NÓS FAZEMOS A DIFERENÇA NO MUNDO...

Nós fazemos a diferença no mundo
"Eu sou a minha cidade, e só eu posso mudá-la. Mesmo com o coração sem esperança, mesmo sem saber exatamente como dar o primeiro passo, mesmo achando que um esforço individual não serve para nada, preciso colocar mãos à obra. O caminho irá se mostrar por si mesmo, se eu vencer meus medos e aceitar um fato muito simples: cada um de nós faz uma grande diferença no mundo." (Paulo Coelho)

Na qualidade de Cidadão, afirmamos que deveríamos combater o analfabetismo político, com a mesma veemência que deveria ser combatido o analfabetismo oficioso no Brasil. Pois a politicagem ganha força por colocarmos poder de importantes decisões nas mãos de quem não se importa com o que irá decidir.
Concordo com Bertolt Brecht, quando afirma que: "O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos”. Ele não sabe o custo de vida, nem que o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato, saneamento, mobilidade urbana, e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. “Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce à prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Revistas de circulação nacional em 17/01/2011... Com links e destaques

Revista Isto é
A mesma cena. E cada vez mais dor sob os destroços
Muito discurso, pouca ação e mais tragédias
Autor(es): Francisco Alves Filho, de Nova Friburgo; Wilson Aquino, de Teresópolis; e Rafael Teixeira

A chuva era prevista. Mas não houve prevenção, fiscalização nas ocupações das encostas nem planos de contingência. O resultado de tanto descaso foi a maior catástrofe da história do Brasil

Foi tudo muito rápido, como sempre é. Não se passou uma dúzia de horas entre o início do que parecia ser mais uma simples tempestade de verão e as avalanches de lama, pedras e paus que colocaram fim à vida de mais de 500 pessoas e devastaram cidades inteiras da região serrana do Rio de Janeiro. Foi assim, de repente, que a cadeia de montanhas que encantam os cariocas há mais de um século abandonou a aparência sólida e se liquefez. No caminho entre as escarpas íngremes e verdes da Serra do Mar até os vales que a formam, a terra em estado líquido não fez distinção e levou com ela tudo o que estava à sua frente: árvores, pedras, casas, carros e uma quantidade aterradora de vidas. Quando amanheceu, o mundo ali era outro. Em Teresópolis, onde antes havia casas, ruas, escolas, um macabro cemitério ao livre surgiu. O charmoso centro de Nova Friburgo deu lugar a uma camada espessa de lama, detritos e entulhos, escondendo sob ela dezenas de corpos. Em São José do Vale do Rio Preto, o riacho que corta a cidade e serviu de inspiração para Tom Jobim escrever os célebres versos de “Águas de Março” transformou-se em uma corredeira de águas caudalosas, que com sua força destruiu casas, pontes e vidas. Foi assim, com uma rapidez e uma fúria impressionantes, que a maior tragédia natural da história brasileira encontrou seu desfecho numa típica noite quente e úmida de verão.

Sua gênese, no entanto, foi lenta e gradual, e o resultado, previsível. Marcada por características geológicas e climáticas instáveis, a região serrana do Rio de Janeiro está acostumada a recolher corpos sob a terra úmida. Tem sido assim desde as primeiras ocupações, mostram relatos de dom Pedro II, que, como faz hoje a elite carioca, subia à serra para fugir do calor inclemente que castiga a cidade do Rio de Janeiro no verão. Nem mesmo a carnificina de 1967, quando 300 pessoas morreram nas mesmas situações de agora, foi o bastante para se aceitar que, ali, a natureza não se intimida para determinar o curso da vida. Até agora, o resultado dessas tragédias se resume a uma ladainha cíclica de promessas que raramente se traduzem em ações concretas e que sempre terminam nos cemitérios. Foi assim em 1967, como foi em 2008, em Santa Catarina, ou no ano passado, em Angra dos Reis e em Niterói. “Não há desculpa para colocar a culpa nas chuvas, o Brasil não é Bangladesh”, diz a diretora do Centro para a Pesquisa de Epidemiologias da ONU, Debarati Guha-Sapir, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo” no mesmo dia em que a Organização das Nações Unidas colocava o acidente fluminense como o décimo mais letal entre os deslizamentos de terra da história.

Debarati tem razão. Ao contrário do país espremido entre a Índia e Mianmar, há dinheiro, tecnologia e mão de obra farta no Brasil para evitar que tantas pessoas percam a vida em uma região tão propensa a acidentes. Dois casos recentes mostram como investimento, controle da ocupação do solo e preparação podem poupar vidas. Na Austrália, neste início de ano, choveu mais do que na região serrana do Rio. No entanto, apenas 19 pessoas perderam a vida por lá. Na Ilha da Madeira, uma região também montanhosa, choveu no ano passado tanto quanto choveu em Nova Friburgo, a cidade mais atingida nesta última tragédia. O número de mortes em Portugal não chegou a 10% das vítimas fluminenses.

