NÓS FAZEMOS A DIFERENÇA NO MUNDO...

Nós fazemos a diferença no mundo
"Eu sou a minha cidade, e só eu posso mudá-la. Mesmo com o coração sem esperança, mesmo sem saber exatamente como dar o primeiro passo, mesmo achando que um esforço individual não serve para nada, preciso colocar mãos à obra. O caminho irá se mostrar por si mesmo, se eu vencer meus medos e aceitar um fato muito simples: cada um de nós faz uma grande diferença no mundo." (Paulo Coelho)

Na qualidade de Cidadão, afirmamos que deveríamos combater o analfabetismo político, com a mesma veemência que deveria ser combatido o analfabetismo oficioso no Brasil. Pois a politicagem ganha força por colocarmos poder de importantes decisões nas mãos de quem não se importa com o que irá decidir.
Concordo com Bertolt Brecht, quando afirma que: "O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos”. Ele não sabe o custo de vida, nem que o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato, saneamento, mobilidade urbana, e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. “Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce à prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A leitura crítica de fontes históricas

Navegar pela diversidade de fontes, confrontar opiniões divergentes e situar a época de cada texto são estratégias certeiras para formar leitores questionadores e críticos.
Texto de Daniela Talamoni Araujo Verotti (extraído da Revista Nova Escola, janeiro de 2010)

Desde o primeiro rabisco feito por nossos antepassados nas paredes das cavernas até a mais recente crônica de jornal, ironizando a atitude pré-histórica de alguns políticos, não faltam registros escritos para contar um pouco da realidade vivida em cada época pela humanidade. A simples existência desses relatos indica a importância da leitura nas aulas da disciplina. Navegar pela maior diversidade de fontes possível é importante (leia o quadro abaixo), mas não é tudo. O essencial é colaborar para que a turma possa analisar, questionar, confrontar e contextualizá-las, entendendo que as relações entre presente, passado e futuro vão além de uma mera sequência de fatos em ordem cronológica. Em poucas palavras, é preciso levar a moçada a pensar historicamente.

Em História, o leitor competente encontra no texto as principais informações sobre seu tema de pesquisa, identifica trechos que necessitam de investigação extra para serem entendidos e é capaz de confrontar a opinião de um autor com a de outros que já escreveram sobre o mesmo assunto.

A intenção principal é fugir da chamada leitura dogmática, como se o texto de alguma fonte – o livro didático, por exemplo – fosse a verdade inquestionável. Em alguns casos, o responsável por esse pensamento é o próprio professor. Isso ocorre quando ele apresenta à classe um acontecimento histórico privilegiando apenas visões que se afinem com seus valores e suas convicções políticas. A chamada ideologização da Educação é arriscada. “Afinal, é muito comum que aquilo que os alunos adotem como verdade tenha sido apresentado em sala de aula”, lembra o professor de História Pedro Henrique Albegaria Raveli, da Escola da Vila, em São Paulo.

“O docente sempre irá se posicionar diante de um fato histórico, mas ele tem o dever de colaborar para uma formação mais autônoma dos alunos, oferecendo diferentes gêneros de textos e linguagens que mostrem os capítulos da História sob o máximo de perspectivas possível”, defende Antônia Terra, coordenadora do grupo que desenvolveu o Referencial de Expectativas de História para o Desenvolvimento da Competência Leitora e Escritora do Ensino Fundamental, da prefeitura de São Paulo. “Precisamos ensinar que a História se constrói sob diferentes pontos de vista”, afirma Daniel Vieira Helene, coordenador de Ciências Sociais da Escola da Vila, na capital paulista, e selecionador do Prêmio Victor Civita – Educador Nota 10. Para isso, você deve criar rotinas que ajudem o estudante a incorporar hábitos, como questionar as informações, saber quem é o autor ou buscar outras opiniões sobre o assunto.

CRONOLOGIA
Organizado na forma de linha do tempo, o trabalho evidencia relações entre fatos antigos e recentes.
SÓ ELOGIOS?
Um livro comemorativo, que pouco falava sobre os problemas do bairro, é a deixa para debater a intencionalidade de quem escreve.
MIL PALAVRAS
Imagens antigas de parentes e amigos são analisadas e explicadas em pequenos textos
ONTEM E HOJE
Mapas antigos e recentes fazem a turma pensar sobre como mudou a ocupação do lugar

