Minoritários querem vaga na Petrobras
Autora: Graziella Valenti
Valor Econômico - 27/01/2012
Acionistas minoritários estrangeiros da Petrobras estão preocupados em
garantir que indicarão, sem interferência da empresa, um representante para o
conselho de administração na assembleia geral deste ano. Há oito dias, dez
grandes investidores europeus e americanos enviaram carta ao ministro Guido
Mantega, presidente do conselho de administração da companhia. O motivo da
carta foi a indicação e posterior eleição para o conselho de Josué Gomes da
Silva, controlador da Coteminas e filho do ex-presidente da República José
Alencar. Os acionistas reclamam do procedimento da Petrobras, que os levou a
aprovar o nome do empresário sem todas as informações a seu respeito.
Josué Gomes da Silva, controlador da Coteminas e filho de
ex-vice-presidente: indicação para o conselho questionada por estrangeiros por
não terem sido consultados previamente na decisão.
Os acionistas minoritários estrangeiros da Petrobras estão preocupados
em garantir que indicarão, a partir de sua própria vontade, um nome para o
conselho de administração da empresa na assembleia geral deste ano. Há oito
dias, um grupo de dez grandes investidores institucionais europeus e americanos
enviaram uma carta de alerta a Guido Mantega, presidente do conselho de
administração da companhia e ministro da Fazenda.
O grupo foi liderado pelo fundo global baseado em Londres F&C
Management, que administra US$ 177 bilhões em ativos. O documento conta com a
assinatura, entre outros, da Railpen Investments e do State Board of
Administration of Florida (SBAFLA).
O motivo da carta foi a indicação e posterior eleição para o conselho de
administração do empresário Josué Gomes da Silva, controlador da Coteminas e
filho do ex-vice-presidente da República José Alencar, falecido em março do ano
passado. Seu nome foi sugerido pelo restante do conselho da companhia sem
consulta prévia aos minoritários, embora a vaga fosse dos acionistas.
O dono da Coteminas foi indicado para o cargo após a renúncia em outubro
de Fabio Barbosa, que havia sido indicado para o conselho da Petrobras pelos
minoritários da empresa em votação em separado - sem o voto do controlador.
Para cobrir a vaga aberta, o conselho da estatal, sem ouvir os
acionistas de mercado, indicou Gomes da Silva. A decisão foi validada em
assembleia somente em dezembro de 2011, quando ele foi eleito pelos acionistas,
sem o voto do controlador.
A carta dos fundos de pensão e gestores de recursos estrangeiros a
Mantega é dura. Nela os acionistas afirmam que foram "induzidos a
erro" na votação de dezembro, sobre a indicação do filho do ex-presidente
da República. Isso porque teriam aprovado o nome sem todas as informações a
respeito do empresário, em especial os possíveis vínculos políticos por conta
do pai - que fora vice-presidente de Lula, no governo anterior. A explicação
foi dada ao Valor por Karina Litvack, chefe de governança e sustentabilidade do
F&C.
Contudo, não há nenhuma queixa ou crítica à capacidade profissional,
intelectual e ética de Gomes da Silva. A reclamação deve-se, principalmente, ao
procedimento da Petrobras.
Procurado, o executivo não respondeu à solicitação até o fechamento
desta edição.
Na carta, os fundos liderados pela F&C Management afirmam esperar
que o executivo fique no posto apenas até a assembleia geral ordinária - que
deve ocorrer entre março e abril.
A expectativa desses fundos é que nessa próxima assembleia geral eles
indiquem por escolha própria um nome para compor o conselho - e não sigam
nenhuma sugestão da administração da empresa.
"Em linha com a boa governança, o conselho deveria ter dado aos
acionistas minoritários a oportunidade de apresentar indicados para substituir
o Sr. Fabio Barbosa, em vez de nomear um representante do acionista
controlador", afirma a carta que também ressalta que Gomes da Silva não é
um membro eleito de fato pelos minoritários, já que a indicação de seu nome
partiu da administração e não da livre espontânea vontade dos acionistas do
mercado.
Consultada, a Petrobras afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa,
que a companhia apenas seguiu a Lei das Sociedades por Ações ao fazer a
indicação. A companhia baseou sua posição no artigo 150 da legislação, que
atribui ao conselho de administração a responsabilidade de indicar um nome em
caso de renúncia de algum membro. Além disso, a estatal confirma que a posição
de Gomes da Silva é apenas até a assembleia anual.
Os acionistas gostariam de, além de serem previamente consultados, terem
recebido mais esclarecimentos sobre o empresário selecionado.
O artigo 144 da mesma Lei das S.As. aponta que os minoritários, quando
utilizam o voto em separado, são aqueles que podem eleger e destituir o membro
do conselho indicado por eles.
Além disso, no artigo 239, dedicado às companhias de economia mista, a
lei garante que a minoria dos investidores tenha direito a eleger um membro no
conselho de administração mesmo que eles não alcancem os percentuais
necessários para votação em separado.
"Nos últimos anos, a atuação do governo brasileiro sobre a
Petrobras vem aumentando, o que nos preocupa", afirmou Karina, do F&C,
ao Valor. "É muito fácil para quem está no Brasil saber todo o contexto do
Sr. Gomes da Silva. Mas, para nós que estamos distante, a questão não é tão
simples", disse ela.
"A fim de salvaguardar a confiança dos investidores na Petrobras -
e até mesmo no mercado brasileiro de modo mais geral - acreditamos que é vital
que a companhia seja governada e operada com vista a maximizar a longo prazo o
valor para o acionista, o que, por sua vez, exige que as decisões empresariais
e de gestão não estejam sujeitas à interferência política de nenhum tipo",
completa a carta dos estrangeiros.
Esses investidores estão, desde já, se articulando com minoritários
brasileiros em busca de um nome a ser indicado previamente à assembleia anual.
Por enquanto, ainda não há consenso em torno de uma sugestão.
Para utilizar os benefícios da votação em separado prevista na
legislação, os minoritários precisam ter 15% das ações ordinárias ou 10% do
capital social em preferenciais da empresa.
A Petrobras é a maior e mais líquida ação do mercado de capitais
brasileiro. A companhia tem valor de mercado de R$ 350 bilhões. Na prática,
para ter direito ao voto em separado previsto em lei, é preciso reunir um grupo
dono de R$ 30 bilhões ou R$ 32 bilhões aplicados na empresa.
Após a megacapitalização de R$ 120 bilhões realizada em 2010 para tornar
viável a exploração do pré-sal, o
governo controla direta e indiretamente 63% do capital votante da Petrobras,
segundo a posição de dezembro no site da companhia.
Das ações ordinárias, ainda conforme a empresa, 21,5% eram negociadas na
forma de recibos americanos de ações (ADRs nível 3), no fim do ano passado. Do
capital total, entre ordinárias e preferenciais 24,4% estavam com estrangeiros na forma de ADRs.
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