Nesses tempos de pânico ambiental, as mudanças climáticas têm sido os algozes perfeitos dos governantes para justificar o injustificável. “Estamos falando de décadas e décadas de administrações omissas”, diz o cientista político Luiz Werneck Viana. “Faltou às prefeituras fiscalizar as zonas em que as ocupações irregulares acontecem, faltou aos Estados desenvolver planos para essas regiões, faltou ao governo federal priorizar a questão do planejamento urbano e da habitação.” A fatura pela falta de investimentos chegou, enfim, mais alta do que nunca.“Os governantes têm uma visão míope que só vale para os quatro anos de mandato”, critica David Zee, coordenador de mestrado em meio ambiente da universidade carioca Veiga de Almeida. “Estado, município e federação têm obrigação de trabalhar de forma integrada, mas todas essas esferas têm sido historicamente omissas.”

Como foram, mais uma vez, neste início de ano. Não há quem conteste que o volume de chuvas que castigou as cidades fluminenses foi de uma intensidade rara. Em menos de 12 horas choveu praticamente o mesmo que era esperado para todo o mês em Nova Friburgo. Mas o inadmissível em um caso como esse é a absoluta falta de preparação e coordenação do poder público para mitigar os efeitos de um desastre iminente e, pior, a completa ausência de planejamento prévio para lidar com suas consequências. Tudo parece ser feito de última hora, como se as soluções só pudessem ser encontradas diante dos acontecimentos. Não há dúvida de que as chuvas da madrugada da quarta-feira causariam deslizamentos e inundações, mesmo que não houvesse ocupação irregular do solo. Os danos materiais também são justificáveis por conta da dimensão das chuvas. Mas, se um simples sistema de alerta funcionasse, o número de vítimas poderia ser reduzido de forma drástica. A tragédia fluminense é repleta de exemplos de como nada disso foi feito, nas duas pontas da incompetência administrativa.

Na tarde de terça-feira, horas antes do início do temporal, o radar instalado pela Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro no ano passado já emitia dados mostrando que uma chuva de grande intensidade se aproximava da região serrana. O equipamento, conhecido como Doppler, foi adquirido após as chuvas que mataram mais de uma centena de pessoas na região metropolitana da capital fluminense e tem capacidade de cobrir um raio de 250 quilômetros, quase duas vezes a distância que separa o Rio de Nova Friburgo. Mas, por razões que ainda não estão claras, não havia técnicos disponíveis ou capacitados para analisar esses dados e disparar o alerta. Já o Instituto de Pesquisas Aeroespaciais, o Inpe, informou à Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro que um grande temporal estava se formando na região serrana. O órgão recebeu o aviso por volta das 15 horas de terça-feira e diz que emitiu o alerta às cidades por meio de e-mail. Mas a comunicação parece não ter sido benfeita. Os agentes da Defesa Civil de Teresópolis, onde mais de 200 pessoas perderam a vida, garantem que não receberam nada.

A tragédia desta semana só é atípica no número de mortes. No mais, é uma simples repetição do que ocorre ali há mais de um século, e que vem se agravando com o aumento da população. No entanto, horas após mais de cinco centenas de corpos estarem espalhados por toda a região, o poder público parecia não ter nenhum plano para lidar com uma situação como essa. Não havia, por exemplo, tarefas predefinidas para os atores públicos, como é de se esperar em uma região que anualmente sofre com desastres exatamente iguais a esse. Tudo parece ter sido resolvido de última hora. E as autoridades pareciam se orgulhar ao informar que a Marinha havia emprestado dois helicópteros, que o Bope, especializado no combate armado contra traficantes, havia liberado ônibus ou que o Exército enviara caminhões frigoríficos para dar conta do número extraordinário de corpos que eram recolhidos.

“É preciso criar os agentes comunitários, as brigadas locais em cada distrito, em cada município. São essas pessoas que dão as diretrizes em situações como essa e mostram o que fazer até a chegada do socorro oficial”, diz a vereadora Andréa Gouveia Vieira (PSDB/RJ). A família do marido de Andréa é proprietária do sítio que fora alugado para a estilista e designer Daniela Conolly e parentes. Invadida por água, lama e entulho, a casa foi soterrada junto com Daniela e mais sete membros de sua família (leia quadro). “A casa existia há mais de 70 anos. Nunca aconteceu algo dessa magnitude lá. O rio subiu em uma velocidade enorme, foi um volume de água impossível de ser contido. Havia 18 pessoas na casa, 14 morreram”, disse a vereadora. Embora seja política, seu discurso é o mesmo de qualquer cidadão comum: cansaço com as promessas nunca cumpridas de reflorestamento, limpeza dos rios, remoção de pessoas de áreas de risco.

