NÓS FAZEMOS A DIFERENÇA NO MUNDO...

Nós fazemos a diferença no mundo
"Eu sou a minha cidade, e só eu posso mudá-la. Mesmo com o coração sem esperança, mesmo sem saber exatamente como dar o primeiro passo, mesmo achando que um esforço individual não serve para nada, preciso colocar mãos à obra. O caminho irá se mostrar por si mesmo, se eu vencer meus medos e aceitar um fato muito simples: cada um de nós faz uma grande diferença no mundo." (Paulo Coelho)

Na qualidade de Cidadão, afirmamos que deveríamos combater o analfabetismo político, com a mesma veemência que deveria ser combatido o analfabetismo oficioso no Brasil. Pois a politicagem ganha força por colocarmos poder de importantes decisões nas mãos de quem não se importa com o que irá decidir.
Concordo com Bertolt Brecht, quando afirma que: "O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos”. Ele não sabe o custo de vida, nem que o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato, saneamento, mobilidade urbana, e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. “Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce à prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”

domingo, 14 de agosto de 2011

O BRASIL DOS JESUÍTAS


Texto extraído do livro BRASIL: UMA HISTÓRIA cinco séculos de um país em construção de Eduardo Bueno. Edição 2010; páginas 51-55, editora LEYA.
Despojados ou argentários? Libertinos ou libertários? Santos ou santarrões?
Passados cinco séculos, o papel desempenhado pelos jesuítas no Brasil Colônia permanece imerso em controvérsia. De 1549, quando desembarcaram na Bahia, até 1759, quando, pelas artimanhas do marquês de Pombal, foram expulsos de Portugal e de suas colônias, os jesuítas se revelaram uma das forças mais ativas na conquista e na colonização do Brasil. Sem eles, a empresa colonial teria outros rumos e outros destinos — quais, é dificil supor. Julgar o conjunto da obra jesuítica à luz de conceitos atuais, porém, é incorrer num erro tão gritante quanto o dos próprios padres quinhentistas em sua pretensão de avaliar a mentalidade e os costumes indígenas de acordo com as crenças e os dogmas da Europa de fins do século XVI — uma época marcada pela intolerância religiosa, pelo etnocentrismo e, acima de tudo, pela Contrarreforma.
Desde o início, a polêmica esteve no âmago da ação jesuítica, já que, embora antagônicos em tese, catequese e colonialismo andaram sempre juntos. Os jesuítas lutaram contra a escravização dos indígenas, mas o plano de catequização que puseram em prática — e a consequente concentração dos índios em aldeamentos ou “missões” — não apenas resultou em tragédia, em razão dos graves surtos de doenças infecciosas, como facilitou a ação dos escravagistas. Os próprios jesuítas, o padre Nóbrega à frente, tinham escravos e acreditavam na doutrina aristotélica da servidão natural de povos “inferiores Para defender os nativos, estimularam o tráfico de africanos. Mas quando a paz que tinham firmado com os Tamoio foi rompida pelos portugueses, os padres nada fizeram.
Os jesuítas se empenharam em submeter os indígenas aos rigores do trabalho metódico, aos horários rígidos, ao latim e à monogamia. Combateram o canibalismo, a poligamia e o nomadismo — e, assim, acabaram sendo responsáveis pela desestruturação cultural que empurrou para a extinção inúmeras tribos. Por outro lado, foi graças à ação evangélica que a língua e a gramática tupi acabaram sendo registradas e preservadas.
Nada reflete melhor a dubiedade que marcou a obra dos jesuítas no Brasil do que a fundação de São Paulo. Disposto a catequizar os Guarani do Paraguai, o padre Nóbrega autorizou o estabelecimento de um posto avançado no planalto de Piratininga. Mas São Paulo logo acabaria se transformando em um polo escravista e dali os jesuítas logo foram expulsos. Nóbrega jamais recebeu autorização para enviar uma missão ao Paraguai, onde a obra de catequese seria concretizada pelos jesuítas espanhóis — e, a seguir, destroçada pelos bandeirantes paulistas instalados justamente na cidade que Nóbrega e Anchieta haviam fundado.
De todo modo, não restam dúvidas que, ao fim e ao cabo, o papel desempenhado pelos jesuítas no Brasil foi tremendamente conservador. Criada como uma espécie de “exército de Cristo” a Companhia de Jesus tornou-se o principal organismo da Contrarreforrna, sendo favorável à Inquisição e às normas restritivas ditadas pelo Concílio de Trento, lutando contra os avanços do humanismo renascentista, contra reflexões filosóficas e debates intelectuais — e contra os livros. No entanto, não fossem as cartas e os relatórios minuciosos daqueles padres — os jesuítas praticamente não davam um passo sem registrá-lo —, seria praticamente impossível reconstituir a história do Brasil Colônia.