Gêneros privilegiados em História

Texto literário
A descrição das atitudes, dos costumes e das roupas dos personagens, o ambiente, o clima, as situações que compõem a trama e até o desfecho do livro carregam o ponto de vista do autor sobre o contexto social, político, econômico e histórico em que viveu. Conhecer a biografia de quem escreve pode ser um grande passo para entender ironias e mesmo preconceitos em alguma época.
Imagem
Fotos, ilustrações, desenhos ou obras de arte constituem documentos históricos se servirem para comprovar ou questionar um acontecimento. Para que a análise não se esgote na simples observação (o que é possível notar? Que lugar retrata? De que época é?), é importante pesquisar a autoria, a data e as possíveis intenções do autor. Textos escritos que contextualizem o tempo e as circunstâncias em que as imagens foram produzidas também ajudam muito.
Texto jornalístico
Notícias, crônicas, artigos e charges contribuem para entender o que se passa em determinada época. Além de esclarecer características de estilo (o texto é irônico? É parcial?), a leitura deve abordar os vínculos políticos e ideológicos de cada publicação, fatores que influem no que foi publicado.

Estamos falando, portanto, da importância de apostar no confronto de opiniões – desde que, é claro, a comparação ajude a moçada a entender melhor o processo em questão. Digamos que a tarefa seja analisar fatores que levaram à Independência do Brasil. “Nesse caso, a leitura de um texto que ressalta o papel de dom Pedro I e de outro defendendo que a elite dominava o imperador na época ajuda a construir um cenário que promove um aprendizado mais significativo. Desse modo, a Independência não é contada só como uma sequência cronológica de fatos”, explica Helene.

Em outras situações, a diversidade de fontes pode funcionar como uma ponte entre o ontem e o hoje, aproximando o conteúdo da vida do aluno e facilitando o entendimento das transformações ao longo do tempo. Ao ensinar sobre a importância do rio Nilo na formação da civilização egípcia, o professor Davi Costa Duarte propôs à turma da 5ª série da EMEF Alexandre de Gusmão, na capital paulista, uma pesquisa sobre o rio Tietê e seus diversos usos, do abastecimento de água no início do século passado à degradação atual. “O trabalho evitou que a minha aula ficasse restrita a localizar o rio Nilo no mapa. Em vez disso, pela comparação com a realidade, a turma percebeu a relevância de um rio na vida de qualquer grupo social”, argumenta.

No que diz respeito à leitura propriamente dita, em História vale também a receita indispensável de levantar previamente hipóteses sobre o que deverá ser lido ou interpretado e a análise de indícios que possam situar o texto. Na disciplina, ganha especial importância saber quem é o autor e qual o tema principal de um documento. Se antes de ter contato com um material sobre preconceito racial já se sabe que o autor é negro e conhecido por sua participação em movimentos sociais, a leitura dele será feita de maneira mais crítica. Também é importante localizar a época e o local de produção e, no caso de textos opinativos, as principais teses defendidas pelo autor.

Uma leitura mais detalhada pode concentrar-se em destacar passagens que ajudem a construir um painel do acontecimento histórico retratado. Procure ainda fazer que a turma inclua em seus registros tempos verbais adequados e marcadores temporais, de causalidade e de contextualização (isso vale também para as imagens: ruas com carruagens, por exemplo, em tese se referem a uma época anterior à Segunda Revolução Industrial, capitaneada pelas linhas de produção automotivas). Esse conhecimento é essencial para compreender que as obras de conteúdo histórico possuem organização temporal e contemplam relações entre os acontecimentos.

Nesse aspecto, uma confusão muito recorrente é entre os verbos que terminam em “am” e “ão”. Esclareça que, mais do que uma simples regra gramatical, a terminação indica temporalidade. “À medida que o aluno entende que para se referir ao passado o correto é usar ‘atacaram’ e não ‘atacarão’, a compreensão do texto de História fica mais fácil”, argumenta Helene.

Para responder à pergunta básica dessa fase – “Quais informações históricas podemos colher do texto?” –, procedimentos de estudo como sublinhar e anotar são uma ótima pedida, seja para ressaltar pontos principais, seja para indicar palavras ou processos que precisam ser esclarecidos ou opiniões que devem ser confrontadas. Além deles, outro gênero escrito de apoio à leitura, o relato, é essencial em História. Para contar a trajetória do bairro e da escola que completava 10 anos, os alunos da 5a série da EMEF Professora Thereza Maciel de Paula, na capital paulista, entrevistaram os moradores mais antigos da região. “Primeiro, os alunos debateram o que sabiam sobre o assunto e mencionaram possíveis entrevistados. Em seguida, elaboramos uma pauta de perguntas para cada um dos personagens. A intenção principal era checar algumas hipóteses que a turma tinha sobre os primórdios do bairro”, conta Márcia Maria Trípodi, historiadora e vice-diretora da escola. As entrevistas foram gravadas e transcritas e, depois, selecionados os pontos que esclareciam as dúvidas com base nas anotações tomadas.

Procedimento de estudo – Relato
Para ser produzido e compartilhar visões pessoais de um fato, esse texto deve ter objetivos claros e seleção de dados relevantes.