Como em qualquer acidente, a causa não é uma só. É uma soma de erros de várias origens, entre as quais o inaceitável descaso com o meio ambiente. “Gerações foram criadas sem que houvesse uma preocupação ambiental. Houve uma ocupação desordenada com construção de residências em encostas”, aponta Luís Eduardo Peixoto, presidente do comitê de ações emergenciais de Petrópolis.

Aquecimento global e desmatamentos são algumas das causas de tragédias que têm acontecido no mundo. O aumento da população urbana é outra ponta do desequilíbrio. A pesquisadora mineira Waleska Marcy Rosa, 41 anos, do Centro Universitário Serra dos Órgãos, fez, em 2007, um estudo comparativo entre os municípios de Teresópolis e Petrópolis e concluiu que a ocupação das áreas de encosta dos dois municípios cresceu demasiadamente a partir da década de 1960, à sombra da fraca atuação do poder público, que, além de não conseguir impedir as ocupações irregulares, muitas vezes até as regulamentou. “É a desgraça do populismo, a permissividade de deixar a ocupação de áreas de uma maneira irresponsável como se eles (políticos) fossem aliados dos mais pobres”, comenta o governador Sérgio Cabral, obviamente excluindo-se da culpa que aponta nos outros governantes.

Não há como, no entanto, negar que a responsabilidade maior é do poder municipal. “São as prefeituras que regulam o uso do solo, autorizam construções e fiscalizam regiões de risco”, diz o cientista político Ignácio Cano, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Para ele, a situação chegou a um ponto em que “é preciso uma política com um componente repressivo que impeça a construção irregular e remova quem está em área de risco”. A própria presidente Dilma Rousseff, que esteve na cidade na quinta-feira 13, reforça essa visão. “Ocupação irregular no Brasil não é exceção, é regra.” Segundo o secretário-geral da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco, no ano passado foram gastos 13 vezes mais com a resposta do que com a prevenção. Ele afirma que houve um investimento de R$ 2,3 bilhões para remediar e apenas R$ 167,5 milhões para prevenir. Castello Branco critica também a má distribuição de recursos federais. “Do montante do ano passado, 50,5%, mais de R$ 80 milhões, foram destinados à Bahia, enquanto o Rio ficou só com 0,6%, ou seja, R$ 1 milhão. São Paulo teve 5,6% e Minas Gerais, 6,2%”. Ao contrário do Rio, a Bahia não é um Estado com histórico de desastres ambientais tão frequentes como o Rio. Mas a diferença entre os dois Estados é que o ministro responsável pela distribuição dos recursos, Geddel Vieira Lima, é baiano e tinha como objetivo principal no ano passado ser eleito governador do Estado que tanto privilegiou com a distribuição dos recursos.

O resultado disso se vê em todas as esferas do poder público, que não consegue responder a uma crise das proporções da região serrana fluminense. Nos ineficientes e sucateados Institutos Médicos Legais das cidades atingidas, o cheiro da morte se espalhava pelos corredores e pelo entorno dos prédios. “Tenho que passar pomada com cheiro de menta no nariz para poder trabalhar. O mau cheiro está insuportável”, disse um dos funcionários responsáveis pelo transporte dos corpos em Nova Friburgo, que prefere não se identificar. Até a manhã da sexta-feira 14, a cidade chorava inacreditáveis 216 mortos na tragédia. A todo momento, caminhões e caminhonetes chegavam com corpos ao Instituto de Educação de Nova Friburgo, improvisado para funcionar como Instituto Médico Legal. Dia e noite, a porta da instituição ficava tomada por pessoas que buscavam saber se entre os mortos há algum parente ou amigo. “Não saio daqui enquanto não souber notícia de minha avó”, disse, ainda em estado de choque, a comerciária Regina Soares, 28 anos. Com tantos cadáveres e condições precárias, o trabalho no local tem sido sacrificante em Nova Friburgo e mostra que não há nenhuma preparação para enfrentar problemas como esse. Nem mesmo um plano de contingência para lidar com um número de mortos tão grande, algo que não é inédito por ali, parece haver.

Sem a resposta rápida e eficaz do poder público, a população se divide entre um estado de absoluta catatonia e de desespero. No centro de Nova Friburgo, famílias de várias classes sociais perambulavam nos dias que sucederam ao desastre com bolsas e sacolas em punho, buscando refúgio. Uma delas era o pedreiro Andrei Silva, 26 anos, cuja casa, localizada no bairro do Jardim Califórnia, foi inundada pela chuva e ficou prestes a desabar. Ele deixou o imóvel com sua mãe e duas irmãs. “Não sei para onde vou, mas para lá não volto mais”, prometeu. Não longe dele, a advogada Lia Vieira caminhava com os pés envoltos em sacolas de supermercado. “Perdi minha casa e meu carro no desabamento”, contou. “Agora, o que eu quero é sair daqui.”

