Por: AGOSTINHO GUERREIRO
O Rio de Janeiro foi escolhido como sede das Olimpíadas de 2016 e para sediar a Copa do Mundo de 2014. Os dois grandes eventos foram anunciados, como é de praxe, sete anos antes de sua realização, tempo que é considerado suficiente pelos organizadores para que se preparem as cidades, construindo estádios, reforçando a rede hoteleira e investindo em infraestrutura. Parece bastante, mas, na verdade, o tempo é muito curto, especialmente para se resolver os enormes problemas do transporte público no Rio de Janeiro.
A dois anos das Olimpíadas de 2012, Londres já é considerado um modelo em termos de planejamento e preparação. A cidade dedicou os três primeiros anos após o anúncio de que receberia o evento exclusivamente ao planejamento. Só depois disso deu início às obras, que estão previstas para terminar em junho de 2011 - um ano antes da abertura dos Jogos. Com esse calendário, ainda haverá tempo para testes, que vão ocorrer até abril de 2012, para que tudo esteja perfeito até o começo da competição esportiva.
Especialistas indicam que, para o Mundial de 2014, no Brasil, esse tempo já foi perdido, e temem que se repita o que ocorreu nos Jogos Pan-Americanos de 2007: todas as obras ficaram prontas a tempo, mas o orçamento estourou em mais de 400%. É fundamental, então, correr atrás do tempo perdido. Isso porque a falta de um sistema de transporte eficiente está intimamente relacionada a diversos problemas crônicos da cidade, como a favelização. É preciso, então, investir em transporte de massa não só para o evento, mas para a cidade.
Se Londres é um exemplo mais difícil de seguir, devido ao diferente estágio de desenvolvimento urbano em que a metrópole europeia se encontra, basta olhar para algumas cidades vizinhas da América Latina, que vêm enfrentando o problema do transporte urbano de maneira muita mais eficaz e rápida do que o Rio - e elas não têm uma Copa do Mundo nem uma Olimpíada para receber.
Enquanto o Rio ainda está planejando sua primeira via exclusiva para ônibus, Bogotá, na Colômbia, já tem um sistema de BRT (Bus Rapid Transit) com 114 estações, que transporta, em média, 55 milhões de passageiros por mês. Em Santiago, no Chile, o metrô tem 101 estações e leva cerca de 2 milhões de pessoas por dia. No Rio, são apenas 34 estações e 550 mil pessoas transportadas diariamente. A capital chilena inaugurou 26 estações nos últimos cinco anos, enquanto o Rio, no mesmo período, somou só duas ao seu sistema metroviário: Cantagalo, em Copacabana, e General Osório, em Ipanema.
Entre os planos para o os Jogos no Rio estão à construção da Linha Quatro do metrô, que vai chegar até a Barra da Tijuca, e de alguns corredores exclusivos para ônibus, o Transcarioca, que vai ligar a Barra à Penha, e o Transoeste, que vai ligar a Barra a vários outros pontos da Zona Oeste, como Santa Cruz e Campo Grande. O ideal seria que essas ligações fossem todas feitas através do metrô, mas, como não haverá tempo hábil para isso até 2016, é preciso que se tome a consciência da necessidade de se integrar os diversos modos de transporte - como se fez em Curitiba, por exemplo, onde os pioneiros BRTs prescindiram estações de metrô. E, também, pensando na integração entre os outros meios de transporte, como o aquaviário, que tem grande potencial de desenvolvimento numa cidade como o Rio. E é necessário também lembrar-se do que já existe e priorizar não apenas a construção do novo, mas a modernização do que é antigo e funciona mal, como o sistema ferroviário, com seus trens velhos que dão problemas com frequência.
Pensar e investir no sistema de transportes de uma forma integrada no Rio é promover qualidade de vida para a população. É fazer com que o Rio dê um passo à frente no longo caminho a ser trilhado para um desenvolvimento satisfatório.
AGOSTINHO GUERREIRO é presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-RJ).