Esse tipo de narração descritiva de fatos do passado geralmente respeita uma ordem cronológica e possui certa intencionalidade – ou seja, o relato transmite um sentido particular a respeito de um acontecimento histórico. Ele é carregado de informações baseadas no conhecimento de mundo e em percepções e valores de quem o produziu. Especialmente em projetos de História local, relatos podem ser criados com base em entrevistas de pessoas que testemunharam o fato estudado. Sua mediação é essencial em pelo menos dois momentos. O primeiro, na própria concepção das perguntas, que devem ser preparadas de acordo com um objetivo claro – com quais informações e pontos de vista o relato dessa pessoa pode contribuir para o assunto em estudo? Além disso, elas precisam ser apoiadas em pesquisas sobre quem é o entrevistado e sua participação no tema. Segundo, no estabelecimento de critérios para selecionar a informação mais relevante da entrevista completa (que, a princípio, deve ser gravada e transcrita). Em alguns textos, podem ser dados factuais. Em outros, opiniões ou mesmo as marcas características da fala do entrevistado. Nesse processo, grifar o texto e tomar notas dos pontos definidos como fundamentais ajuda bastante.

Para entender melhor a relação entre os fatos relatados, a turma lançou mão de outro poderoso recurso: a linha do tempo (leia a sequência didática). Saber que um fato veio antes do outro ajuda a esclarecer relações de causa e consequência entre acontecimentos. No caso da escola de Márcia, a linha do tempo com os pontos marcantes dos 10 anos de escola foi enriquecida com legendas explicativas e fotos de época, conseguidas com parentes e amigos.

Recapitulando o percurso: com objetivo de abordar um acontecimento histórico com complexidade, você apresenta à turma uma diversidade de gêneros e favorece a interpretação de cada um. O trabalho, porém, não estará finalizado antes de propor a necessária amarração entre eles, questionando a moçada sobre as articulações e as relações entre os textos. Eles se contrapõem, se completam ou se reforçam? Em comparação com as hipóteses iniciais, que novidades trazem: confirmam ou refutam o que pensávamos antes da leitura? O que ainda falta para construirmos um painel abrangente sobre o assunto?

Convide a turma a pensar em todas essas questões produzindo textos. Existem várias opções: pode ser um resumo que sistematize as informações colhidas, legendas para fotos, mapas e gráficos que situem o que as imagens mostram e pesquisas sobre aspectos nebulosos. Quando o estilo do texto é importante para a compreensão do assunto, uma alternativa é criar textos no mesmo gênero estudado – por exemplo, projetos de lei para serem enviados a parlamentos jovens (diversas cidades e estados possuem um desses). Trabalhando como autores, os estudantes seguem refletindo sobre o que leram e exercitam o poder de questionamento e a crítica, características essenciais para a análise de documentos históricos.

Leitura e procedimentos de estudos em todas as disciplinas
Nos links abaixo, você encontra reportagens sobre a leitura em cada disciplina e planos de aula com sugestões de como ensinar cada procedimento de estudo.

ARTE
Em Arte, é preciso ensinar a ler textos sem palavras
Leitura de quadro e produção de comentário

CIÊNCIAS
Conhecer textos expositivos e instrucionais para questionar
Leitura de reportagens e produção de resumo sobre a Amazônia

EDUCAÇÃO FÍSICA
Ler o que o corpo produz
Leitura da linguagem corporal e produção de esquemas gráficos sobre jogos

GEOGRAFIA
Leitura de mapas e paisagens
Leitura de mapas e produção de croquis sobre desmatamento da mata Atlântica

HISTÓRIA
A leitura crítica de fontes históricas
Leitura de documentos e produção de relatos

LÍNGUA ESTRANGEIRA
A importância do contexto
Leitura e escrita de biografias

LÍNGUA PORTUGUESA
Explorar a diversidade, priorizando gêneros literários e opinativos
Leitura de poema análise semântica

MATEMÁTICA
Problemas matemáticos sem problemas
Leitura de problemas com frações e anotações

Quer saber mais?
CONTATOS:
Daniel Vieira Helene, dvhelene@gmail.com
EMEF Alexandre de Gusmão, R. Porto do Bezerra, 25, 08440-000, São Paulo, SP, tel. (11) 2035-6380
EMEF Professora Thereza Maciel de Paula, R. Miguel Ferreira de Melo, 262, 08390-000, São Paulo, SP, tel. (11) 2751-7340
Pedro Henrique Albergaria Raveli, pedro@vila.com.br
BIBLIOGRAFIA:
Ensino de História: Fundamentos e Métodos, Circe Maria Fernandes Bittencourt, 408 págs., Ed. Cortez, tel. (11) 3873-7111, 48 reais.

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