Ao menos nesse momento, o desejo de Lia é compartilhado por milhares de famílias que perderam todos os seus bens e, principalmente, familiares. Assim, como nesse momento, os governantes prometem resolver os problemas emergenciais e criar condições para que tantas mortes não se repitam. Cabe agora esperar, e cobrar, que elas não sejam carregadas pelas águas de março que todos os anos fecham o verão.
Colaboraram: Adriana Prado e Luciani Gomes

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Revista Época
9 causas da tragédia e o que fazer para evitar sua repetição
Autor(es): Aline Ribeiro, Maurício Meireles e Leopoldo Mateus

Especialistas apontam os fatores que contribuíram para ampliar as proporções do desastre e as ações preventivas que precisam ser adotadas com urgência

1. O que transformou uma chuva comum no verão em uma catástrofe?
Um acúmulo de umidade ronda os morros da região serrana do Rio de Janeiro. Seu nome: Zona de Convergência do Atlântico Sul. É uma concentração de nuvens que sai do sul da Amazônia, passa pelo Centro-Oeste, chega ao Sudeste e se move para o oceano. Ela ocorre nos meses quentes, entre outubro e março, e ajuda a formar a umidade dos verões. “Uma das principais características desse fenômeno é a longa permanência”, afirma Gustavo Escobar, coordenador do grupo de previsão de tempo do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC). “Ele chega a ficar até cinco dias em uma mesma região.” Na semana passada, o fenômeno provocou um volume de chuva anormal. Num período de 24 horas, entre a terça e a quarta-feira, 182,8 milímetros de água caíram sobre Nova Friburgo – quase o total esperado para janeiro. E um volume de 124,6 milímetros castigou Teresópolis. Petrópolis não tem estação de medição. O volume de chuvas na região durante a madrugada da quarta-feira só perde para um recorde registrado há 45 anos. “Áreas que não seriam tecnicamente mapeadas como sendo de risco foram totalmente destruídas pela força das águas”, afirma Luiz Firmino, presidente do Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro (Inea). “Houve escorregamentos de terra até em áreas intactas do Parque dos Três Picos, semelhantes ao que aconteceu com a pousada Sankay, no ano passado, na Ilha Grande.”

2. Como as características do solo influenciaram o desastre?
A explicação para a tragédia não se restringe apenas à quantidade de chuvas ou à geografia dos morros. Ela remonta à ocupação das áreas urbanas no Brasil. Durante a formação das cidades, pouco se respeitou o funcionamento natural do solo. As margens dos rios, responsáveis pela absorção da chuva, foram cimentadas. Os rios que corriam sinuosos viraram canais retos, pistas de corrida para as águas deslizarem com velocidade. Na região serrana, muitas construções recortam as encostas dos morros. Sem floresta nativa para fixar a terra às camadas de rocha, o solo fica mais frágil. Quando vem a chuva, ele não consegue absorver a água e arma a avalanche. “A região da Serra do Mar não é para ser ocupada”, afirma o geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, ex-diretor de planejamento e gestão do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). “Mas as ocupações continuam aumentando sem nenhum rigor técnico.”

Durante as últimas chuvas, a região serrana do Rio registrou um fenômeno parecido com o ocorrido em Angra dos Reis, mas com uma sutileza – além dos deslizamentos, houve o que os especialistas chamam de corrida de lama. A água arrastou detritos das montanhas para os rios dos fundos dos vales. O que eram pequenos riachos se transformaram subitamente em rios caudalosos que arrastaram o que havia pela frente. Em Petrópolis, o Rio Santo Antônio subiu quase 6 metros. A velocidade das águas chegou a 80 quilômetros por hora. “A tromba-d’água de uma corrida de lama forma uma avalanche com poder de destruição tremendo”, diz Santos.

