Entre as instituições ou sentimentos considerados sagrados, que costumam ser objeto de entrega (heroísmo) e traição, estão: a religião, a família, a pátria, os amigos, o amor e as causas nobres que só podem ser conquistadas com luta, dedicação e sacrifício de pessoas que estão unidas em torno dela.
Nas linhas que se seguem, tendo por referencial analítico a noção de tipo ideal proposta e valendo-me de casos clássicos ou bem conhecidos, examino como a traição aparece configurada, sobretudo: (1) em letras da MPB envolvendo questões relativas a família, ao casal e o amor; (2) em Calabar e Tiradentes – personagens marcantes da história colonial, o primeiro no sentido negativo e o segundo no sentindo amplamente positivo; (3) em conhecido livro panfletário, datado de medos do século XX e que tem o político udenista Carlos Lacerda como centro de ataques; (4) em recentes pronunciamentos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tendo por pano de fundo a crise de credibilidade que se abateu sobre a vida pública brasileira desde que, há cerca de um ano, o então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) denunciou a existência do que chamou e ficou conhecido como “mensalão”.
“Ele sabia (1) que ela sabia que ele não sabia que ela o estava traindo. Mas isso era impossível, pois se ele sabia, então ela não poderia saber que ele não sabia. Logo, o que acontecia era que ele sabia que ela pensava que ele não sabia que ela o estava traindo. O que ele não sabia, porém, era que ela não sabia que ele sabia que ela o estava traindo. Assim, a verdade era que ele apenas pensava que ela pensava que ele não sabia que ela o estava traindo”.
Nenhuma outra atividade, como a política, no sentido da luta pelo poder, implica tanta disposição a trair os mentores que se apresentam como companheiros ou amigos. Maquiavel situou a traição dentro da "virtú" política, que pouco tem a ver com a moral e com o ódio.
A traição (2) pode plasmar a dialética hegeliana (só que sem a idéia de progresso) na qual se nega o anterior: não se trai para ser igual ao traído. Isso explica que alguém que estava trabalhando com seu predecessor acabe sendo muito diferente ao chegar à cúspide. Para ser traidor deve se ter resistência.
As traições ocorrem dentro de uma mesma família (política). Não se trata de se passar ao inimigo, mas de trair o amigo, o companheiro, dentro do próprio grupo. Os desdobramentos nem sempre são pacíficos.
Querem pegar os picaretas (3) que trocam de partido para se darem bem no poder. Deveriam ser mesmo punidos. Mas como distinguir aqueles que trocaram de partido para se beneficiarem do poder daqueles que abandonaram seus partidos por se sentirem traídos por eles?
Que o diga Chico Alencar, Heloísa Helena e tantos outros. Passaram anos de suas vidas construindo um partido – como milhões de brasileiros – que mal chegou ao poder e jogou suas bandeiras no cesto de lixo da história. A ética, bem, essa talvez já tivesse sido jogada no esgoto há muito mais tempo.
E nós, pobres eleitores, traídos por políticos e partidos, como vamos nos defender? Talvez melhor chamar o Millôr Fernandes que tempos atrás exigiu o voto retroativo.
Curioso, só os humoristas desvendam realmente a alma da política. Só o ridículo nos revela sua cara. Queremos o direito de retirar o voto quando nos sentirmos traídos. Bem sabemos, poucos deles sobrariam no poder, ainda que alguns exemplares possam viver honradamente em Sodoma e Gomorra.
Nós sabemos como nos sentimos diante de um modelo predador, da privatização das florestas brasileiras, da transposição do São Francisco, da invasão de nosso território pelos clusters americanos e europeus do etanol, pela venda da Vale, pela reforma agrária que nunca é feita, pela malversação do dinheiro público, crimes e crimes sobre novos crimes.
Esses homens andaram aqui no sertão, se hospedaram em nossas casas, nós fizemos a ponte entre eles e o povo, pareciam éticos, pareciam defensores dos interesses populares, nós achávamos que eles eram de confiança e por isso a punhalada é com peixeira cega, rasgando a carne e quebrando os ossos. E nos sentimos impotentes. Poderia ser diferente?
Talvez nenhuma das perfídias humanas seja tão cruel quanto à traição. A história da humanidade está cheia de reviravoltas e traições de todos os tipos. Grandes. Pequenas. Alguns parecem até acreditar que não existe o exercício da política sem que junto não caminhem as traições. Assim, traição faria parte da política. No mundo pragmático em que vivemos, segundo essa visão, trair não seria mais uma vergonha.
E ainda dizem mais: haveria uma escola que todo político é obrigado a frequentar se quiser ser bem-sucedido. Lá não se ensina nem Português nem Matemática. Não existe sala de aula nem corpo docente. Não tem livros, provas, trabalhos ou avaliações. Apenas um diploma aos que lograrem sucesso.
É a chamada Escola da Traição, onde se aprende que palavra não tem nenhum valor, que caráter não é qualidade e que companheiros servem apenas para ser usados. Nessa famosa escola, o bom aproveitamento do aluno depende unicamente da sua capacidade de deixar seus escrúpulos de lado e fazer tudo que for necessário para atingir seus objetivos.
(1) Kahrius Hkse
(2) Blog do Lúcio Alcantra
(3) E a traição dos partidos? Escrito por Roberto Malvezzi. 08-Out-2007
Compilação Bibliográfica por Tânia Maria Cabral
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NÓS FAZEMOS A DIFERENÇA NO MUNDO...
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"Eu sou a minha cidade, e só eu posso mudá-la. Mesmo com o coração sem esperança, mesmo sem saber exatamente como dar o primeiro passo, mesmo achando que um esforço individual não serve para nada, preciso colocar mãos à obra. O caminho irá se mostrar por si mesmo, se eu vencer meus medos e aceitar um fato muito simples: cada um de nós faz uma grande diferença no mundo." (Paulo Coelho)
"Eu sou a minha cidade, e só eu posso mudá-la. Mesmo com o coração sem esperança, mesmo sem saber exatamente como dar o primeiro passo, mesmo achando que um esforço individual não serve para nada, preciso colocar mãos à obra. O caminho irá se mostrar por si mesmo, se eu vencer meus medos e aceitar um fato muito simples: cada um de nós faz uma grande diferença no mundo." (Paulo Coelho)
Na qualidade de Cidadão, afirmamos que deveríamos combater o analfabetismo político, com a mesma veemência que deveria ser combatido o analfabetismo oficioso no Brasil. Pois a politicagem ganha força por colocarmos poder de importantes decisões nas mãos de quem não se importa com o que irá decidir.
Concordo com Bertolt Brecht, quando afirma que: "O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos”. Ele não sabe o custo de vida, nem que o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato, saneamento, mobilidade urbana, e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. “Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce à prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”
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