NÓS FAZEMOS A DIFERENÇA NO MUNDO...

Nós fazemos a diferença no mundo
"Eu sou a minha cidade, e só eu posso mudá-la. Mesmo com o coração sem esperança, mesmo sem saber exatamente como dar o primeiro passo, mesmo achando que um esforço individual não serve para nada, preciso colocar mãos à obra. O caminho irá se mostrar por si mesmo, se eu vencer meus medos e aceitar um fato muito simples: cada um de nós faz uma grande diferença no mundo." (Paulo Coelho)

Na qualidade de Cidadão, afirmamos que deveríamos combater o analfabetismo político, com a mesma veemência que deveria ser combatido o analfabetismo oficioso no Brasil. Pois a politicagem ganha força por colocarmos poder de importantes decisões nas mãos de quem não se importa com o que irá decidir.
Concordo com Bertolt Brecht, quando afirma que: "O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos”. Ele não sabe o custo de vida, nem que o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato, saneamento, mobilidade urbana, e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. “Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce à prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Crescimento é a prioridade de Dilma, diz economista

Autora: Vera Saavedra Durão
Valor Econômico - 12/01/2012
O governo da presidente Dilma Rousseff vai dar prioridade de novo ao crescimento econômico neste ano em detrimento da inflação e já está dando passos nessa direção, principalmente na área monetária, reconhece Monica de Bolle, economista da consultoria Galanto. A nova posição do Banco Central (BC) na política monetária, com afrouxamento da política de metas e a redução dos juros, é apontada por ela como a principal mudança na política econômica de Dilma Rousseff em relação ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Diretora da Casa das Garças, um " think tank " próximo ao PSDB, Monica lamenta e questiona a mudança e teme que a situação macroeconômica do país não tenha amadurecido tanto a ponto de dispensar as metas de inflação. "Não sei se a gente precisaria de mais algum tempo para abrir mão da política de metas. Os próximos dois anos serão um teste para essa pergunta."
Para a jovem economista, que herdou a Galanto de seu mestre, o também economista Dionísio Carneiro, professor da PUC-Rio, o que ocorreu na economia brasileira desde o surto inflacionário do início de 2011 - combatido com medidas macroprudenciais pelo BC - foi "uma mudança de eixo da política econômica levando em conta a necessidade de defender o país de um cenário internacional extremamente adverso". Ela não crê, porém, que a estratégia de focar no crescimento possa levar o Brasil a crescer 5% neste ano com uma inflação de 4,5%, como espera o governo. "O ano de 2012 será mais difícil que 2011, por causa do agravamento da crise externa, principalmente na Europa, com redução do crédito no mercado global."
"O afrouxamento do regime de metas de inflação é consequência do que ocorre hoje no cenário internacional"
Mônica trabalha com um cenário "pessimista" para a inflação dos próximos 12 meses, que a seu ver dificilmente baixará da faixa entre 6% e 5%. Seu prognóstico para o Produto Interno Bruto (PIB) é de taxa máxima de crescimento de 3%. Ela não descarta uma aceleração de preços no segundo semestre. Tudo vai depender muito do tipo de política de reforço ao crescimento que a presidente Dilma quiser adotar. "Se o governo resolver fazer uma política mais agressiva para chegar próximo a um PIB de 5%, vamos ter uma reaceleração inflacionária considerável." A seguir, os principais trechos da entrevista:
Valor: A sra. considerou a flexibilização das metas de inflação e a nova política monetária do BC como as mudanças mais expressivas ocorridas na política econômica do governo Dilma em relação ao governo Lula. A sra. acha que a política de metas de inflação foi abandonada no governo Dilma? Qual a consequência disso?
Monica de Bolle: Não diria que abandonou, não, flexibilizou completamente o regime. No passado, durante uma certa altura do nosso processo de transição econômica, inclusive durante o governo Lula, entre 2004 e 2006, o regime de metas de inflação foi seguido de forma rígida e rigorosa. O objetivo era a inflação nos 4,5%. Em alguns momentos a gente conseguiu, em outros não. Mas a orientação de política econômica era essa e só essa. Regime de inflação absolutamente estrito. Não estou dizendo que o Brasil tivesse que ter hoje o mesmo regime amarrado de 2004. Naquela altura, o governo Lula precisava ganhar credibilidade para o regime.
Valor: Quando o Lula assumiu, o dólar estava a R$ 4. Houve um ataque contra ele...
Mônica: Houve. Foi uma época complicada. Tinha havido a crise na Argentina. Havia muita desconfiança. O Lula antes de entrar tinha defendido um monte de coisas antimercado e as pessoas ficaram preocupadas que fossem adotadas, o que não aconteceu. Muito pelo contrário, ele seguiu até uma linha bastante ortodoxa no início, que acho que foi muito boa para o país, mas que não é válida em qualquer momento. Adotar uma ortodoxia estrita, um esquema absolutamente rígido, que só mira a inflação, com o mundo afundando como está hoje, não é razoável. Desse ponto de vista, acho que o afrouxamento do regime de metas de inflação é uma consequência natural do que ocorre hoje no cenário internacional. Isso não aconteceu só aqui no Brasil. Aconteceu mundo afora. Todo mundo afrouxou os regimes monetários na hora em que foi necessário.