3. Um sistema de alertas mais eficaz teria poupado vidas?
Das cidades serranas atingidas, apenas Nova Friburgo conta com um sistema de medição pluviométrica capaz de pôr em alerta a Defesa Civil. Ainda assim, o alarme só foi disparado quando os rios já estavam transbordando e não havia tempo de evacuar a população em área de risco. Mesmo zonas consideradas seguras, como o centro da cidade, viraram cenário de destruição, como se tivessem passado por um terremoto. “Famílias que vivem ali há um século jamais tinham testemunhado coisa parecida”, diz Luiz Firmino. Para evitar futuras tragédias, é preciso contar com um sistema que, além de prever, possa avisar as pessoas para deixar áreas de risco a tempo. O Japão tem uma tecnologia que detecta tremores e lança alertas contra terremotos. O aviso chega aos meios de comunicação até 20 segundos antes do abalo. Pode parecer pouco, mas é essencial para que as pessoas consigam se proteger e evitar danos maiores. Os Estados Unidos têm um sistema de previsão e alertas há 200 anos. Hoje, um site avisa a população das cidades sobre nevascas, furacões e outros riscos com até quatro dias de antecedência. “Por causa das mudanças climáticas, a volatilidade do clima está muito maior”, diz Carlos Nobre, chefe de Ciência Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). “Uma das consequências é a concentração de águas em um período do ano. Se fosse mais espaçado ao longo do tempo, não causaria tragédias. Por isso é importante contar com um sistema de alerta eficiente.” Desde o dia 28, o órgão conta com um supercomputador para aumentar a precisão das previsões. Custou R$ 50 milhões e espera-se que ajude a prever com mais eficácia os grandes temporais.

4. Os estragos seriam menores se não houvesse desmatamento nas encostas?
Solos montanhosos já são especialmente vulneráveis, mas, quando existem florestas conservadas, as encostas ficam mais protegidas pela vegetação. Em áreas de escarpas rochosas e solo muito fino, é difícil impedir o estrago. A água encharca o solo e faz com que ele deslize sobre a rocha, montanha abaixo, na forma de lama. No vale, a falta de drenagem, que já é um problema em circunstâncias normais, transforma-se em pesadelo com a descida repentina da lama e das águas. O potencial de destruição é enorme.

5. Como conter a ocupação irregular do solo?
Muitas casas são construídas sem levar em conta a vulnerabilidade do espaço. Por causa da pobreza e da deficiência do sistema de transporte, muitos se sujeitam a morar em áreas de risco. Essas ocupações costumam remover a cobertura vegetal do terreno e bloquear os canais por onde a água escorre. Sem falar na ocupação das planícies às margens de rios, áreas proibidas para construções por inundarem facilmente. Os moradores dessas áreas são as primeiras vítimas das chuvas. “Uma solução é as empresas terem responsabilidade social”, diz Willy Lacerda, engenheiro geotécnico da Coppe/UFRJ. “Elas deveriam investir em moradias em áreas adequadas para seus funcionários quando se instalam numa certa região.”

6. Há como evitar novas tragédias mesmo sem remover as pessoas que vivem na região?
As chuvas fortes (e devastadoras) de verão não vão deixar de acontecer. Elas fazem parte do ciclo natural do clima – e, com o aquecimento global, deverão ficar ainda mais intensas. A cidade do Rio de Janeiro já começou a se mexer para evitar catástrofes. A Fundação Instituto de Geotécnica (Geo-Rio) terminou no final do ano passado um mapeamento dos imóveis em situação de risco da cidade. É um levantamento inédito. As autoridades agora sabem onde está cada uma das 21 mil casas em solos frágeis passíveis de desabar. É o primeiro passo para agir. A cidade também comprou um radar capaz de prever tempestades com antecedência de uma hora. O tempo é curto, mas pode ser suficiente para os moradores de áreas de risco deixarem suas casas. Orçado em R$ 2,5 milhões, o equipamento vai servir a região metropolitana do Rio. O Estado ainda não tem nada parecido.

O governo do Estado também quer fazer um mapa das áreas de risco. Até agora, só seis cidades do Estado têm um levantamento do tipo (Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis estão nessa lista). O Serviço Geológico do Estado do Rio de Janeiro quer ampliar esse número em mais 30 municípios. O trabalho vai custar cerca de R$ 3 milhões. “Até o final do governo, a ideia é cobrir as 92 cidades do Rio”, diz Flavio Erthal, presidente do Serviço Geológico. “Temos um passivo imenso. Precisamos de uma estratégia rápida de enfrentamento.”

7. É justo culpar as prefeituras?
A maioria das prefeituras tem mapas de risco, mas o método com que esses mapas são produzidos é contestado por especialistas. Os cálculos são feitos com base em dados incompletos e desatualizados. Caso esses mapas fossem mais precisos e as pessoas fossem retiradas das áreas de risco, tragédias como a da semana passada poderiam ser evitadas. “É só ver o tamanho do desastre e constatar que é impossível que um mapa de diagnóstico decente não tenha observado fatores de riscos tão óbvios nessas regiões”, diz Ana Luiza Coelho Netto, pesquisadora do Instituto de Geociências da UFRJ.

