O Arco que nada lembra uma flecha
Autora: Fabíola Gerbase
O Globo - 22/07/2011
O ritmo das obras do Arco Metropolitano do Rio terá de ser aumentado em mais de três vezes para que elas sejam entregues em dezembro de 2012, como promete o estado. Inicialmente, a estrada deveria ficar pronta em dezembro de 2010.
A rodovia, de 70,9 quilômetros, está sendo construída desde junho de 2008 pelo governo estadual, em parceria com a União, dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Em três anos, foram executados apenas 35% da obra. O progresso foi de 0,97% por mês. Para que os outros 65% sejam finalizados em um ano e meio, o ritmo terá de ser 3,7 vezes maior do que o atual.
O estado informa que os repasses do PAC estão sendo feitos regularmente. Do orçamento de R$965 milhões, a Secretaria estadual de Obras já fez o pagamento de R$342 milhões. Mas o governo tem uma longa lista de alegações para explicar a lentidão no trabalho: o grande número de sítios arqueológicos (34) encontrados no caminho do Arco, casos de desapropriações de imóveis que estão sendo resolvidos na Justiça e uma frequência anormal de chuvas fora do verão. Outro argumento citado trata da descoberta, feita em 2009, de uma espécie rara de perereca na região da Floresta Nacional Mario Xavier (Flonamax), em Seropédica, também no trajeto do Arco.
Viaduto para salvar as pererecas
A solução de erguer um viaduto sobre o lago onde se reproduz a perereca não garante que a obra nesse ponto vá deslanchar num futuro próximo. Também instalado na floresta, perto do caminho do corredor viário, o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), do Ibama, precisa ser removido do local para que as obras possam voltar a andar.
- Houve um acordo com o Ibama de transferi-lo para um terreno próximo. Só que, no início do ano, o Ibama achou que o novo ponto, escolhido por eles mesmos na Flonamax, não é bom, e agora esperamos a definição de outro local - relata o subsecretário de Projetos de Urbanismo da Secretaria de Obras, Vicente Loureiro. - Mesmo que a execução do projeto do viaduto seja autorizada, a obra ali só recomeça com as duas questões resolvidas.
Segundo Loureiro, a secretaria vai buscar uma solução paralela para o problema. Será levada ao Ibama a proposta de construção de uma barreira acústica para proteger a atual instalação do Cetas. Assim, os operários poderiam voltar a trabalhar ali, enquanto se resolve o novo impasse com animais silvestres.
Em relação ao atraso na conclusão do Arco, o vice-governador e secretário estadual de Obras, Luiz Fernando Pezão, voltou a usar as pererecas como justificativa para o descumprimento dos prazos. O habitat das pererecas abrange menos de dez mil metros quadrados, o que equivale a quase um campo de futebol. A proposta do viaduto sobre o brejo foi submetida há seis meses ao Ministério do Meio Ambiente, mas a sua construção ainda não foi autorizada.
- Quero terminar (o Arco) até 2012, sim. Separamos R$12 milhões do orçamento para o viaduto das pererecas. Sem a história das pererecas, a obra já estaria pronta do acesso da Dutra ao Porto - afirma Pezão.
Mas, mesmo onde as pererecas estão fora do caminho do Arco, não há um único trecho da estrada pronto.
O segmento mais atrasado da rodovia fica entre Seropédica e Itaguaí. São 19,9 quilômetros que estão sendo executados pelas empresas Delta e Oriente. Elas estimam ter construído apenas 15% até agora.
As dificuldades para desapropriações também têm sido citadas como causa dos atrasos, como explica o engenheiro da OAS Rogério Rosado:
- Há vários pontos aguardando desapropriação. Três das fazendas no caminho são bem grandes. Isso atrapalha a logística da obra.
A situação se repete no mais adiantado dos lotes, entre Duque de Caxias e Nova Iguaçu, construído pela Odebrecht e Andrade Gutierrez. Eles estimam ter 50% da obra executados, mas, de acordo com Ricardo Cumplido, gerente de produção da Odebrecht, ainda falta desapropriar 131 imóveis de um total de 406.
No lote da Delta e da Oriente, cerca de três quilômetros não podem receber qualquer intervenção enquanto não forem resolvidas as desapropriações pendentes. Segundo Rodrigo Moura, gerente de contrato pelo consórcio Arco Metropolitano Rio e representante da Delta, outros dois quilômetros estão parados porque abrigam dois sítios arqueológicos ainda não removidos.
O vice-governador, no entanto, diz que faltam apenas 86 desapropriações no caminho do Arco e que outras 2.200 já foram concluídas.
Os segmentos do Arco que aproveitam rodovias já existentes também têm uma pendência importante: os 25,5 quilômetros da BR-493 (Manilha-Magé) serão duplicados pela União, mas a obra ainda nem começou. Segundo o superintendente regional do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) no Rio, Marcelo Cotrim, o início depende da liberação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), já que, com a duplicação, a via passaria sobre o sambaqui (acúmulo de restos de conchas, ossos e outros vestígios da pré-história) de Sernambetiba, em Itaboraí. A questão se arrasta há mais de um ano.
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