NÓS FAZEMOS A DIFERENÇA NO MUNDO...

Nós fazemos a diferença no mundo
"Eu sou a minha cidade, e só eu posso mudá-la. Mesmo com o coração sem esperança, mesmo sem saber exatamente como dar o primeiro passo, mesmo achando que um esforço individual não serve para nada, preciso colocar mãos à obra. O caminho irá se mostrar por si mesmo, se eu vencer meus medos e aceitar um fato muito simples: cada um de nós faz uma grande diferença no mundo." (Paulo Coelho)

Na qualidade de Cidadão, afirmamos que deveríamos combater o analfabetismo político, com a mesma veemência que deveria ser combatido o analfabetismo oficioso no Brasil. Pois a politicagem ganha força por colocarmos poder de importantes decisões nas mãos de quem não se importa com o que irá decidir.
Concordo com Bertolt Brecht, quando afirma que: "O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos”. Ele não sabe o custo de vida, nem que o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato, saneamento, mobilidade urbana, e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. “Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce à prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Real forte: bênção ou castigo?

Autora: Maria Clara R. M. do Prado
Valor Econômico - 16/06/2011
Na terça-feira desta semana, a taxa de câmbio fechou em seu nível mais baixo dos últimos tempos, voltando aos dias áureos de 1999 quando o real entrou em flutuação, depois de ter amargado um janeiro de trevas.
Ontem, o dólar entrou em rota de alta, recuperando o terreno perdido nos dois dias anteriores. Entre um movimento e outro, 250 mil diferentes análises e prognósticos se levantam. Uns para um lado, outros, para outro. Sempre que o real se valoriza, a indústria grita. Sempre que o dólar se valoriza, o mercado se agita.
Mas os movimentos desta semana não passam de oscilações provocadas por impressões instantâneas. O dólar caiu porque a liquidez internacional se estreitou. O dólar sobe porque os dados da economia dos Estados Unidos são ruins e a Grécia voltou a virar um campo de batalha! Grandes diferenças de taxa de câmbio de um dia para o outro têm, efetivamente, o efeito de garantir ganhos para uns e perdas para outros nas operações realizadas no mercado, mas o relevante não é isso e sim o comportamento do câmbio ao longo dos anos.
Naquela perspectiva, é mais do que conhecida a trajetória de apreciação do real diante do dólar em suas duas etapas distintas. A primeira, relaciona-se ao período entre o início de 2007 e o auge da crise que derrubou o mercado internacional no final de 2008. A segunda etapa, caracterizada pelo período entre o primeiro trimestre de 2009 e os dias de hoje.
Canais precisam ser abertos para aumentar a saída de divisas estrangeiras pelo tempo que for necessário
Tomando janeiro de 2007 por índice igual a 100, a moeda brasileira sofreu uma valorização de 35% em termos efetivos reais até o terceiro semestre de 2008 quando teve uma queda brusca, voltando rapidamente a valorizar-se em percentual que passa dos 35% em comparação com a base 100.
Paralelamente, o país vem acumulando reservas internacionais - próximas dos US$ 350 bilhões - e mantém sob controle o endividamento externo que, ao contrário do passado não muito remoto, hoje está mais acentuada nos tomadores do setor privado. Essas informações devem ser vistas como uma grande benção para um país que ainda está classificado no mundo dos "emergentes". Ou seja, não passa por enquanto de um país em desenvolvimento por menor que seja a vulnerabilidade externa, mas inspira confiança.
É óbvio que a montanha de reservas internacionais traz muita tranquilidade para todos e ajuda o Brasil a conquistar níveis confortáveis de classificação de risco, conforme saudou ontem o Ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Por outro ângulo, um real encarecido face ao dólar tem o efeito de puxar para cima produtos e serviços transacionados no país, haja vista a disparada observada nos preços dos imóveis e principalmente no setor de prestação de serviços. É claro que os exportados também ficam mais caros no mercado internacional, muito embora nessa área várias possibilidades são oferecidas aos exportadores no mercado financeiro com o efeito de reduzir o impacto da queda da receita em reais.
Mas não há dúvida de que uma persistente apreciação do real imprime à moeda brasileira um determinado poder de compra que não condiz par e passo com o nível de desenvolvimento da economia e da sociedade. Há uma grande margem de artificialismo no valor do real diante dos valores cotados em mercado para as moedas consideradas fortes, em especial o dólar e o euro.
A resposta que alinha a valorização da moeda ao aumento da taxa de juros - atualmente em 12,25% nominais ou cerca de 7% em termos reais, ao ano, referenciada à Selic - está correta na simplória avaliação que compara uma com a outra. Mas o problema não está no câmbio. E a taxa de juros, por sua vez, reflete a necessidade de tornar cara a moeda nacional com a finalidade obrigatória do Banco Central de controlar a inflação. O que mantém os juros altos? Aí as respostas podem ser várias: descontrole dos gastos públicos, crédito farto pelos bancos públicos, elevada reminiscência de contratos atrelados à indexação, aumento da dívida pública interna, enfim... Todos explicam e todos devem ser atacados. Se arregaçar as mangas com ousadia para tapar todos os buracos, o governo estará sem dúvida contribuindo para a redução dos juros e para a depreciação da moeda nacional.
Enquanto a coragem política não vem, só há uma forma de reverter o processo de valorização da moeda nacional, supondo, obviamente, que nenhuma grande catástrofe internacional venha a tomar forma. Ou seja, só dá para desvalorizar o real se e quando houver da parte das autoridades a percepção de que canais precisam ser abertos para aumentar a saída de divisas estrangeiras pelo tempo que a situação indicar. O Brasil não tem uma moeda conversível e não terá tão cedo, o que o amarra ao nicho dos "emergentes".
Mas pode abrir espaço para algumas operações que estimulem o carregamento de dólar no exterior por parte do setor privado. Aliás, a ideia de taxar produtos adquiridos por brasileiros com cartão de crédito no exterior vem justamente na contramão de medidas em prol da desvalorização do real.
Maria Clara R. M. do Prado, jornalista, é sócia diretora da Cin - Comunicação Inteligente e autora do livro "A Real História do Real". Escreve mensalmente, às quintas-feiras.

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