8. Qual é a responsabilidade do governo federal?
As verbas federais precisam chegar aos municípios. No ano passado, o Ministério da Integração só repassou 39% dos recursos disponíveis para prever e evitar desastres naturais para as prefeituras. Uma parte desse valor serviu para pagamento de dívidas de anos anteriores e não para a realização de obras. O Rio de Janeiro recebeu 0,6% dessas verbas, que foram repassadas só para três municípios. Além disso, dados do Sistema Integrado de Gestão Financeira do Governo (Siafi) mostram que a União não repassou os R$ 21,7 milhões previstos para obras de drenagem. “Dependemos de vontade política. Existem tecnologia, recursos humanos, metodologia e técnicos para realizar o trabalho, mas a vontade ainda não chegou à área de prevenção”, afirma Moacyr Duarte, especialista em gerenciamento de riscos da Coppe/UFRJ.

9. Até que ponto as mudanças climáticas têm culpa na tragédia?
Os cientistas ainda não são categóricos ao relacionar as mudanças climáticas às catástrofes isoladas (como a da região serrana do Rio). Segundo eles, é preciso um período de 30 anos de eventos extremos para avaliar se há, de fato, alguma relação com o aquecimento do planeta. A despeito do conservadorismo, os especialistas do clima já dizem que as estiagens prolongadas e as chuvas severas vão ser mais frequentes e intensas. A partir de 2030, as elevações de temperatura causarão indiretamente cerca de 1 milhão de mortes por ano, segundo um estudo apresentado na Conferência do Clima, em dezembro, em Cancún, no México. O prejuízo ficaria em torno de US$ 157 bilhões.

“Já sabemos que não vai levar mais tanto tempo para acontecer outra tragédia como essa”, afirma o economista Sérgio Bessermam Vianna, especialista em adaptação de grandes cidades às mudanças climáticas. “É obrigatório mapear as áreas mais frágeis e proteger as populações vulneráveis”

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Revista Veja
UM BANHO DE LAMA NA CIVILIZAÇÃO
OS MORTOS DE JANEIRO.

O Brasil tem encontro marcado com a tragédia todos os anos na estação chuvosa e não há força terrestre que faça com que as autoridades e as pessoas preparem para isso. Neste ano, o encontro foi na antes paradisíaca região serrana do Rio de Janeiro. Todos os anos, a natureza demonstra com fúria que as conquistas da civilização em muitas áreas são plantinhas frágeis que podem ser arrancadas pelas enchentes e pelos deslizamentos das encostas. A natureza não vai amenizar suas explosões de energia – há indícios científicos de que as coisas podem até piorar. Quem tem de mudar somos nós. Do contrário, a soma dos mortos vai aumentar.

Até a semana passada, a Região Serrana no Rio era conhecida pelas cidadezinhas charmosas entrecortadas pelas montanhas da Serra do Mar. As construções alpinas, as pousadas românticas e as fondues no cardápio dos restaurantes atraíram 2 milhões de visitantes em 2010. Na madrugada de quarta-feira, grande pane disso tudo desapareceu em meio a uma torrente de bilhões de metros cúbicos de água e lama que desceu pelas encostas da região a uma velocidade de até 150 quilômetros por hora, ceifando 546 vidas (número que a Defesa Civil divulgava até a noite de sexta-feira). Toda vez que as chuvas causam uma grande destruição, invocam-se os mesmos culpados: os sucessivos governos que agiram de forma irresponsável ao tolerar, ou incentivar, a ocupação irregular do solo, a falta de articulação entre os sistemas que deveriam ser capazes de antecipar a tragédia, a negligência na execução de obras que poderiam minimizar as perdas. É uma análise realista. Mas, quando o desastre assume proporções colossais, como ocorreu no Rio na semana passada, a lista dos culpados de sempre, sozinha, deixa de fazer sentido. O que fez o temporal que desabou sobre a serra fluminense se transformar na segunda maior catástrofe já provocada pelas chuvas na história do Brasil foi – também - uma perversa e poderosa combinação de fatores climáticos globais e locais, associada às peculiaridades topográficas da região.

Tudo começou com a entrada de uma corrente de ar e umidade vinda da Amazônia em direção ao Sudeste. Essa corrente ocorre sazonalmente e dá origem a nuvens muito carregadas - os cúmulos-nimbos - que chegam a ter até 18 quilômetros de altura e deságuam sobre a Região Sudeste. Até aqui, fala-se de um processo característico das condições climáticas da região. É, portanto, normal e frequente. O que não é normal nem frequente é a intensidade das chuvas que a corrente provocou naquele local, num curto período de tempo. É nesse ponto que, suspeitam cientistas, pode ter havido influência de um fator ligado às mudanças climáticas do planeta, como o aquecimento da superfície terrestre. “Essas mudanças alteram o ciclo de formação das chuvas e provocam fenômenos sem precedentes”, diz João Willy Rosa, professor de geociências da Universidade de Brasília (UnB).