Valor: A política do BC é o que marca a diferença entre a política da Dilma e do Lula ou há outras características?
Monica: A maior diferença é de fato na área da política monetária. Em vários sentidos, acho que isso foi necessário. A minha principal crítica não é em relação ao que foi feito. Minha crítica maior é não ter sido comunicado adequadamente. Desse modo, perdeu-se credibilidade sem necessidade.
Valor: Para 2012, que mix de política econômica se pode esperar do governo Dilma?
Monica: Acho que o governo Dilma vai fazer novamente um mix de políticas econômicas de sustentação do crescimento. Já está dando passos nessa direção. Na área monetária, a gente já viu o que está sendo feito. Na área fiscal, já começou com algumas flexibilizações. Acho ainda que vai ser difícil o governo resistir à tentação de soltar novamente o crédito público para compensar a falta de recursos que já está nos atingindo. O que está acontecendo internacionalmente é um movimento de "credit crunch" [desalavancagem financeira muito forte], que já está afetando o crédito para diversos países, inclusive o Brasil.
Valor: A sra. acha que nesse mix as medidas monetárias vão predominar em relação às fiscais?
Monica: Sim. O fenômeno que está nos atingindo, o credit crunch, é um fenômeno financeiro e monetário. Como você lida com isso? É com política monetária. Se de novo voltarmos a ter problema de funding nos mercados bancários, temos nosso colchão de compulsório. É um instrumento que tem de ser usado. Com dificuldades de acesso a crédito, é necessário reduzir juros. Isso está encaminhado corretamente. O que me preocupa é que se a gente vai fazer isso, diante da inflação alta que temos, é preciso compensar do outro lado com outras coisas.
"Agora, o fôlego do consumidor é bem menor do que era em 2009. Por isso, acho difícil crescer 5% em 2012"
Valor: De que tipo?
Monica: É fazer realmente uma política de restrição fiscal. O que realmente acho que faz diferença num contexto desse é a contenção de gastos para você abrir espaço. É o discurso que o governo começou a fazer e me parece que parou. Esse discurso estava bom. Dizia que, para abrir espaço para o lado monetário, a gente precisa diminuir o gasto público para fazer políticas de estímulo para o lado monetário. A contenção feita em 2011 foi substancial para reduzir esse crescimento. Mas só reduziu o crescimento. Não estamos gastando menos. O gasto primário continua a crescer. Em 2010 cresceu 15%, em 2011 está crescendo 5%. Ele nunca parou de crescer. Acho então que, para abrir espaço para fazer a redução de juro que se quer e do modo que se quer, é preciso auxiliar com uma política fiscal bem mais restritiva.
Valor: Acha que o governo vai conseguir?
Monica: Ele terá dificuldades porque em 2012 há pressões fortes sobre as despesas do governo pelo lado do aumento do salário mínimo, pressões políticas, pelo fato de ser um ano eleitoral, pressões pelo choque externo que vem por aí e pelos entraves e limitações que isso vai nos colocar para o crescimento da economia brasileira e pela necessidade de gastar em certas coisas, como as obras de infraestrutura que a gente precisa fazer. Juntando tudo isso, vejo grande dificuldade em realmente reduzir a inflação no país. Seria preciso complementar esse lado do afrouxamento monetário com uma restrição fiscal muito mais forte e haverá pouco espaço para isso, por conta de todas essas variáveis Tudo isso dificulta muito. O governo está com muito pouca margem de atuação para mudar o mix da forma como a presidente queria mudar, da forma como ela anunciou.
Valor: Qual o impacto da crise na Europa e da fraca recuperação americana sobre a nossa economia? O que será sentido mais fortemente este ano e quais setores serão mais atingidos?
Monica: Na Europa, há uma situação estrutural complexa, que é o problema das dívidas soberanas, que não tem solução a curto prazo. Fico pensando como resolver isso sem gerar uma situação socioeconômica inimaginável. Isso me aterroriza um pouco.
Valor: E os bancos europeus nesse contexto, como estão?
Monica: Os bancos europeus estão com dificuldades extremas. Alguns estão falidos. Os governos não têm dinheiro para ajudá-los. O que estão tendo que fazer é reduzir seus balanços. Estão num processo de desalavancagem e encolhimento muito acentuado. Os bancos europeus são extremamente importantes no financiamento de linhas de comércio internacional em diversos países, inclusive no Brasil. O encolhimento dos bancos na Europa afeta muito os países emergentes, principalmente. É daí que vem parte do efeito sobre nós. Temos capacidade de compensar um pedaço disso? Sim, mas fazendo coisas que, a médio prazo, podem não ser tão recomendáveis.
Valor: Ou seja, os bancos públicos voltando a atuar.
Monica: É o instrumento que o governo tem. O problema é que desorganiza a economia lá na frente. Você incha o balanço desses bancos. Vira uma conta fiscal dos governos.
Valor: O problema do crédito então é o principal?