O Rio de Janeiro foi escolhido como sede das Olimpíadas de 2016 e para sediar a Copa do Mundo de 2014. Os dois grandes eventos foram anunciados, como é de praxe, sete anos antes de sua realização, tempo que é considerado suficiente pelos organizadores para que se preparem as cidades, construindo estádios, reforçando a rede hoteleira e investindo em infraestrutura. Parece bastante, mas, na verdade, o tempo é muito curto, especialmente para se resolver os enormes problemas do transporte público no Rio de Janeiro.
A dois anos das Olimpíadas de 2012, Londres já é considerado um modelo em termos de planejamento e preparação. A cidade dedicou os três primeiros anos após o anúncio de que receberia o evento exclusivamente ao planejamento. Só depois disso deu início às obras, que estão previstas para terminar em junho de 2011 - um ano antes da abertura dos Jogos. Com esse calendário, ainda haverá tempo para testes, que vão ocorrer até abril de 2012, para que tudo esteja perfeito até o começo da competição esportiva.
Especialistas indicam que, para o Mundial de 2014, no Brasil, esse tempo já foi perdido, e temem que se repita o que ocorreu nos Jogos Pan-Americanos de 2007: todas as obras ficaram prontas a tempo, mas o orçamento estourou em mais de 400%. É fundamental, então, correr atrás do tempo perdido. Isso porque a falta de um sistema de transporte eficiente está intimamente relacionada a diversos problemas crônicos da cidade, como a favelização. É preciso, então, investir em transporte de massa não só para o evento, mas para a cidade.
Se Londres é um exemplo mais difícil de seguir, devido ao diferente estágio de desenvolvimento urbano em que a metrópole europeia se encontra, basta olhar para algumas cidades vizinhas da América Latina, que vêm enfrentando o problema do transporte urbano de maneira muita mais eficaz e rápida do que o Rio - e elas não têm uma Copa do Mundo nem uma Olimpíada para receber.
Enquanto o Rio ainda está planejando sua primeira via exclusiva para ônibus, Bogotá, na Colômbia, já tem um sistema de BRT (Bus Rapid Transit) com 114 estações, que transporta, em média, 55 milhões de passageiros por mês. Em Santiago, no Chile, o metrô tem 101 estações e leva cerca de 2 milhões de pessoas por dia. No Rio, são apenas 34 estações e 550 mil pessoas transportadas diariamente. A capital chilena inaugurou 26 estações nos últimos cinco anos, enquanto o Rio, no mesmo período, somou só duas ao seu sistema metroviário: Cantagalo, em Copacabana, e General Osório, em Ipanema.
Entre os planos para o os Jogos no Rio estão à construção da Linha Quatro do metrô, que vai chegar até a Barra da Tijuca, e de alguns corredores exclusivos para ônibus, o Transcarioca, que vai ligar a Barra à Penha, e o Transoeste, que vai ligar a Barra a vários outros pontos da Zona Oeste, como Santa Cruz e Campo Grande. O ideal seria que essas ligações fossem todas feitas através do metrô, mas, como não haverá tempo hábil para isso até 2016, é preciso que se tome a consciência da necessidade de se integrar os diversos modos de transporte - como se fez em Curitiba, por exemplo, onde os pioneiros BRTs prescindiram estações de metrô. E, também, pensando na integração entre os outros meios de transporte, como o aquaviário, que tem grande potencial de desenvolvimento numa cidade como o Rio. E é necessário também lembrar-se do que já existe e priorizar não apenas a construção do novo, mas a modernização do que é antigo e funciona mal, como o sistema ferroviário, com seus trens velhos que dão problemas com frequência.
Pensar e investir no sistema de transportes de uma forma integrada no Rio é promover qualidade de vida para a população. É fazer com que o Rio dê um passo à frente no longo caminho a ser trilhado para um desenvolvimento satisfatório.
AGOSTINHO GUERREIRO é presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-RJ).
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