transformação, que patinou desde o fim dos incentivos tributários, em março do ano passado. O descompasso entre a oferta e a demanda interna tem sido suprido, de maneira crescente, pelos bens importados, auxiliados pelo câmbio valorizado. Esse movimento preocupa os economistas, que temem que o consumo fique muito dependente de bens estrangeiros.
O economista Fernando Rocha, da JGP Gestão de Recursos, calculou que enquanto a indústria de transformação aumentou a produção em apenas 0,2% entre setembro e novembro, o volume de vendas no varejo ampliado cresceu 3%, feito o ajuste sazonal. A saída veio com as importações, que em igual período registraram alta de 7,5%, em volume. Os dados são ainda mais evidentes numa série longa. Entre dezembro de 2009 e novembro de 2010, o volume de bens importados subiu 38,2%, quase três vezes mais que o avanço de 14,5% registrado, em igual período, nas vendas do comércio ampliado, enquanto a indústria ampliou a produção em apenas 4,1% no período, co ajuste sazonal.
"Os importados ainda respondem por uma parcela menor dos bens consumidos, mas o ingresso, em volume, está ocorrendo de maneira absurda, facilitado pelo câmbio. É isso que tem dificultado o trabalho da indústria, que não se sente tão motivada para produzir", avalia Rocha, para quem o consumo das famílias continuará crescendo, neste ano, em ritmo superior ao do PIB. "Há uma distância muito grande entre os ritmos de consumo de bens no varejo e a produção da indústria e isso preocupa, porque cria uma dependência do produto importado, amarrando a política econômica em torno do câmbio valorizado", diz ele.
A produção da indústria de transformação, que avançou 1,1% entre outubro e novembro, foi maior em dezembro, avalia Cristiano Souza, economista do Santander, para quem o processo de ajuste nos estoques formados no começo do ano passado terminou no início do quarto trimestre, liberando a indústria para ampliar a produção. Para Souza, no entanto, o crescimento "incrivelmente acelerado" do consumo, assentado na forte queda do desemprego e na expansão do crédito, encontra desafios no curto prazo. "Os indicadores antecedentes mostram que a indústria retomará a produção, e o câmbio, que continua valorizado, facilita o aumento no volume importado, mas os serviços que não podem ser adquiridos do exterior, como refeição fora de casa e cabeleireiro, por exemplo, estão pressionando a inflação", diz.
Em novembro, os principais itens em alta na PMC ampliada, que inclui a venda de veículos e material de construção, foram equipamentos e material de escritório e livros e revistas, com avanços de 10,5% e 6,6%, respectivamente, em relação a outubro. O segmento de equipamentos e material de escritório acumula avanço de 23,8% entre janeiro e novembro de 2010 - em 2009, a alta foi de 4% em relação ao ano anterior.
O principal item da pesquisa, as vendas em hiper e supermercados, caiu em 0,1% em novembro, resultado explicado pela forte alta nos preços dos alimentos, influenciados pelo contágio internacional das commodities, em alta desde setembro, justamente quando o setor passou a registrar crescimento fraco no volume de vendas.
Para os especialistas, o risco de uma reversão no consumo, embora pequeno, está aumentando. Para Souza, o modelo de crescimento do PIB baseado no consumo depende, em boa parte, do câmbio valorizado, fator que, para Rocha, pode passar por reversão entre o fim deste ano e o começo de 2012.
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