Monica: O problema do crédito é o problema principal quando olho para a crise internacional hoje. Há uma crise de liquidez, só que bem diferente da de 2008. Em 2008, de um dia para o outro tudo parou. Não há risco de quebra de um grande banco na Europa. Os governos europeus, se houver necessidade de assumir algum banco, vão fazer isso. O Lehman Brothers quebrou, porque os americanos têm ojeriza à estatização. A dinâmica de credit crunch é horrorosa. É diferente do colapso, mas o impacto sobre a atividade pode ser até pior, porque é mais demorada. No colapso, você quebra e aí entra com um caminhão de dinheiro para salvar o sistema bancário. Desorganiza, mas depois volta a funcionar. O credit crunch é uma agonia, uma agonia lenta.
Valor: No Brasil quais setores seriam mais afetados?
Monica: O setor exportador seria afetado na veia. O que já aconteceu nos últimos dois meses de 2011 é meio dramático. Mas o governo tem meios de compensar. A indústria, de modo geral, sofre e o investimento é um dos mais prejudicados. Como é que um empresário planeja investimento diante de um cenário tão caótico? Investimento e indústria de bens de capital vão sofrer. Aí vai depender da capacidade do governo de compensar. O consumidor, de certo modo, será menos afetado.
Valor: E as commodities?
Monica: A desalavancagem na Europa é contrabalançada pelo que ocorre na Ásia, especialmente na China. A China está em desaceleração também, mas, ao contrário do que muita gente pensa, não acho ruim a desaceleração chinesa. Acho-a até muito salutar, porque era o que estava precisando acontecer por lá. Depois da crise de 2008, a China continuou a crescer a taxas de 10% a 12% ao ano e muita gente dizia que, em algum momento, a economia chinesa ia sofrer um colapso. O que eles fizeram? Esfriaram a economia e estão indo para um padrão de crescimento de 8%, bem razoável para o padrão da China hoje.
Valor: Isso sustenta os preços das commodities?
Monica: É de sustentação para preços de commodities e sustentável para a economia, tanto é que a inflação na China caiu. Autoridades chinesas conseguiram gerar justamente o que elas queriam: a desaceleração suave da atividade e a reversão de um quadro inflacionário que estava ficando preocupante há três meses. Se eles conseguirem manter a economia funcionando nesse ritmo, e acho que eles têm espaço para fazer isso, no mínimo vai ajudar a sustentar os preços das commodities. Mesmo que caiam, não vão cair tanto assim. Segura um pouco, talvez, a balança comercial brasileira.
Valor: O nosso balanço de conta corrente fica equilibrado?
Monica: Há uma pressão sobre a conta corrente do balanço de pagamentos brasileiro, por causa da repatriação de lucros e dividendos, sobretudo por parte das empresas europeias. Em um momento como este, o quadro só tende a se intensificar. Daí fica a dúvida de como o balanço de pagamentos brasileiro vai ser afetado. De um lado pode haver sustentação das commodities, do outro fluxos de saída mais fortes, por outro lado menos entrada de dinheiro pela conta financeira. Se esse movimento de desalavancagem se intensificar, os investidores virão menos para o Brasil. E os investimentos serão afetados.
Valor: Como fica o país?
Monica: O investimento será afetado, a não ser que haja uma compensação do governo. O resto da demanda, o consumo das famílias, se beneficia de uma conjunção de fatores positivos, como o ajuste salário mínimo e um mercado de trabalho ainda muito bom. Do outro lado, existe o endividamento das famílias, que é relevante, principalmente para algumas faixas de renda. Suspeito que, em grande parte, quem está endividado é a nova classe média, o que deve ter ocorrido no momento em que o crédito estava fácil. Isso pode limitar um pouco o espaço para o consumidor sustentar o mercado brasileiro, como sustentou em 2009. O consumo não caiu nem teve desemprego forte quando sentimos a ameaça da recessão. Agora, o fôlego do consumidor é bem menor do que era em 2009. Por isso, acho difícil crescer 5% em 2012. Um crescimento de 3%, ainda acho possível, mas crescer 5% acho difícil.
Valor: Tudo vai depender do mercado interno...
Monica: Tudo vai depender do fôlego do mercado interno e até que ponto o governo vai adotar medidas compensatórias. E num cenário internacional pior do que o Lula teve. Ele viveu uma crise devastadora em 2008, mas logo em seguida os países todos fizeram medidas de estímulo. Os EUA baixaram três pacotes fiscais na casa dos trilhões, Europa e China, idem, e a coisa cresceu e nos ajudou. As nossas medidas de estímulo foram potencializadas pelas medidas de estímulos que os outros lá fora também estavam fazendo.
Valor: E agora?
Monica: Desta vez não vai ser assim. Agora, vamos ser nós por nós mesmos, com alguma ajuda de um ou outro emergente. Aí vamos ver se de fato teremos esse fôlego todo. Mas se fecharmos o ano com crescimento de 3% e inflação de 6%, num quadro externo extremamente adverso, vai ficar muito difícil dizer que o governo brasileiro errou.

Um comentário:

  1. Este blog é uma representação exata de competências. Eu gosto da sua recomendação. Um grande conceito que reflete os pensamentos do escritor. Consultoria RH

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