Para agravar essa conjunção funesta, colaborou o perfil topográfico da região. Quando se formaram sobre a serra, as nuvens extraordinariamente carregadas, originárias da corrente de ar vinda do norte, foram aprisionadas em uma área restrita pelos maciços rochosos, que atingem até 2000 metros de altitude. Assim, impedidas de se dispersar, despejaram enorme volume de águas na cabeceira dos rios Cuiabá, Paquequer e Bengalas. Em cascatas violentas, a água desceu pelas montanhas, numa inclinação de até 90 graus em alguns casos. Misturada a troncos de árvore e toneladas de detritos, transformou-se numa avalanche de lama que arrastou morro abaixo milhares de casas e centenas de vidas - de velhos, crianças, mulheres grávidas, bebês de colo, pobres e ricos.

Na manhã de 14 de janeiro, VEJA testemunhou a mulher e a filha de um ex-prefeito de Nova Friburgo implorarem aos bombeiros para que fossem até o sítio onde o político e seu filho haviam sido soterrados dois dias antes. A casa, que fica num bairro nobre da cidade, fora coberta por pedras e lama, e nenhuma equipe de resgate tinha passado por ali desde o temporal. “Não há homens para isso, minha senhora”, respondeu o bombeiro. “Nossa prioridade é resgatar os vivos”, disse, inadvertidamente sugerindo que eram infundadas as esperanças da jovem de encontrar o pai vivo. Se fosse até lá, o bombeiro teria de percorrer um trajeto sinuoso para se desviar da lama, das carcaças de carro, restos de fogões e geladeiras cuspidos de casas que não existem mais. No cenário de destruição, o comércio ficou abandonado. Os supermercados jogavam nas ruas potes de comida enlameada, que algumas pessoas recolhiam para lavar na água barrenta do chafariz da Praça Getúlio Vargas, no centro da cidade. Na mesma fonte, um grupo de pessoas tentava tomar banho, enquanto mulheres enchiam garrafas de plástico com água para beber. No único posto de gasolina ainda aberto, motoristas brigavam pelo lugar na fila, com medo de que o combustível acabasse. Não havia energia elétrica, a telefonia não funcionava.

Tragédias dessa magnitude têm o poder de revelar a capacidade quase infinita do ser humano de suportar sofrimentos extremos - e também de mostrar a grandeza de alguns diante da dor de um semelhante. Em Campo do Coelho, distrito de Nova Friburgo de 9000 habitantes, as poucas equipes de resgate que conseguiram chegar, levadas por helicópteros, depararam com um problema quando retiravam os corpos que estavam debaixo da terra e da lama. Não havia quem recebesse os cadáveres. Diante disso, um grupo de cinco costureiras da cidade se prontificou a ajudar. Improvisaram um serviço de IML em um colégio, levaram para lá os corpos - muitos dilacerados e já em estado de decomposição - e os lavaram. Enquanto isso, moradores se organizaram para arrecadar roupas e vestir os mortos de maneira a oferecer-lhes uma migalha final de dignidade. Ao lado do colégio em que as costureiras trabalhavam, um pequeno posto de saúde, com apenas duas macas, recebia os feridos. Lá, duas enfermeiras tentavam minimizar a dor dos pacientes - alguns deles com membros amputados pela violência da enxurrada de lama. Por falta de material apropriado, muitas suturas tiveram de ser feiras com fio odontológico.

O ginásio do Instituto de Educação de Nova Friburgo também foi transformado em um IML improvisado. No dia seguinte à tempestade, 158 cadáveres jaziam sobre o piso de cimento. Por falta de espaço, cada novo corpo que chegava era colocado ao lado ou em cima de outros. Aos familiares das vítimas restava entrar em uma fila e esperar pela vez de circular entre os morros. Ao identificar um conhecido, bastava levá-lo embora, sem necessidade de comprovar parentesco, em carros ou caixões carregados nos ombros. Em meio ao luto e à desordem, brotavam discussões entre parentes que se acusavam de estar levando o morro errado.

À medida que o tempo passava, tanto o IML oficial como os improvisados ficaram pequenos para acomodar os cadáveres, que não paravam de chegar. Os corpos passaram, então, a ser levados para a quadra da escola de samba Unidos da Saudade. Na sexta, começaram os enterros coletivos. Grandes covas foram abertas no cemitério Trilha do Céu para sepultar, de uma só vez, dez a vinte pessoas, identificadas ou não por seus parentes. A dimensão da tragédia não deixou alternativa. E havia como prevê-la?

O Rio de Janeiro tem um aparelho de monitoramento de previsão meteorológica, instalado há apenas um mês, a cerca de 200 quilômetros da Região Serrana do Rio. Segundo o Instituto Nacional de meteorologia (Inmet), ele funcionou, assim como todos os instrumentos utilizados pelo instituto, mas uma falta de comunicação fez com que as informações não fossem corretamente interpretadas.