INÁCIO DE LOYOLA
Soldado por herança e vocação, o espanhol Inácio de Loyola, nascido em 1491, na Espanha, abandonou a carreira das armas quando, convalescendo de um ferimento entre as pernas recebido na guerra entre Espanha e França, leu uma Vida de Cristo. Apesar de manco (e muito possivelmente impotente), tornou-se um peregrino incansável. Em 1539, depois de ter ido à Terra Santa e de ser duas vezes preso pela Inquisição, decidiu fundar a Companhia de Jesus. Estabeleceu um modelo militarizado para a ordem, que imaginou como um grupo de combate à Reforma Luterana: os soldados de Cristo, O Brasil tornou-se a primeira província além-mar da Companhia. Morto em 1557, Loyola foi canonizado em 1622.
A SEMENTE AMARGA DA CONTRARRE FORMA
No momento em que os primeiros jesuítas colocavam seus pés na Bahia, tanto Portugal como Espanha — e a Europa católica em geral — estavam vivendo um período de “fechamentos” políticos e ideológicos. Essa revolução “conservadora”, em andamento desde 1545, tem sido chamada por alguns historiadores portugueses de “grande viragem”. Ela se constitui basicamente no processo de gestação e implantação da Contrarreforma na Península Ibérica — e marca, de fato, uma guinada nos rumos da cultura e da educação não só em Portugal e na Espanha, mas em suas colônias do Novo Mundo.
Quase 30 anos se havia passado desde que Martinho Lutero pregara suas 97 Teses na porta da igreja de Wittenberg, em outubro de 1517. Três décadas de perplexidade e inquietude haviam abalado a Igreja Católica Apostólica Romana. A reação se iniciou no inverno de 1545, com a instalação do Concílio de Trento e o recrudescimento da Inquisição. E tão logo a “ortodoxia” do catolicismo se acentuou, qualquer atividade intelectual que buscasse novos ares e maiores liberdades individuais poderia ser vista (ou deliberadamente confundida) com a “heterodoxia” luterana — e duramente reprimida.
Poucos anos antes, no entanto, Portugal havia vivido uma espécie de “primavera renascentista”. De fato, entre 1530 e 1536, a tolerância cultural e religiosa proposta pelo filósofo Erasmo de Rotterdam encontrara eco no reino, e D. João III tinha mesmo aventado a possibilidade de levar o próprio Erasmo para lecionar na recém-fundada Universidade de Coimbra. A partir de 1545, porém, essa liberdade de pensamento começou a ser substituída pelo seu exato oposto: o fortalecimento da Inquisição, entre cujos objetivos estava reprimir os avanços e, conquistas do humanismo renascentista.
Entre os vários grupos que deflagraram esse processo de “fechamento” cultural estava a Companhia de Jesus — que então começava a se tornar cada vez mais influente nos destinos de Portugal. Graças à “grande viragem” e ao banimento de outras alternativas culturais, os jesuítas se transformariam, a partir de 1 546, numa das forças “políticas” mais atuantes no reino.
Depois de delatar à Inquisição virtualmente todos os humanistas ligados a Erasmo, os jesuítas passaram a controlar não apenas as universidades portuguesas mas também foram autorizados pelo rei (de quem eram os confessores) a estabelecer sua própria rede de escolas no reino. Mas os chamados Colégios de Jesus estavam presos a conceitos pedagógicos medievalistas e professavam a escolástica — uma doutrina então já retrógrada e conservadora. Seu currículo era rigidamente ortodoxo e, embora a escolástica fosse de base aristotélica, grego e hebraico eram vistos como línguas “suspeitas”, e os alunos se dedicavam quase exclusivamente ao latim.
Em pouco tempo todos os aspectos “culturais” da empresa colonial lusitana foram entregues aos jesuítas, encarregados também da conversão dos “gentios” na índia (e em toda a Ásia) e no Brasil. As colônias —especialmente o Brasil — se desenvolveriam sem livros, sem universidades, sem imprensa, sem debates nem inquietações culturais: em uma palavra, sem o frescor do humanismo renascentista. “A inteligência brasileira viria a constituir-se submetida à direção exclusiva da Conipanhia de Jesus, sob a égide da Contrarreforma e do Concílio de Trento”, como diagnosticou Wilson Martins.
“Esse desejo de perpetuar a ignorância (...) condicionaria as perspectivas mentais do Brasil por três séculos.”

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