Texto extraído do livro BRASIL: UMA HISTÓRIA cinco séculos de um país em construção de Eduardo Bueno. Edição 2010, pag 18, editora LEYA.
Quem são, de onde vieram, para onde vão? Cinco séculos depois do primeiro encontro, os indígenas do Brasil permanecem um mistério para o homem branco.
Não se pode afirmar com certeza de onde vieram, embora a teoria da migração via estreito de Behring continue sendo a mais provável — mesmo tendo perdido a exclusividade. Quando teriam chegado à América também é assunto ainda polêmico: 12 mil, 38 mil ou 53 mil anos atrás? Ninguém sabe ao certo. Sabe-se apenas que aqui estavam. De qualquer modo, sua simples presença já configurava um enigma. Quem seriam aqueles homens “nus, pardos, de bons narizes e bons corpos”, que negros não eram, nem mouros, nem hindus? Descenderiam de qual das dez tribos de Israel? Ou de qual dos três filhos de Noé? Teriam alma? Em caso afirmativo, como poderiam ter vivido tanto tempo “à margem de Deus”?
Cristóvão Colombo, achando que chegara ao Oriente, decidira chamá-los de “índios” —mas índios os portugueses sabiam que não eram. O que seriam então esses “negros da terra”? Bons selvagens, como sugeriu Pero Vaz de Caminha (e os filósofos Montaigne, Rosseau e Diderot ecoaram), ou antropófagos bestiais, como afirmaram outros cronistas? Defini-los de que forma, se alguns eram brutais e intratáveis, como os Aimoré — que comiam carne humana “por mantimento e não por vingança ou pela antiguidade de seus ódios”—, e outros tão mansos e pacíficos, como os Carijó, “o melhor gentio da costa”?
Passados 500 anos de convivência sempre conflituada, os indígenas continuam sendo pouco mais do que um mito brasileiro. Afinal, são pessimistas incuráveis, que se suicidam por puro desespero, como membros dos Guarani-Kayowá, ou empresários bem-sucedidos, como os Kayapó? Podem ser apenas sete, como os Xetá, ou 23 mil, como os Tikuna. Para onde vão? A resposta não depende deles.
A história brasileira não celebra um único herói indígena — nem aqueles que ajudaram os portugueses a conquistar a terra, como o Tupiniquim Tibiriçá, que salvou São Paulo em 1562; o Temirninó Arariboia, que tomou parte na vitória sobre os franceses em 1567; ou o Potiguar Felipe Camarão, que ajudou a derrotar os holandeses em 1649. O “cacique” Kayapó Raoni éum herói — mas não no Brasil. É um herói para alguns europeus cheios de boas intenções e má consciência. Raoni parece ter-se tornado uma imagem. Uma imagem tão incongruente quanto a do quadro O Último Tamoio, de Rodolfo Amoedo, reproduzido acima. Na história real, nenhum jesuíta jamais chorou a morte do último Tamoio — que eram aliados dos franceses e foram abandonados pelos padres. Haverá alguém para chorar pelo último lanomâmi?
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