Desde o dia 4 de janeiro, técnicos do Inmet enviaram dezesseis avisos especiais às unidades estaduais da Defesa Civil alertando para a aproximação de tempestades - cinco deles citavam o Rio de Janeiro. Na manhã do dia 11, o aviso especial número 12 mencionava especificamente a Região Serrana do Rio, além do sul do estado e das cidades do Vale do Rio Paraíba. Dizia haver previsão de “ocorrência de chuva moderada a forte com trovoadas e rajadas de vento” e também ai errava para o “significativo acumulado de chuvas em todo o estado”. Para um leigo, pode parecer pouco. Mas, entre os especialistas em defesa civil, a sequência de avisos citando o Rio e o detalhamento que incluía a Região Serrana são, ou deveriam ser, informações inequívocas de que haveria chuvas em um nível muito acima do normal. A expressão “significativo acumulado de chuvas” denota que as encostas de morros estavam sob alto risco de sofrer deslizamento. Ou seja, os responsáveis pela Defesa Civil estadual do Rio não perceberam a importância da informação recebida. A partir daí, não está claro o que aconteceu: se os técnicos da Defesa deixaram de repassar o aviso aos municípios ou se o fizeram, mas sem o devido alarme.

Hoje, os computadores mais modernos para previsão meteorológica possuem uma resolução de 20 quilômetros. Isso significa que conseguem “enxergar” apenas fenômenos climáticos com extensão maior do que 20 quilômetros. Não é o caso das chuvas localizadas, como algumas das que caíram sobre a Região Serrana do Rio. A partir do próximo ano, essa análise ficará mais precisa - a resolução será de apenas 5 quilômetros. O salto ocorrerá quando o Tupã, um novo computador usado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), passar a ser utilizado efetivamente. Caso ele já estivesse em funcionamento no Rio na semana passada, os institutos meteorológicos poderiam determinar com -muito mais -precisão os lugares que seriam atingidos pelas chuvas torrenciais. Mas isso não mudaria o tempo máximo de antecedência com que os meteorologistas conseguem rastrear a chegada dos fenômenos. Hoje, essa margem é de até oito horas (leia o texto na pág. 59). Para evitar novos rios de morre, é preciso cobrar o poder público de forma sistemática e implacável. Mas também é necessário avançar na capacidade de prever ocorrências como essa e entender mais profundamente as consequências da interação entre os microclimas e as condições climáticas globais, com todas as alterações que elas têm sofrido.

A tragédia do Rio vem lembrar que as conquistas da civilização, especialmente nos trópicos, são frágeis tão frágeis como uma camada de terra sobre a rocha. E, como ela, podem se dissolver de um instante para o outro diante da força da natureza, da inação política e das limitações humanas.

Dá para prever
Catástrofes como a que assolou a Região Serrana do Rio podem ser previstas com até oito horas de antecedência - em detalhes. Com o uso combinado de programas de computador e radares, os meteorologistas brasileiros conseguem rastrear o local e o volume exato da chuva que vai cair. Baseados em informações colhidas por satélites, os computadores preveem o roteiro que será seguido pelas grandes massas de ar úmido nos sete dias seguintes. Simultaneamente, entram em ação os radares meteorológicos. Instalados longe de montanhas e torres para evitar interferências, eles são capazes de “enxergar” aglomerados de nuvens de chuva num raio de até 450 quilômetros. Enviam sinais de ondas eletromagnéticas que se chocam contra as gotas de chuva e retomam ao equipamento. O tempo consumido pelo sinal nessa viagem indica a posição exata das nuvens e a velocidade com que se aproximam. A potência do sinal que retoma à base determina a quantidade da água - quanto mais forte, mais intensa será a chuva. Há dez equipamentos desse tipo no Brasil. De acordo com o meteorologista Luiz Carlos Molion, do Instituto de Ciências Atmosféricas da Universidade Federal de Alagoas, o número é insuficiente. “Cada estado deveria ter pelo menos três radares para ser rastreado por completo”, diz. No Rio há apenas um equipamento. Segundo o Inmet, ele funcionou na semana passada, mas uma falha no sistema de comunicação impediu que a Defesa Civil recebesse o alarme a tempo.

Em um mundo ideal, a informação dos radares chegaria ao órgão estadual e seria repassada aos municípios. As equipes da Defesa Civil de cada cidade retirariam, então, os moradores das áreas sob ameaça e os levariam para abrigos da prefeitura. Esse deslocamento poderia ser feito em menos de oito horas. Quase sempre, a maior dificuldade nesse tipo de operação está em convencer os moradores a deixar suas casas. “Para solucionar esse problema, é preciso fazer um trabalho preventivo com a população”, avalia Jair Paca de Lima, coordenador da Defesa Civil de São Paulo. E isso não existe em muitas regiões do Brasil.

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